Ainda me lembro perfeitamente de que falar de vídeo "na internet" era algo sinónimo de pequenas janelas, pouco maiores (ou até mesmo menores) que a resolução dos icons que temos actualmente, com imagens altamente pixelizadas. Alturas em que coisas como o YouTube pareciam um sonho megalómano sem futuro, já que muitos diziam ser "impraticável" a distribuição de vídeo através da Internet, quanto mais de vídeos com qualidade decente ou em alta-definição.
Bem... todos sabemos o quanto essas previsões estavam erradas, mas hoje vamos abordar a questão dos bitrates dos vídeos - ou seja, o espaço que eles ocupam.
Já aqui falamos dos sistemas de compressão de imagens estáticas (e de quando usar JPEGs, PNGs, etc.), e no caso dos vídeos, a coisa funciona de forma idêntica: isto é... para facilitar a distribuição e transmissão de vídeo em formato digital, temos também que recorrer a sistemas de compressão que descartam partes da informação para reduzir o tamanho. Só que aqui, estamos perante sistemas ainda mais complexos, que para além de analisarem cada imagem por si só, também têm em consideração os frames anteriores e seguintes. Assim, no caso de um qualquer objecto que se esteja a mover na imagem, o sistema de compressão pode guardar a apenas a informação de que neste frame se pode desenhar o mesmo objecto do frame anterior, mas numa posição ligeiramente diferente.
Ora vamos a contas...
No caso de vídeo FullHD (1920x1080 pixeis, com 24 bits de cor) a 30 fps, cada frame - sem compressão - ocupará algo como:
- 1920 x 1080 x 24 bits = 49,766,400 bits = 6,220,800 bytes = 5.93 Megabytes (aproximadamente)
Claro que, como estamos a falar de vídeo, e sendo istoo espaço de apenas um frame, se falarmos de 1h de vídeo estaremos perante:
- 5.93 MB x 30 fps x 1h = 177.9 MB/s x 1h = 640,440 MB/h = 625 Gigabytes/hora!
Rapidamente se vê que até que as nossas ligações permitam receber quase 180MBytes/segundo... é melhor não pensarem sequer na ideia de receber vídeo FullHD não comprimido.
Mas então, qual o efeito que a compressão e os codecs têm nesta imensa quantidade de dados?
Espreitando os discos bluray, vemos que a maioria dos filmes em alta-definição conseguem ser esprimidos para tamanhos de 20-40GB (para filmes de cerca de 2h). Uma diferença substancial face aos 625GB/h que tinhamos calculado ali em cima. E, recorrendo à magia de uma compressão um pouco mais agressiva... não é incomum passarem-se esses valores para menos de metade, muitas vezes ainda sem grandes diferenças perceptíveis na qualidade de imagem.
Claro que se começarem a cortar demasiado no bitrate, começarão a notar efeitos da compressão:
No caso do bitrate inferior, o "pano de fundo" perde definição e começa a apresentar um aspecto pixelizado e aos blocos. (E isso é algo que facilmente se pode notar também nalguns canais de certos operadores, que na ânsia de pouparem largura de banda, aumentam a compressão ao ponto de afectar visivelmente a qualidade)
Mas, se para uso doméstico bitrates de filmes FullHD na ordem dos 1-2MB/s são suficientes (cerca de 7GB/hora), para uso profissional as coisas são um pouco mais exigentes:
Como se pode ver por esta tabela (agradeço ao Luis Paulo da Mog pela disponibilidade), no caso de vídeo Full HD em ambientes profissionais, estamos a falar de bitrates que andam entre os 50 e os 100GB/hora - cerca do dobro do que encontrarão num filme de formato bluray.
Uma coisa que me deixa bastante curioso - e que agora volta a ser assunto de conversa - é que agora que passamos ao vídeo digital, e não há a desculpa de se gastar "película", era mais que tempo de no cinema (e também na TV) se passar a usar um framerate mais elevado. A minha curiosidade tem a ver com o facto de, quando se passa a ter vídeo a 60, 100 ou até mesmo 120fps, o espaço que será ocupado não será directamente proporcional ao vídeo a 30fps - já que as diferenças entre cada frame serão também menores. (Levado ao exagero, se tivessem um filme a 10000 fps, as diferenças entre cada frame seriam tão diminutas, que praticamente poderiam ser reduzidas a zero!)
Um filme como o The Hobbit, que veio estrear os filmes a 48fps nas nossas salas de cinema, ocupa algo como 500GB (e neste caso estamos perante um filme em 3D, e a resolução que será no mínimo de 2K ou 4K). Vai ser interessante ver se teremos direito a uma versão bluray em 48fps, e comparar o seu bitrate com a versão normal - e talvez daqui para a frente se comece a aceitar o framerate como sendo tão variável como o bitrate - com filmes a serem filmados a 24, 48, 60, 100, ou 120fps - ou até com framerates que variam ao longo de um filme, em função das necessidades das cenas.
O framerate variavel ao longo do filme é interessante :) porque na realidade nas cenas com mais movimento é preciso mais bitrate e também ficam com movimentos mais suaves com mais imagens por segundo, mas em cenas mais paradas as 24imagens por segundo chegam perfeitamente... mas talvez se tudo estiver tudo com framerate alto os algoritmos de compressão também podem poupar bitrate quando varios frames consecutivos são semelhantes.
ResponderEliminarMas existe um problema com framerates altos que é a sensibilidade à luz também reduz pois o tempo de exposição é menor e pode ser mais complicado filmar sem ruido em ambiantes mais escuros...
A Lumix LX7 (compacta) já consegue fazer 1080p/60 ou 720p/120 e tem uma lente F1.4 que ajuda muito com pouca luz.
Mais que 50 fps torna-se imperceptível, e 30 é mais que suficiente para imagens rápidas, o uso de mais fps só serve para slow motion.
ResponderEliminarHá uma difernça grande entre a percepção consciente e a percepção de facto. Na verdade não há ninguém que consiga distinguir de modo consciente mais do que 50 ou 60 fps, mas a sensação de imersão e de realidade é muito maior numa imagem a 120fps do que a 60, por exemplo. Isto funciona assim porque a nossa percepção sobre a naturalidade de imagem continua a aumentar para lá das 60fps, ainda que os nossos olhos/cérebro não o consigam testemunhar de forma analítica e consciente.
ResponderEliminarQuantos bits tem um grande em vídeo?
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