Novas Condições da ZON passam a considerar "Consumo Habitual" do Cliente

Numa altura em que volta a estar em acesa discussão a questão dos "ilimitados" com limites dos operadores, a ZON decidiu alterar as condições gerais dos seus serviços, que entrarão em vigor a partir do dia 1 de Novembro (com os cliente a terem até ao dia 15 de Outubro para denunciar o contrato caso não estejam de acordo).

Pela maior parte, tratam-se de alterações sem grandes implicações e que pouco ou nada mudam relativamente ao que já estava em vigor, incluindo a descarada e obtusa cláusula do consumo excessivo poder originar pagamentos adicionais, sem que nunca seja referido o que é considerado um consumo excessivo (o que seria difícil de definir num tarifário "ilimitado") nem tão pouco a quanto se referem esse tais "pagamentos adicionais".

Mas o que achei mais curioso foi a introdução de uma cláusula aparentemente inocente que me parece ser um autêntico cavalo de tróia.


A cláusula em causa é a "introdução do critério de níveis de consumo habituais do Cliente".

Ora... o que isto faz antever é que a Zon passa a considerar consumo excessivo tudo aquilo que sair deste padrão "habitual". A ideia até seria boa se, em primeiro lugar, não estivessem a vender um serviço que é descrito inequivocamente como sendo ILIMITADO; e em segundo lugar, que é ilegal vender o mesmo serviço, ao mesmo preço, a pessoas diferentes com condições diferentes.

Ora vejamos... eu subscrevo um serviço ZON ilimitado e uso apenas 100MB por mês para ver o email; o meu vizinho passa os dias a sacar as últimas nightlies do Ubuntu, a fazer download dos vídeos Ultra HD que a tia gravou da família no lado de lá do oceano, e a aceder ao Netflix, gastando 500GB por mês. Ora... quer isto dizer que se eu decidir fazer o download de uns gigabytes "anormais" de dados... vou ser penalizado por isso? E se não vou ser, então o que justifica a introdução desta nova cláusula?

Chamando as coisas pelos nomes, todos sabemos que a maioria dos downloads não serão de distros Linux ou vídeos de família. Mas o que importa relembrar é que não se gastam gigabytes apenas em coisas "ilegais" - muito pelo contrário, cada vez se gastam mais gigabytes e terabytes em coisas legais!

Quero aproveitar umas promoções do Steam? Compro uma dúzia de jogos a preço de saldo cada um deles representando 5 ou mais gigabytes de downloads. Quero fazer backups para um dos muitos serviços de backups ilimitados na internet? Posso mandar terabytes de dados para lá - e que queira descarregar a qualquer altura; mesmo que seja de forma "não habitual" porque um dos discos resolveu avariar.

Há mil e um motivos para que este tipo de discriminação não faça qualquer sentido nem possa sequer ser tolerada.

Querem classificar os clientes por "habitualidades"? Muito bem... criem planos diferenciados - não se esquecendo de ajustar igualmente os preços! É que para muitos clientes, eu incluído, o preço que se paga é já exorbitantemente inflacionado considerando que nos impingem centenas de canais que não queremos ver apenas para se poder ter uma ligação internet decente.

Se querem ver espreitar o que é habitual ou não, vejam então o uso que eu (não) dou à box e aos canais de TV, e façam o favor de me descontar isso ao final de cada mês. Aí sim, estariam a dar um passo no bom sentido e a promover a utilização do "cabo/fibra" para aquilo que será inevitável no futuro.