2017/09/13

Automóveis eléctricos vão dominar o mercado mais cedo do que se pensa?


Depois de décadas a ouvir promessas de que os carros eléctricos estavam a chegar, sem qualquer efeito prático, parece que agora estamos finalmente perante um momento de transformação - e que pode acontecer de forma mais rápida do que se imagina.

Lembro-me de, já no distante ano de 1999, se falar que a aposta nos carros eléctricos estava a ser feita em força... e que uma década depois continuava a não se ver nenhuma alteração no panorama automóvel (a não ser a grande aposta nos diesel teoricamente "mais limpos que nunca"). Mas agora arriscamos-nos a estar a entrar numa década em que essa transformação possa acontecer de forma equivalente à revolução causada pelos iPhones.

Há uma década atrás seria impensável que a Nokia não tivesse assegurada a sua permanência como líder no mercado dos smartphones "para sempre", ou que a BlackBerry tivesse que se preocupar com a sua liderança no sector empresarial. Mas um pequeno dispositivo, criado por uma empresa que nem sequer fabricava telemóveis veio mostrar que isso não passava de uma ilusão... e basta olhar para o estado em que estão hoje, dez anos passados.

Os fabricantes automóveis têm a vantagem de não estarem a ser tão arrogantes face a empresas como a Tesla, que também entraram no sector com o objectivo de o revolucionar - e o que é certo é que, depois de anos relegada para um nicho de mercado (os que podem pagar os preços dos Model S e X), o anúncio e chegada do Model 3 tem, sem qualquer dúvida, feito acelerar as coisas.

Muitos são os fabricantes que se apressam a dizer que já em 2020 todos os seus veículos serão eléctricos ou híbridos, e outros a dizerem que para 2030 já só terão veículos 100% eléctricos.

Isto faz imaginar que a meta de 2040 que alguns países têm definido para a proibição de vendas de veículos a combustão, poderá nem sequer chegar a ser necessária, pois o mercado evoluirá para veículos eléctricos muito antes disso. (E a avaliar pelo interesse das pessoas, tenho verificado que grande parte delas já nem equaciona que o seu próximo carro não seja 100% eléctrico.)

Por outro lado, é também necessário ter em conta que isto não fará com que os muitos milhões de veículos a combustão desaparecerão de um dia para ao outro, continuando a circular por muitas  décadas... mas muito seguramente contando com restrições crescentes quanto aos locais em que deixarão de poder circular (centros de cidades, etc.) Mas, parece-me inevitável que daqui por uma década, as conversas de que é difícil encontrar um posto de carregamento já se terão transformado em algo do género: "Mas tu ainda tens paciência para ir ao posto de gasolina abastecer? Eu carrego o carro em casa, no trabalho, no centro comercial, ou onde quer que pare..."

18 comentários:

  1. Mmmmmm..... Não sei se não fica muita variável por considerar nessa conclusão. Será que o preço da electricidade não irá disparar perante esse cenário? E para satisfazer as necessidades de tanto consumo de electricidade como farão? E o estado que deixa de ter as chorudas receitas dos impostos da venda de combustível? Não irão eles arranjar alternativa? E no trabalho? Teremos autorização da entidade patronal para carregar os nossos veículos suportando eles esse custo? E numa fábrica com dezenas de trabalhadores? Como carregar? Enfim,muitas outras perguntas se levantam que só no futuro obteremos resposta.

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    1. Actualmente já tens casos em que há excesso de produção de energia durante o dia (algo que só terá tendência a aumentar com mais parques solares, e "telhados solares")... pelo que o problema, actual e futuro, é mais no sentido de: onde guardar essa energia para quando é precisa.

      Nessa vertente, os carros eléctricos podem ser vistos como baterias sobre rodas, em que, estando ligados à rede, podem absorver essa energia durante o dia, e disponibilizá-la durante a noite (ou vice-versa, consoante as necessidades)...

      Que vai ser uma grande revolução isso vai (no sentido de acabar com a dependência dos combustíveis fósseis e toda a gigantesca que os suporta, exploração, transporte, refinação, distribuição, etc.)

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    2. Obviamente que vai fazer disparar o preço do kWh. Mesmo que as pessoas carreguem os carros durante a noite (quando há claramente "excesso de produção" em Portugal) a EDP vai continuar a cobrar cada vez mais.

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    3. A Tesla, principal responsável por esta revolução, está também a apostar em tornar as casas autossustentáveis em eletricidade.

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  2. 5800000 carros a circular em Portugal vezes 40kwh , capacidade das baterias (média) , da na casa de 210.000 MWh só para carregar estás baterias.... Não sei se fiz bem as contas e também não consegui,numa breve pesquisa, encontrar informações quanta energia elétrica se produz em Portugal por dia.

