2017/04/18

Google obrigada a "abrir" o Android na Rússia


A Google vai ser forçada a dar maior liberdade à forma como os parceiros utilizam o Android na Rússia, na sequência da queixa feita pelo Yandex, um dos maiores motores de pesquisa no país.

O Android é um sistema aberto, e que permite que qualquer pessoa o utilize e modifique como bem entender, mas isso é apenas uma das partes da história. Para quem quiser ter acesso oficial aos serviços da Google, as coisas tornam-se bastante mais complicadas, sendo necessário cumprir com um conjunto de requisitos obrigatórios impostos pela Google, que incluíam coisas como ter o Google como motor de pesquisa pré-definido, ter obrigatoriamente certas apps da Google, etc.

Foi algo que o Yandex (e não só) viu como sendo abuso de posição dominante, e os tribunais russos vieram dar-lhe razão. A Google chegou a acordo e vai pagar uma multa de 7.8 milhões de dólares mas, mais importante, será perder a capacidade de exigir como os seus parceiros utilizam ou pré-configuram os seus dispositivos Android.

Pelo menos na Rússia, a Google deixará de poder exigir que o Android venha com o Google como motor de pesquisa pré-definido, que tenha determinadas apps pré-instaladas, ou proibir a instalação de outras apps. (De certa forma, faz-nos lembrar os tempos em que a Microsoft foi obrigada a incluir um menu que permitia escolher um browser alternativo na Europa.)

Falta agora saber se esta mudança (forçada) de atitude da Google se irá expandir de forma voluntária a outros países... ou se isso só continuará a ser conseguido com recurso aos tribunais.

5 comentários:

  1. "Faz lembrar a escolha do browser" - em vez de vir apenas o IE, já instalado, o Windows passou a apresentar uma janela para se selecionar um browser - o que, entretanto, já acabou.

    Este acordo da Google com a Rússia sobre o Android vai bastante além:
    - A Google não pode exigir que inclua apps/serviços seus
    - A Google não pode impedir a instalação de apps/serviços da concorrência.
    Nada é dito sobre um terceiro aspecto:
    - A Google, no caso das alterações no Android concorrente serem de grande dimensão, pode impedir que sejam instalados alguns dos seus serviços essencias para o bom funcionamento do Android?
    É isso que faz no Android AOSP. Qualquer um pode vender smartphones com Android AOSP. Mas só pode instalar apps/serviços da Google se cumprir certos requisitos, i.é, se a Google autorizar.
    Resumindo - a Google no caso da Rússia, embora de forma mais mitigada, não manteve o controlo sobre a dimensão das alterações que os concorrentes podem fazer no Android?

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    1. ... não foi o que eu disse no artigo? :)

      "... mais importante, será perder a capacidade de exigir como os seus parceiros utilizam ou pré-configuram os seus dispositivos Android.

      Pelo menos na Rússia, a Google deixará de poder exigir que o Android venha com o Google como motor de pesquisa pré-definido, que tenha determinadas apps pré-instaladas, ou proibir a instalação de outras apps."

      O terceiro aspecto que referes é que está na origem de toda esta questão, pois sem acesso ao serviços da Google o fabricante já podia fazer o que quisesse com o Android - isto refere-se aos casos em que são parceiros que desejam ter o acesso aos serviços da Google, e que ficavam obrigados a seguir todas as exigências.

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    2. Pode ser que sim, pode ser que não. Está-me a custar a acreditar que no caso dos russos seja apenas chegar à Google:
      - Tenho um Android AOSP, preciso de licença para instalar os serviços Google e depois tiro os que quiser e ponho os que quizer - e não refile.

      Nota que o caso foi a tribunal e que a Google aceitou um acordo. Um tribunal por regra (se não decide a favor da defesa) decide a favor de quem demandou - a Yandex e não sei se mais alguém - mas não de todos os potenciais interessados mas que não foram parte no processo.
      A Google ao fazer o acordo foi com a Yandex (e mais alguém que fosse parte, se a houve) - e não com todos os fabricantes russos de Android AOSP, cheios de vontade, como todos outros, de ter um Android à sua medida.
      Vai uma aposta que nesse acordo estão lá às exigências da Google que refiro? De outro modo nem era preciso acordo - era só, passa para cá os serviços Google que eu quero e não refiles.

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    3. Não. Não esquecer que o caso se refere a quem tem acordo de parceria com a Google, sendo nesses casos que os visados consideravam as condições exigidas pela Google como sendo abusivas.

      Nada obriga (que eu saiba) que a Google aceite fazer o acordo de acesso aos seus serviços com "qualquer um" - mas naqueles em que fizer, na Rússia, não poderá fazer as exigências que pedia.

      Ou seja, certamente "abrirá" às portas aos parceiros com quem tem interesse em trabalhar (operadores, e outros gigantes da área na Rússia), mas certamente não o fará com outros... digo eu (mas posso estar errado.)

      Quanto ao acordo, pelo que interpreto, terá sido feito com a entidade reguladora russa anti-monopólio , e não com a Yandex directamente, embora a queixa tenha partido desta.

      Aliás, neste último link refere "the FAS Russia issued a prescription to Google in order to require the company to remove anti-competitive restrictions from its agreements with manufacturers", o que vai em linha com o que disse ali mais em cima, de que tudo isto se limite aos casos dos fabricantes/operadores com quem a Google tinha os acordos de parceria.

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    4. Reuters: "Google confirmed the deal [com a entidade reguladora russa (FAS Russa), aprovado por um tribunal arbitral russo] , saying it met the interests of all parties. It also said it had reached a commercial agreement with Yandex".

      Mais palmo, menos dedo - ou seja, saber se tudo se resume, na prática, ao Android GMS (com serviços Google) na Russia passar a facilitar a instalação do motor de busca do Yandex, uma coisa é certa: a Google continua, lá como em todo o lado, a controlar o Android GMS e o que os fabricantes e operadores possam fazer com ele - e que possa prejudicar os seus interesses comerciais (não se está afalar de segurança e outros "lirismos").

      E a FAS Russia reconhece isso, ao dizer sobre o acordo: "We managed to find a balance between the necessity to develop the Android ecosystem" leia-se, conforme a Google o entende, acrescentando para mostrar serviço "and interests of third-party developers for promoting their mobile applications and services on Android-based devices.

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