2012/02/08

Somos todos "Partilhadores"


Para as SPA que dizem que os consumidores nem criam assim tantos conteúdos; para os operadores que insistem em ter planos de dados mobile que nem permitem que se possa usufruir por mais que umas horas às velocidades máximas anunciadas que nos vendem (e que raramente são cumpridas); eis mais um indicador do que se passa na sociedade actual e que deveriam ser considerados: durante o último Super Bowl norte-americano, realizaram-se mais uploads no estádio do que downloads.

A tecnologia actual permite que se possa partilhar em tempo real tudo aquilo a que assistimos; e isso vai permitindo que sejam as pessoas "comuns" a documentar cada vez mais acontecimentos (lembram-se da primeira foto do avião que aterrou no rio Hudson?) num fluxo infindável de informação que faz com que, por exemplo, no YouTube, sejam mais os uploads por minuto do que aquilo que se possa ver por dia...

Não quero igualar o acto de filmar algo ao trabalho de um "autor" - quando muito seria mais apropriado o termo "repórter" - mas pelo menos faz-nos relembrar algo que por vezes é esquecido: o desejo de partilhar. Partilhar aquilo que vemos, que experimentamos, que sentimos. Uma partilha que nesta época digital, em vez de ser promovida, é tantas vezes perseguida - e de forma mais violenta que roubos e crimes físicos.

Chegamos a pontos tão ridículos em que nem uma fotografia de um espaço público pode ser tirada sem que se esteja sujeito a ser interpelado:


E onde a "mania" dos direitos de autor é tão promovida que chega ao ponto de se tornar contra-producente...

Pergunto-me se perante tal defesa acérrima e cega dos direitos de autor, com medidas irrealistas e irracionais, não se corre o risco de dessensibilizar a população ao ponto de - no final - o "tiro sair pela culatra" e em vez de se taxar tudo e todos... não se acabará por lutar por medidas igualmente radicais mas em sentido oposto: como a abolição total dos direitos de autor.

Seria assim tão descabido?... Deixar que a sociedade e o mercado se auto-regulassem? Sabendo-se que há desejo dos consumidores em terem acesso a conteúdos; mas que um autor apenas também pode sobreviver se houver quem esteja disposto a pagar pelas suas obras... independentemente de haverem dez, cem, ou um milhão de pessoas a partilharem gratuitamente os seus trabalhos.

Deixo a pergunta no ar...

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