2013/02/06

A (Re)Venda dos Bens Digitais



Em vez dos autores (ou melhor dizendo, de algumas associações que dizem representá-los) estarem a tentar criar guerras acerca da cópia privada, talvez não fosse pior olhar para o que tem estado a acontecer nos conteúdos digitais que vão sendo cada vez mais desejados pelos consumidores.




Longe vão os tempos em que o tamanho da nossa colecção de livros, filmes e música se media pelo número de LPs, cassetes, CDs e DVDs nas prateleiras. Hoje em dia, uma pequena caixa que passe despercebida a um canto, pode conter no seu interior terabytes de dados que antigamente ocupariam estantes inteiras. No entanto, nesses tempos, podíamos chegar a casa de um amigo e pedir-lhe um livro emprestado, ou um CD, ou um DVD. Podíamos até vender as coisas que já não nos interessavam... ou até dá-las a alguém.

O que mais me assusta, é saber que nesta actualidade dos bens digitais, as novas gerações arriscam-se a não saber o que isso é!

Ora tentem emprestar a um amigo o último jogo que compraram para o vosso iPhone ou Android; ou o filme que compraram e que ficou associado à vossa conta para que só toque nos vossos dispositivos.

Mais assustador ainda é saber que até no caso dos bens físicos se começam a atropelar esses direitos: fala-se que a nova Xbox irá ter um sistema para impedir que um jogo possa ser revendido ou emprestado; e já não seria o primeiro, pois vários jogos já implementam códigos de activação para que apenas o primeiro comprador possa ter acesso ao jogo.

Enfim... em vez de nos darem mais liberdade para tirarmos proveito das vantagens dos conteúdos digitais; fazem precisamente o oposto, trancando cada vez mais até os bens físico!


Chegamos até ao absurdo da Amazon patentear um sistema de empréstimo e revenda de conteúdos digitais usados... o que mostra bem a "mina de ouro" com que todos estão a contar graças a estas coisas.

Lamento informar estes senhores que todas estas medidas apenas servem para incentivar os legítimos (e ilegítimos) a que se sintam no direito de recorrer a todos os métodos possíveis e imaginários para fazerem aquilo para que acham ter legitimidade para tal - mesmo que legalmente não seja permitido.


Já em tempos sugeri que uma boa forma de comprar livros ou ver filmes sem gastar dinheiro passaria pelo agrupamento de pessoas em comunidades, e onde alguém que comprasse algo depois o revendesse por um preço 10% mais barato (por exemplo) a outro interessado - e assim sucessivamente; fazendo com que cada pessoa apenas tivesse que gastar uma fracção do custo total para ter acesso a algo. Era algo que os produtores e editores mereciam, e que os faria repensar no custo a que oferecem os seus produtos.

Alguns relatos de developers na app store demonstram que ter um preço elevado ou muito baixo resulta em lucros idênticos: um preço elevado tem menos compradores; um preço mais baixo rende menos mas tem mais compradores. Seria interessante que um dia destes, uma editora de topo lançasse um blockbuster a preço ridiculamente baixo: por exemplo, no caso dos jogos, vendendo-o a 5€ em vez de 50 ou 60€ como cá se faz. Seria assim tão difícil acreditar que continuaria a dar lucro e ser um mega-sucesso?

E no processo, acabar-se-ia com o problema das revendas em segunda-mão (quem é que iria preocupar-se em comprar algo em segunda mão quando o produto novo custa um preço irrisório?) e muita da pirataria.


... Infelizmente, esta parece ser uma realidade que continua a ser uma miragem incompreendida pelos "que mandam", e que acham que faz mais sentido proibir as vendas e empréstimos de coisas que nós compramos.

2 comentários:

  1. A figura do empréstimo ou da revenda a meu ver não tem lugar quando se fala de conteúdos digitais, e qualquer sistema criado para mimetizar esse mundo antigo nunca terá um grande sucesso.
    O que vai ter que suceder é que os preços dos bens digitais, que actualmente ainda andam muito em linha com os preços dos seus congéneres físicos (veja-se os casos dos livros e dos discos), os preços dos ben digitais, dizia, terão que baixar significativamente, de modo a que a questão do empréstimo na maioria das vezes nem se coloque.

    ResponderEliminar
  2. Ainda hoje li sobre um músico que disponibilizou temporariamente o download gratuito do seu álbum, junto com uma opção "pague o que quiser". Ele esperava que rendesse menos que o habitual, mas rendeu muito mais! Num só dia ganhou mais do dobro do que ganha normalmente num mês inteiro!
    http://www.techdirt.com/blog/casestudies/articles/20121025/03025620824/yet-another-musician-discovers-that-free-implemented-well-can-increase-fans-make-you-more-money.shtml

    Se fosse tudo assim já não havia necessidade de emprestar coisas. Mandava-se o link ao amigo e pronto. Se gostasse, pagava o que achasse justo.

    Outra alternativa (já a chegar na música) são os serviços de streaming suportados por publicidade. Já vi algures que o Spotify está para chegar a Portugal em breve.

    ResponderEliminar