2017/06/29

À conversa com Tiago Palhoto


A FCA deu-nos a oportunidade de conversar um pouco com alguns dos seus autores, e desta vez o escolhido para a rubrica "À conversa com" foi Tiago Palhoto, autor do livro Desenvolvimento Ágil de Software.

Comecemos por um pergunta simples: a quem se destina o seu novo livro “Desenvolvimento Ágil de Software”?

Acima de tudo, este livro foi pensado em todos aqueles que, de alguma forma, estão envolvidos num projeto de desenvolvimento de software e que pretendem saber, de forma prática, como levar o mesmo a bom porto tendo por base os valores e princípios ágeis. Neles se incluem profissionais de IT, estudantes, professores, etc.

Uma das principais razões de insucesso de projectos de software está relacionada com a inexistência ou incorrecta aplicação de uma metodologia de desenvolvimento. Considera que os gestores continuam a encarar a adopção de uma metodologia como um "custo sem retorno de investimento"?

Não tenho grandes dúvidas que hoje em dia praticamente todas as organizações sabem que têm de adotar uma metodologia para desenvolver os seus projetos. No entanto, parece-me que continua a ser uma prática comum assumir que bastam as equipas lerem um pouco sobre a metodologia a aplicar e tudo vai funcionar às mil maravilhas. E é precisamente aqui que surgem os problemas. As organizações não conseguem assumir a figura de um “orientador" (ScrumMaster, no caso do Scrum, por exemplo), cuja responsabilidade é assegurar que a metodologia é aplicada de forma adequada ao longo do projeto, justificando que o cliente não quer pagar esse custo extra. Esta ideia de custo extra é um erro tremendo. Já imaginou o que seria uma orquestra sem o seu maestro? Ou uma equipa num desporto coletivo sem o seu treinador?

Em que consiste esta nova metodologia que propõe no seu livro?

Existe hoje em dia muita informação sobre técnicas, métodos, processos, artefactos, etc. No entanto, é raro encontrar informação que nos mostre como juntar todos estes elementos. É precisamente aqui que aparece a metodologia descrita no livro. Com base em técnicas, métodos, processos, todos eles fundamentados nos valores e princípios ágeis, procuro uni-los de forma sólida, simples e eficaz para poderem ser utilizados e integrados, e contribuir decisivamente para o sucesso dos projetos onde é aplicada.

Em que aspectos a abordagem iterativa difere das restantes abordagens?

Creio que a principal “mensagem” é que esta é uma metodologia que foi “personalizada” e que não existem metodologias perfeitas para todos os tipos de projetos. É importante que as organizações tenham este aspeto em conta ANTES de começarem a aplicar uma metodologia.

No caso da metodologia que descrevo no livro, ela representa algo que, no seu “core” tem funcionado muito bem ao longo dos anos, tendo, naturalmente, sofrido alguns ajustes, fruto da evolução do mercado e, naturalmente, do meu próprio processo de constante aprendizagem.

Ao longo do seu livro refere que um dos pilares da metodologia é o estabelecimento de uma relação de confiança com o cliente, em que exista maior proximidade e comunicação e confiança entre ambas as partes. Qual será então a melhor periodicidade para reunir/falar com os clientes?

A confiança e a periodicidade para reunir/falar com os clientes estão diretamente relacionadas. Sem a confiança do cliente o projeto está condenado ao fracasso. Mas é precisamente através do contacto com o cliente que se consegue conquistar a sua confiança.

Mais importante do que a periodicidade (definida de acordo com o contexto de cada projeto) é preciso garantir que as mensagens são honestas e que o cliente está sempre a par do que se está a passar. Se assim for, além da sua confiança, vamos também conquistar o seu empenho total, algo igualmente fundamental para o sucesso do projeto.

Na sua opinião, e pelo conhecimento que tem do mercado, existem muitas empresas a adoptar esta abordagem? 

Tenho estado um pouco afastado do mercado português nos últimos anos. No entanto, conheço algumas empresas que o fazem. A Outsystems, por exemplo, fruto da plataforma que possui, tem uma abordagem que assenta nos princípios e valores ágeis. Este é o caso de uma grande empresa, naturalmente. Conheço também pequenas empresas como a DO IT LEAN que se baseia no pensamento Lean e Agile na forma como trabalham.

Creio que há ainda um longo caminho a percorrer. No entanto, é notório que a comunidade ágil está a crescer em Portugal.

A implementação de uma nova metodologia de trabalho irá significar uma mudança profunda no comportamento de uma equipa. Concorda que se trata de um esforço conjunto de toda a hierarquia?

Sem dúvida alguma! Mais do que a metodologia, trata-se de uma forma de pensar totalmente diferente, focada na constante interação com o cliente, no espírito de equipa, de colaboração e, claro, na total honestidade de comunicação.

Há várias correntes quanto à melhor forma de introduzir esta alteração numa organização. Será top-down ou bottom-up? Eu sou um acérrimo defensor da segunda! Se é verdade que é necessário algum buy-in por parte da hierarquia para começar um projeto com esta abordagem, a verdade é que se estes valores não forem “absorvidos” pelas equipas que estão no terreno, então, por muito que a hierarquia queira, a transformação não vai funcionar.

E é tudo, o nosso obrigado ao Tiago pelo tempo dispensado, e ficamos aguardar pelos seus próximos livros. :)

Tiago Palhoto
Licenciado em Informática de Gestão pelo Instituto Superior de Gestão, é certificado pela IBM como especialista em RUP e implementação de sistemas com base em casos de uso. Certificado pela Scrum Alliance como scrum master e product owner. Especialista em definição, customização e aplicação de metodologias de desenvolvimento ágil de software. Tem mais de 15 anos de experiência em empresas nacionais e internacionais, nomeadamente no seio das instituições europeias, onde exerce funções de consultor especializado nas áreas de gestão de projetos e de definição e implementação de metodologias de desenvolvimento, bem como na avaliação e aconselhamento das ferramentas de suporte mais adequadas.



Para quem chegou até aqui, temos uma surpresa. Temos para oferecer dois exemplares de Desenvolvimento Ágil de Software disponibilizados pela FCA; e para te habilitares a ganhar um deles só tens que participar preenchendo o seguinte formulário:


Passatempo encerrado  - os vencedores foram:
  • Daniel Santos
  • Luís Ribeiro 
Fica atento aos próximos passatempos.

2 comentários:

  1. ai esse keming... eu de relance li desenvolvimento à gil depois é que vi que era desenvolvimento ágil :|

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    1. O kerning não é meu... é do tipo de letra. :)

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