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    1. Isso seriam contas completamente exageradas, do estilo de assumires que esses 5.8 milhões de carros também vão encher o depósito todos os dias. :)

      Assumo que grande parte desses 5.8 milhões faça trajectos de poucas dezenas de quilómetros por dia, pelo que só teriam que carregar 10-20-30% da sua capacidade... E, como é certo e sabido, não é de um dia para o outro que se retiram os carros actuais da rua e se metem 5.8 milhões de carros eléctricos na rede - isto é algo que será gradual, ao longo de várias décadas, dando perfeitamente tempo para que a rede e produção se vá ajustando às necessidades.

      O único valor que encontrei foi o de consumo médio anual, que foi de 50000GWh em 2016.
      Mesmo que atirasses todos esses 5.8 milhões de carros, estaríamos a falar de mais 2300GWh... o que não me parece que seja um valor excessivo face ao consumo actual - e considerando que já o ano passado tivemos vários dias consecutivos apenas com fontes renováveis... não é descabido imaginar que facilmente esse aumento de consumo pudesse ser facilmente "digerido".

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  3. Ó Carlos, vai-me desculpar. Em relação ao que escreveu:

    "Mas tu ainda tens paciência para ir ao posto de gasolina abastecer? Eu carrego o carro em casa, no trabalho, no centro comercial, ou onde quer que pare..."

    O carregamento na bomba de gasolina leva poucos minutos. Ao passo que o carregamento de uma tomada - mesmo que seja "super charger" - leva horas. Eu pergunto-me como é que as pessoas terão paciência para os carregamentos eléctricos ? E como é que a pessoa carregará o carro no trabalho ? Estaciona ao lado da secretária ? Ou vai haver tomadas espalhadas pelas ruas ?
    Isto da electricidade automóvel é tudo uma fantasia que só funcionou há uns anos atrás para meia-dúzia de privilegiados que tiveram dinheiro (e subsídios a ajudar) para comprar "pópós a pilhas".

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    1. Para 99% das pessoas, bastará carregar uma vez por dia (ou nem tanto), o que poderá ser feito em casa.

      Por outro lado é muito - mas muito - mais fácil fazer chegar uma tomada a cada local de estacionamento (ou a número significativo deles)... Basta lembrar que a electricidade, ao contrário da gasolina/gasóleo, está em todo o lado.

      Achas assim tão descabido que empresas (e outros) se limitem a trocar os toldos nos parques por paineis solares, e oferecerem-se para carregar os carros dos clientes "de borla" enquanto vão às compras, ou os funcionarios trabalhem? Aos preços a que os paineis solares e baterias começam a ficar, não me parece difícil que aconteça...

      Mas certamente haveria quem dissesse o mesmo em relação à gasolina, quando os poucos privilegiados que tinham carro tinham que andar com a gasolina às costas por não haverem postos de abastecimento... :)

      É coisa que só poderemos analisar daqui por 10 ou 20 anos... Mas também se pode dar o caso que nessa altura as pessoas já achem que isso era "perfeitamente natural" - tal como hoje em dia acham natural gestos como o pinch to zoom ou slide to unlock nos smartphones... esquecendo-se que há uma década atrás a Nokia dominava o mundo, e o iPhone era algo que alguns ridicularizavam e condenavam ao insucesso...

      Nos carros electricos, o impacto será bem maior (a nivel ambiental) e indispensável... pelo que espero que venham a ter sucesso idêntico ao dos smartphones. :)

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  4. Ha pouco mais de 1 mes, portanto antes da abertura do quiosque do Corte Ingles, vi um Tesla no parque de estacionamento do Colombo ligado a uma tomada. Teria autorização ou não? Isso não sei.
    Mas basta pensarmos um pouco: numa normal ida às compras num centro comercial não gastamos menos de uma hora.
    Se formos ver um filme esse tempo sobre para, pelo menos, duas horas. Nesse tempo é possivel carregar o suficiente para os restantes gastos do dia.
    Fica (será que fica) por resolver a autonomia das grandes viagens. Um Tesla, mesmo carregado e com o ar condicionado ligado poderá fazer pelo menos 250 kms, se nao excedermos os limites de velocidade.
    Num "SuperCharger" poderá carregar 80% da capacidade maxima enquanto se toma um café e se desentorpecem as pernas.

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  5. Há dias vi a notícia que a China planeia a implementação total de veículos elétricos nas estradas chinesas.
    Isso fez-me pensar que a pressão sobre as marcas automóveis vai aumentar enormemente.

