2012/10/16
Os Bilhetes Digitais e as Memórias Esquecidas
A chegada do Passbook no iOS6, App que permite centralizar a utilização de bilhetes digitais, veio reavivar as discussões sobre esta tendência da substituição dos bilhetes "em papel" por versões digitais que podemos transportar nos nossos smartphones. A Apple não é a única interessada neste conceito, e antes dela já muitas outras empresas se aventuraram nestas áreas ou suas relacionadas - temos até a Portuguesa CardMobili, que bem se esforçou por nos libertar dos cartões físicos na carteira e substitui-los por versões igualmente digitais.
Também muitos passageiros já se terão rendido às vantagens dos bilhetes de avião electrónicos, que até permitem acelerar o processo de embarque e check-in; e pessoalmente, já nem me lembro da última vez que estive numa fila para comprar bilhetes para o cinema (desde que o mTicket ZON Vodafone se tornou o meu melhor amigo).
Esta é uma tendência que se irá tornar cada vez mais comum, mas que virá acompanhada de algumas mudanças que poderão entristecer algumas pessoas...
Não me refiro sequer à fraca autonomia dos smartphones actuais poder significar que ficam sem acesso ao bilhete digital no pior momentopossível; mas sim ao desaparecimento de um pedaço de papel que poderia servir de recordação para eventos que gostaríamos de imortalizar.
Sim, é possível tirar fotos e guardar vídeos (bens que hoje em dia são igualmente digitais e raramente convertidos para formatos "físicos"), mas... ficará destinado ao esquecimento aquele bilhete de comboio de uma viagem de férias com amigos; ou daquele concerto único e irrepetível que nos ficou gravado na memória; de um jogo de futebol que marcou uma geração; ou ainda uma colecção de bilhetes de cinema que servia de "cadastro" para o nosso historial cinematográfico.
Confesso, estou/estava enquadrado neste último caso: mantendo ainda muitas centenas de bilhetes, dos velhinhos cinemas tradicionais - como o Batalha, Coliseu, Águia D'Ouro, e tantos outros - onde escrevia religiosamente o nome do filme e o seu realizador; na altura não havia IMDB para poder ir pesquisar o nome do realizador do filme! :)
Mas confesso igualmente que perdi este hábito quando os cinemas dos shoppings tornaram obsoletos os cinemas antigos. Agora,os talões impressos que servem de bilhete nem sequer têm a durabilidade necessária (alguns ao final de poucas semanas já estão "apagados"); o que aliado às tais vantagens que o digital e a internet permite - de poder simplesmente ir ao IMDB ou outros sites, e marcar os filmes que vi - fazem com que tal deixe de ser necessário, como forma de manter um histórico.
A digitalização, que fez com que os discos de música, LPs e Singles dessem lugar aos CDs, e agora a meras versões digitais que habitam nos nossos computadores e smartphones - fazendo esquecer os tempos em que se manuseavam os discos, capas, e livros ou desfolháveis que continham - vai avançando e "roubando-nos" de cada vez mais objectos físicos, sob o signo da comodidade e facilidade extra.
Não há que temer a evolução, e também eu - como disse - muito aprecio o que os bilhetes digitais permitem. Mas não posso deixar de olhar com enorme nostalgia o desaparecimento de "registos físicos" que noutras épocas serviriam de memórias palpáveis. Isso é algo que sem dúvida irá ser sentido com saudade por muitos; e que as novas gerações se arriscarão a nem saber o que isso significa.
(Se actualmente os mais jovens ainda poderão estar habituados a ter as "caixas" dos seus jogos das consolas, em breve também esses jogos serão distribuidos digitalmente - muitos já o são - e farão também disso apenas uma distante memória do passado).
Eu sou dessas pessoas que gostam de guardar recordações de tudo. Tenho uma caixa de sapatos cheia de bilhetes de concertos, cinema, comboio, cartas e cartões, etc. e continuo a guardar, apesar de saber que alguns deles vão estar apagados pelo tempo em breve.
ResponderEliminar