2015/02/22

O risco de uma "idade das trevas" digital


"Quem quiser manter as suas fotos em segurança, fará melhor em imprimi-las quanto antes" - quem lança o alerta é Vincent Cerf, um dos pais da Internet, a respeito de podermos entrar numa nova idade das trevas agora em versão digital.

Para os que nasceram e cresceram num mundo "pré-digital", onde álbuns com fotos com cores deslavadas pelo tempo e livros com páginas amareladas eram comuns, a perspectiva de ter os dados em formato digital representa um enorme avanço. Mas é um avanço que não deixa de ter os seus riscos, riscos que preocupam Vincent Serf, considerado um dos pais da Internet, e que actualmente está no Google.

Ao longo da história fomos aprendendo com o passado graças aos registos que perduraram ao longo do tempo. Dos hieróglifos gravados nas pedras aos registos que sobreviveram em delicados pedaços de papel - e que muitas vezes já muito trabalho dão na sua descodificação - são esses os dados que nos permitem revisitar o passado. Mas como serão as coisas daqui por 100, 500 ou 1000 anos, quando olharem para os dados guardados neste século XXI?

Mesmo que se garanta que os dados digitais permanecerão intactos (e isso por si só já representa um enorme problema, pois discos, CDs, DVDs, e mesmo as memórias flash, eventualmente começam a ficar corrompidos) há o problema adicional da interpretação dos dados.

Muitos utilizadores já hoje poderão ter sentido dificuldades ao tentar abrir ficheiros que guardaram há uma década atrás, de programas que usavam na altura e entretanto poderão ter desaparecido sem que exista um "conversor" para formatos mais recentes. Multiplique-se isso por umas centenas de anos, e o mesmo acontecerá inevitavelmente com todo o tipo de formatos que hoje consideramos "normais".

O que fará alguém no 3015 ao olhar para um registo repleto de PDFs, JPEGs e outros ficheiros que tais... isto assumindo que consegue chegar até eles, pois os próprios sistemas de ficheiros que permitem aceder a esses nomes ter-se-ão igualmente tornado esquecidos e obsoletos.

Não digo que a solução perfeita seja a impressão de todas as fotografias que tivermos (pois duvido que também elas resistissem a mil anos de passagem do tempo)... mas é sem dúvida uma questão importante a considerar para quem se preocupa com o registo histórico que se irá deixar para a posteridade.


1 comentário:

  1. Este problema já acontece de forma mais simples hoje em dia. Poucas são as pessoas que sabem fazer backups dos seus bens digitais. Quem é que se importa o suficiente para ter 3 cópias das suas coisas em casa?
    Mais, muita gente usa o Facebook e a Cloud como backup, o que significa que a curto prazo as pessoas vão ficar com uma visão muito redutora do que é que são os seus bens digitais (para não falar da privacidade, claro).
    Estes conceitos deviam ser ensinados nas escolas: da mesma maneira que as crianças aprendem a ler, deviam aprender a cuidar dos seus bens digitais. Só assim é que nos preparamos para uma sociedade digital, sem perder direitos.

    Infelizmente, ninguém quer saber, e prefere estar dependente de empresas e serviços que não seriam necessários se as pessoas soubessem um pouco mais de como os computadores funcionam.

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