    Mas o que mais me fez pensar, foi a questão das baterias, pois antevejo um mercado global de produção-manutenção-substituição-reciclagem de baterias.
    As próprias baterias vão evoluir muito, com maiores capacidades de autonomia e menores tempos de carregamento.
    Já imaginaram a quantidade de fábricas e trabalho que isso vai dar?
    É o futuro da indústria, que não irá fugir desta ideia da energia elétrica (e eventualmente outras fontes de energia, como o hidrogénio).

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  6. Depende do preço do veiculo e das condições dadas aos utilizadores para poderem carregar o carro . Falar em carros electricos é fácil e que será o futuro mas quando e a que custo ? A realidade que existe é que um veiculo utilitário eléctrico custa apartir de 30000 eur exemplo Renault Zoe e um equivalente a gasolina custa metade . Com estes preços actuais este mercado dos eléctricos vai continuar como nicho de mercado.

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  7. Isto vai ser um tema quente nos próximos anos, ainda vamos também falar na correcta reciclagem das baterias para não se tornarem elas num problema ambiental.

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  8. Tenho um dos primeiros veículos elétricos a ser vendido em Portugal e continua a ter todas as peças e de origem (nas revisões não trocou nada) no mês passado foi à inspeção dos 6 anos e passou sem qq defeito. Em relação ao tempo que demora a carregar, na prática o que interessa é o tempo que disponho para esse fim que é cerca de 30 segundos por semana - que é o tempo que demoro a ligar a ficha a tomada quando o ponho a carga (cerca de 1 vez por semana) e depois só pago quando chegar a conta da eletricidade da casa. Se fosse a uma bomba de gasolina com um carro de combustão provavelmente iria de 3 em 3 semanas mas tinha de me deslocar lá, esperar a minha vez pagar e voltar (tinha que gastar combustível e tempo para ir abastecer) e ficava-me cerca de 4 ou 5x mais caro o custo por km percorrido.
    Além dos inconvenientes dos carros a combustão não tem comparação a condução de um carro elétrico. Carregar no acelerador de um carro a combustão é o mesmo que abrir uma torneira (barulhenta) que esbanja água pelo chão para fazer andar um barquinho de papel. Carregar no acelerador de um carro elétrico é como se o pé estivesse a empurrar diretamente nas nossas costas sem qualquer atraso inicial à espera de rotacões ou roncos.

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    1. Miguel Silva posso saber qual é o uso que dá ao carro? É que para uso que dou ao meu a combustão não dá para usar elétrico (limitados ). Tenho dias que sim,mas a maior parte dos dias nem pensar.... Para além dos preços praticados(muito caros),que até se percebe porque,por enquanto, o meu problema até não é capacidade das baterias,e mais o tempo de carga. Por exemplo: se o tempo de carga das baterias fosse de 5 minutos eu não tenho nenhum problema que autonomia do carro fosse de 250-300 km. Como gosto de fazer viagens de carro para fora das fronteiras (1500 e até 4000km) não é viável para mim,e espero bem que por enquanto,os carros elétricos atuais.
      P.s cerca de 3 semanas atrás falei com um importador BMW noutro país da Europa,e aquilo que ele me disse é que a marca alemã vê como futuro a troca das baterias nas bombas. Tipo já tás a ficar sem carga, entras numa bomba e trocas a tua bateria descarregada com outra carregada e pagas o carregamento...
      P.S2 axo que o futuro vai passar a ser carsharing... Alguém já experimentou o serviço da Hertz e BMW I3 em Lisboa?

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    2. Sim, o carro apenas faz cerca de 20km por dia e raramente sai de Lisboa, mas certamente muitos outros carros circulam em Lisboa nesta situação.
      Em relação a viagens longas apesar de nos termos habituado a essa comodidade, talvez o carro não seja a melhor opção em termos de sustentabilidade. O comboio tb é um veiculo eletrico, mas o Hyperloop deverá oferecer um misto de comboio com avião sem impacto ambiental ;)
      Eu tb gostava muito de fazer umas viagens por outros sistemas planetários, para conhecer outras culturas realmente diferentes. Aqui na terra tb se pode visitar muitos locais com o Street view no Google Maps sem sair de casa ;)

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  9. tudo muito bonito sim.. e matéria prima para tanta bateria? existe?

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  10. É curioso ver o a decorrer salão de Frankfurt. Todas mas mesmo todas as grandes novidades são eléctricas (com excepção do BMW série 8). Mercedes, BMW, Audi, Mini, Porsche, todas apresentam novidades nessa área.

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  11. https://www.engadget.com/amp/2017/09/14/daimler-fast-charging-storedot-investment/

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