2015/01/28

Redução da pirataria na Noruega não resulta em receitas para os artistas (nem se deve a medidas anti-pirataria)


As entidades de protecção dos direitos de autor têm perseguido a partilha de ficheiros na internet ao estilo de uma autêntica caça às bruxas, fechando os olhos a todas as outras alterações que o mundo tem sofrido. Agora, um estudo feito por uma dessas entidades na Noruega, vem revelar dados que poderão ajudar a mudar essa atitude.

Num inquérito feito na Noruega, em apenas 5 anos assistiu-se a uma brutal redução no nível dos downloads ilegais. Se em 2009 tínhamos 80% dos Noruegueses a admitir que faziam downloads ilegais, em 2014 esse valor baixou para uns escassos 4%. Tudo faria indicar que o "problema" estava resolvido... mas a verdade é que, nem por isso.


O "problema" é que esta drástica redução nos downloads ilegais não se traduziu num aumento de receitas para as editoras.

Talvez ainda mais importante, é que o próprio chefe desta entidade reconhece que esta redução não se deveu a qualquer medida de combate à pirataria, mas sim ao surgimento de novos serviços que facilitam o acesso aos conteúdos de forma simples e a preços acessíveis; referindo que 80% destes utilizadores recorre a serviços de streaming como forma principal de acesso à música.


... Que mais será necessário para que no resto do mundo também se chegue à conclusão que a solução para a pirataria não está nas ilusórias medidas repressivas, mas sim na disponibilização de serviços legais atractivos que a tornem irrelevante?

11 comentários:

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  2. Isto mostra bem que os bens digitais não podem ter proteção autoral como os bens físicos. Os bens digitais são inerentemente copiáveis e distribuíveis. Toda a barreira que se impõe é meramente artificial e temporária.
    Por isso os autores têm de começar a pensar que estão a providenciar um serviço, e assim cobrar para se manterem no ativo, e não através dos bens digitais que produzem (isto é, usar crowdfunding ou similar, estilo Patreon). E claro, continuar a obter receitas no "mundo real". Para os músicos isso será através de concertos e bens físicos (como vinil, CD, SACD, DVD-audio, merchandising, etc.).

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  3. a musica está disponivel online , os filmes também de igual forma , hoje não é preciso fazer downloads para ter acesso a isto . Ouve-se musica e ve-se filmes sem descarregar os ficheiros , será que os autores não viram isto? a unica forma de os autores ganharem dinheiro com isto era o utilizador/cliente do serviço da net pagar uma valor simbolico por tudo que ouve e vê na net . 0,50 cent/mês , mas também não estou a ver como chegaria o dinheiro aos autores.....

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    1. Fazendo o streaming, os ficheiros estão a ser descarregados na mesma, usando outro mecanismo. No entanto, essa solução que aponta na prática não funciona, mesmo que as editoras (e outros intermediários) deixassem de existir, porque seriam extremamente complexo espiar tudo o que se ouve e vê na net, classificar, e calcular um valor a dar aos autores ao fim do mês. É preferível o contrário: os fãs ajudarem monetariamente os autores diretamente na criação, em troca de bens físicos e/ou experiências exclusivos(as), e por sua vez a obra é disponibilizada gratuitamente em formato digital. Já há artistas a fazer isto um pouco por todo mundo.

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    2. Porque raio é que eu deveria pagar uma taxa na Internet para oferecer a mamões???

      Já vamos pagar isso sobre dispositivos de armazenamento e agora também sobre a Internet?? Não obrigado.

      Muitos parasitas têm é que rever as suas expectativas sobre crescimento exponencial de lucro e adaptar-se aos tempos.

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    3. Eu tenho net grátis não falta redes wifi , no meu prédio tem wifi grátis não estou preocupado com isso , quem deve estar é quem paga porque os operadores em Portugal praticam taxas absurdas e ninguém se queixa tb não adianta .

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  4. Acho interessante quando alguém se arvora no direito de dizer como outro deve reger sua vida profissional. Um artista PODE oferecer suas músicas para download e lucrar com concertos, mas ele não DEVE ser obrigado a isso. Faz-me muita confusão as pessoas aceitarem ser justo pagar por um álbum gravado em um CD (que custa €1,00 se vier com caixa) e não pelo mesmo álbum vendido por download, mesmo que esse último custe mais barato. Se a música gravada no CD não deve custar nada então vou à Worten e pago apenas o valor do CD em si, pois é físico, logo tem valor! Extrapolações à parte, concordo que falta um "Steam" na área da música, e se tal ocorresse teríamos resolvida essa questão de downloads ilegais, pois se a indústria de games (a maior no que toca ao entretenimento) consegue lidar bem com as vendas digitais, por que a música e o cinema não conseguem?

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    1. Os CDs e outros bens físicos têm valor, devido à sua tiragem limitada, e potencial de revenda e colecionismo. Os bens digitais são tecnicamente imutáveis, e passíveis de serem copiados indefinidamente.

      Eu não disse, nem tenho o direito de obrigar ninguém claro, apenas defendo que essa transição é inevitável (que aliás, já está lentamente em marcha), até porque, infelizmente, os autores já são obrigados a abdicar de muita coisa graças às editoras e muitos já perceberam que mais vale financiarem-se diretamente pelos fans para o trabalho seguinte.

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    2. Concordo inteiramente com sua ideia de que estamos em transição de para um modelo totalmente diferente de relação artista/público. Também concordo consigo que os bens digitais não "se perdem" fisicamente se forem partilhados, mas isso é uma forma que temos de mensurar as coisas baseadas na sua componente física. Em jogos como League of Legends ou Dota existem itens de jogo raros e limitados, que uma vez obtidos são coleccionados ou revendidos, logo entrariam na definição do que é um bem físico com valor!
      Na minha humilde opinião a questão é bem mais complexa do que medir o valor de algo por sua componente física. Ou, por outro lado, algo não ter valor por poder ser replicado sem aparente perda no processo. Na verdade o que estamos a pagar é a ideia, o trabalho existente por trás da sua execução e os gastos para sua publicação. Tenho certeza absoluta que em um mundo sem retribuição financeira adequada não haveriam maravilhas como The Last of Us, Kind of Blue ou Blade Runner.

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    3. Certo, mas os jogos com micro-transações usam precisamente essa busca pelo "exclusivo" e valor que existe no mundo físico para adicionar mais um elemento viciante e gastador de dinheiro. É apenas um algoritmo desenhado para incitar as pessoas não jogar sem comprar nada (uma das tais barreiras artificiais, usada de forma muito inteligente, uma vez que se o jogo fosse hackado de forma a replicar esses objetos raros, eles perderiam rapidamente o seu valor).


      No mundo digital, vale a pena precisamente pagar pela ideia e o trabalho que ela dá a executar porque felizmente os gastos com a publicação e redistribuição podem ser nulos para o autor. Por isso mesmo, é que eu acho que as pessoas em geral, e os artistas em particular, vão usar cada vez mais serviços como o Kickstarter, e principalmente o Patreon. Apesar de ainda não serem perfeitos são o passo na direção certa (e um pesadelo para as editoras). Tenho a certeza que muitos dos projetos artísticos bem sucedidos destes sites nunca seriam financiados por editoras hoje em dia, e isso já é uma vitória, porque no futuro se calhar vamos olhar para alguns deles como outros "The Last of Us, Kind of Blue ou Blade Runner".

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