2013/10/04

W3C aprova DRM para a Web


Não sei se alguma vez passaram pela frustrante experiência de num gravador digital, tentarem gravar um programa e surgir-vos a mensagem de que "a gravação não é permitida para este programa", ou tão somente quererem ver um filme HD que compraram num monitor que não suporta HDCP e descobrirem que não o podem fazer (a não ser, talvez, com menor qualidade em baixa definição). Os sistemas de protecção de conteúdos e direitos de autor (DRM) são sempre anunciados como sendo algo para o benefício dos consumidores... mas todos sabemos que a realidade é bem diferente; e o mais grave é que agora o caso volta a repetir-se, com inclusão de DRM no HTML5.



A web pode ser encarada por muitos como sendo um local completamente selvagem onde é difícil controlar o que quer que seja... mas os principais proponentes deste DRM para a web são - como habitualmente - aqueles que já preferem passar o tempo a perseguir "piratas" em vez de se preocuparem em se adaptar às novas realidades e disponibilizar os seus conteúdos tal como os consumidores desejam: MPAA, RIAA, estúdios de Hollywood, editoras discográficas, etc.

Com esta inclusão, não tenham ilusões que o que está para vir é apenas uma aberração completa de abusos e mais abusos destas tecnologias. Que vos parece visitar uma página web que não vos deixa ver o código fonte porque está protegido, ou imagens que não poderão copiar, ou javascript que não poderão gravar para o disco ou executar em modo offline, ou ainda tipos de letra que só poderão ser usados depois de validados num servidor central para garantir que têm permissões para os ver? É um cenário que poderá parecer exagerado... mas que só não é real hoje em dia porque não é possível fazê-lo na web actual (e olhem que algumas destas coisas já foram "pedidas", pelo que não se trata de inventar coisas só para meter medo).

É pena ver o World Wide Web Consortium (W3C) e Tim Berners-Lee embarcarem nesta submissão aos poderes instalados. Será assim tão difícil saber que quem está em total desvantagem são "os outros", e que é deles o interesse em usarem a web para chegarem aos clientes, e que isso deverá ser feito nos termos dos clientes e não ao contrário? Repetem-se os erros que são cometidos há mais de uma década, ignorando aquilo que todos sabem/deviam saber: que o DRM não funciona nem é benéfico nem para os consumidores nem para os artistas!

Claro que mais uma vez se vai tratar de um total desperdício de recursos e um esforço inglório... por cada "limitação" que criarem rapidamente surgirá um qualquer método para a contrariar - nem que sejam browsers "pirata" que ignorem por completo este DRM; algo que torna ainda mais caricato imaginar que alguém tenha esperança de que este tipo de coisa possa vir a ter qualquer hipótese de sucesso. E falando em futuro, não deixa de ser muito retrógrado pensar que as colecções de livros, cassetes de música e vídeo, discos de vinil, que os nossos pais acumularam ao longo da sua vida, poderão ser passadas aos filhos e serem usadas sem problemas (desde que ainda tenham um gira-discos/leitor de cassetes/leitor VHS) - agora, imaginem como serão as coisas daqui por 10 ou 20 anos... o que acontecerá quando quiserem deixar os vossos eBooks, apps, músicas e filmes que acumularam ao longo de uma vida (presos a uma conta de uma qualquer app store que poderá deixar de existir) aos vossos descendentes? Pensam que a coisa continuará a ser tão simples? Com evoluções como este DRM para o, até aqui livre, HTML... fico com sérias dúvidas.

2 comentários:

  1. Acabei de perder todo o meu respeito pelo W3C

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  2. Eu acho mt bem a medida, ao menos que seja standard o w3c está cá para fazer standards não para fazer política, a norma simplesmente dá a possibilidade de se usar DRM. Reparem que a MEO dá em "todos" os ecrâs? Não dá porque o DRM que usa não funciona em linux. Se a industria que usar DRM ao menos que use um que tenha norma aberta.

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