2024/08/29

Dependência das apps deixa automóveis em risco a longo prazo

Com a dependência em apps e serviços na cloud, um automóvel funcional hoje pode tornar-se num pisa-papéis daqui por uns anos.

Não faltam casos de jogos e serviços que desaparecem devido ao encerramento de empresas ou por decisão de que está na hora de desligar alguns servidores. Com os automóveis a tornarem-se, cada vez mais, computadores sobre rodas, esse é um risco que também se começa a aplicar a eles, e não é um risco virtual.

Na China, automóveis de fabricantes mais pequenos já estão a causar dores de cabeça aos seus donos, à medida que esses fabricantes encerram ou são comprados por outras empresas, deixando as suas apps em estado incerto. Mas isto não é exclusivo da China. Tivemos o recente exemplo da Fisker, que também entrou em processo de falência, deixando dúvidas sobre quanto mais tempo os seus clientes poderiam conduzir os seus automóveis.

Com as apps a serem elemento integral para o acesso e uso de muitas funcionalidades nos automóveis, a começar pelo acesso ao mesmo (para não falar das funcionalidades de partilha de chaves electrónicas para familiares; ou dos carros que ficaram "encravados" por entrarem numa garagem subterrânea e perderem a ligação à internet), facilmente se vê como as coisas podem rapidamente descambar se as mesmas deixarem de cumprir com as funções básicas, incluindo o carregamento nos automóveis eléctricos.
Hoje em dia, qualquer fã de automóveis pode ter um automóvel com 50, 60, ou 100 anos, e estar confiante de que o mesmo funcionará desde que tenha os devidos cuidados mecânicos. Mas duvido que o mesmo possa acontecer (facilmente) com quem quiser fazer o mesmo com os carros actuais daqui por 50, ou até mesmo 20 anos. Aliás, basta tentar encontrar e correr uma app do início da era da App Store ou Play Store, para rapidamente se descobrir que essas apps já desapareceram ou já nem funcionam num smartphone actual.

Talvez não fosse má ideia que, no processo de certificação dos novos automóveis, estivesse desde já contemplada essa questão da longevidade a longo prazo, exigindo garantias de que certas funcionalidades remotas dos automóveis e suas apps, tivessem que ser asseguradas durante um período mínimo, e também exigindo que as suas especificações ficassem abertas e disponíveis ao público em caso da empresa as abandonar ou encerrar. De outro modo, arriscamo-nos a que um destes dias se descubra que não se pode ir de carro trabalhar, porque a empresa encerrou ou o novo smartphone já não corre a app do automóvel.

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