Porque ficamos com as pernas e braços dormentes?

O Pedro Cabido tem andado ocupado, mas mesmo assim não resistiu a partilhar connosco mais uma das suas interessantes curiosidades.

Muito provavelmente já passaram pela situação de se levantarem-se de uma cadeira e sentirem a perna dormente, ou acordarem e não sentirem um dos vossos braços. Certamente já saberão que isto acontece devido à interrupção da circulação sanguínea ao membro que fica dormente, devido à forma como estão posicionados.

Mas realmente o que acontece para criar aquela estranha sensação de "formigueiro"?

Quando se aplica pressão sobre uma parte do corpo durante algum tempo a comunicação entre o cérebro e essa parte do corpo é cortada. Essa pressão comprime as vias nervosas de tal forma que elas deixam de poder transmitir impulsos nervosos para o cérebro. Os nervos são responsáveis por transmitir informação do corpo para o cérebro e vice-versa, se essa ligação for interrompida, o cérebro deixa de sentir essa parte e logo não saberá o que fazer com ela.
Por outro lado, a pressão comprime também as próprias artérias, interrompendo a capacidade de transportar nutrientes para o corpo e as células nervosas começam a ter um comportamento anormal, o que interfere na comunicação das sensações do corpo.

Por causa destes dois factores, a informação transmitida para o cérebro pode ser totalmente ou parcialmente cortada. Esta transmissão irregular da informação faz-nos sentir o tal formigueiro que acontece nestas alturas. Este formigueiro apesar de desconfortável tem a importantíssima função de nos avisar de que algum dos fenómenos descritos está a acontecer. Desta forma poderemos corrigir a nossa posição antes da situação poder causar danos. Ficar com um membro dormente durante dez minutos não terá qualquer impacto significativo na saúde do mesmo, mas se estivermos a falar de uma dormência durante períodos muito mais prolongados... as coisas poderão ficar mais complicadas.

Depois de corrigirmos a nossa posição, os impulsos nervosos recomeçam a fluir novamente. No entanto a retoma da sensibilidade não é imediata. Isto acontece pois há um certo tempo de reajustamento dos nervos para que possam voltar à transmissão de sensações. Normalmente esta fase é acompanhada de uma sensação de formigueiro bem mais intensa, mas aos poucos a sensibilidade vai sendo restabelecida e tudo volta ao normal.

Numa máquina dependente de sensores, se a ligação desses sensores for cortada, é necessário irmos lá repará-la. Incrivelmente, o corpo humano tem as suas próprias ferramentas que o fazem prevenir-se contra este tipo de situações. A complexidade desta nossa "máquina" é de tal maneira que as coisas que parecem mais banais (ficarmos com as pernas dormentes) envolvem comportamentos muito complexos mas realizados de forma inconsciente que nos fazem nem se quer pensar no assunto.

Isto sim, é um verdadeiro sistema de alerta e auto-reparação "multitasking"! :)

[por Pedro Cabido]