Rescaldo da apresentação dos iPhone 6 e Apple Watch

A Apple já revelou os seus iPhone 6 e Apple Watch, e como é habitual há muito para digerir (para não falar na habitual torrente de críticas/louvores, dependendo do grupo que se ouvir). Mas vamos lá então tentar resumir o que de bom e mau se ficou a conhecer sobre os novos produtos da Apple.

O iPhone 6 e 6 Plus

Os novos iPhone 6 e 6 Plus têm o design que já se esperava em virtude dos leaks que se foram amontoando nos últimos tempos. Não é um design supreendente, limitando-se a ser uma evolução do design que já conhecíamos do último iPod Touch (incluindo a câmara saliente). Mas penso que será errado "falarem mal" dele logo à partida, pois o iPod Touch é um equipamento que impressiona quando se pega fisicamente nele, e com estes iPhone 6/6 Plus a terem também o vidro frontal com as margens arredondadas, penso que o "feeling" destes iPhones irá surpreender pela positiva, e contrastar com as bordas angulares da geração anterior. (Ainda assim, continuo a achar que o iPhone 5/5S tem um design mais feliz, mas independentemente disso, depressa passará a ser considerado o "iPhone velho".)

Quanto ao tamanho "gigante" que vai contra tudo aquilo que a Apple anteriormente dizia quanto aos tamanhos ideais (incluindo quando esticou o iPhone do 4S para o 5, dizendo que só o fazia num sentido para não prejudicar a usabilidade), a Apple simplesmente se faz de esquecida e apresenta um modo "reachability" em que tocando duas vezes no home button (não clicando), o ecrã se chega para baixo de modo a que o topo fique ao alcance do polegar.

É uma técnica que já vários outros fabricantes usam, com modos especiais para utilização com uma só mão... mas que só na prática se poderá ver se é realmente prático e útil, ou se não passou de algo usado para tentar silenciar quem criticar a (falta de) usabilidade nestes novos iPhones.


Também de criticar o facto da Apple ter aumentado a resolução no iPhone 6 de 1136x640 para uns ridículos 1334x750; o valor mínimo indispensável para manter os mesmos 326ppi (já curtos) do iPhone 5s, e que causarão trabalheira adicional aos developers para criarem interfaces para (mais) uma resolução não standard.

Teria sido a oportunidade ideal para finamente entrarem nas resoluções standard, como acontece com o iPhone 6 Plus (1920x1080 - 401ppi) - sendo que, em último caso, teria sido preferível manterem a resolução actual do iPhone 5s, mesmo à custa de baixarem ligeiramente os ppi, do que aumentarem estas dezenas de pixeis "só porque sim". (Fico com a sensação de que esta resolução do iPhone 6 poderá ser uma resolução de "transição", e que no próximo ano passe a usar igualmente o Full HD... especialmente quando as pessoas começarem a aperceber-se que realmente os 326pp já deixam a desejar...)

[Inevitavelmente, as comparações cómicas do novo modelo com os Android]

... Sinceramente parece-me terem perdido uma excelente oportunidade para "encarreirarem" as resoluções e adoptarem o Full HD como standard - e já nem pedia que se aventurassem nos exageros dos 2560x1440... bonitos, mas dispensáveis.


O Apple Pay

O sistema de pagamentos Apple Pay parece-me ter sido bem conseguido. Uns dirão que há anos que os seus Androids (e Windows Phones) têm NFC... mas a questão que se coloca é: quantas vezes é que os usaram para pagar algo numa loja? Há muito que eu dizia que o problema não estava no NFC ou na falta dele, pois é apenas um meio de comunicação como o poderia ser o bluetooth, WiFi, ou qualquer outro. O que falta realmente é um "sistema" que esteja por trás e sirva de plataforma de pagamentos, e foi precisamente isso que a Apple fez, passando a poder ser usado desde já em mais de 200 mil lojas e cadeias populares nos EUA (e esperemos que o resto do mundo não demore muito).

Esperemos que este Apple Pay sirva para que o Google volte a apostar no Google Wallet e faça algo idêntico; sendo que o sonho de que todos os "grandes" acordassem num sistema standard de pagamentos me parece ser algo cada vez mais distante da realidade... Para o utilizador o que interessa é poder carregar os seus cartões no smartphone e poder usá-lo para pagar, sem ter que se preocupar se tem um Android ou iOS ou Windows Phone ou qualquer outra coisa.


O Apple Watch

O Apple Watch também tem recebido uma overdose de críticas, mas penso que muitos dos seus detractores não poderão deixar de reconhecer que o mesmo "é diferente" assim que tiverem oportunidade de pegar num ao vivo. Como sempre, a Apple não deixa de adicionar alguns detalhes que são engraçados e servem para se diferenciar da concorrência, como as mensagens desenhadas no ecrã, ou até a simples partilha do bater do coração. São coisas que poderão parecer ridículas, mas também um tal serviço de SMS o era quando foi lançado (mensagens de 160 caracteres, que interesse tem isso?) e veja-se no que resultou.

Também esteve bem no tratamento dado ao Watch enquanto acessório de moda. O Apple Watch tem que agradar a milhões de pessoas em milhões de situações diferentes. Para isso surge em dois tamanhos (1.5 e 1.65"), três colecções (incluindo uma em ouro), e seis estilos diferentes de braceletes. O sistema de troca rápida de braceletes é um autêntico "ovo de Colombo" que certamente será replicado em breve por muitos outros fabricantes, ao estilo das smartcovers magnéticas que estreou no iPad.


Pelo lado negativo, embora o Watch venha com um carregador wireless com encaixe magnético cheio de estilo, houve um pormenor que não terá passado despercebido: depois de terem gabado a autonomia alargada dos novos iPhones, não foi indicado qualquer valor concreto para a autonomia deste Apple Watch, sendo apenas dito que seria para "carregar todas as noites". Ou seja... não será por aí que o Watch se irá diferenciar da concorrência. Se fosse, a Apple faria questão de frisar bem isso, e o facto de não o ter feito aconselha bastante cautela...

Considerando que os outros fabricantes também têm apostado em smartwatches de qualidade - o Moto 360 continua a ser um modelo apetecível, mesmo com a Motorola a ter inexplicavelmente e desnecessariamente optado por um SoC de 2010, que era escusado; e a o próximo LG G Watch R também parece estar muito bem conseguido - e a preços mais reduzidos... vamos ver até que ponto o factor "fashion/Apple" irá fazer com que este Watch seja - ou não - um sucesso. Isto sem esquecer que ainda está a meses de chegar ao mercado, tempo que nesta indústria é suficiente para que muita coisa aconteça, e garanta que quando chegar às lojas, provavelmente já terá que enfrentar novas gerações mais avançadas de smartwatches concorrentes.

(A mim, parece-me que todos eles precisam ainda de mais duas ou três gerações evolutivas, até que se comecem a tornar realmente opções válidas... Quem os comprar agora estará a servir de beta-tester pagante para isso...)

Por fim, não se pode deixar de referir a manobra mediática com os U2, oferecendo o seu último álbum gratuitamente no iTunes, o que o torna instantaneamente num recorde, chegando a mais de 500 milhões de pessoas. Agora bastará ao Google fazer o mesmo com o Tony Carreira no Google Play, e o recorde será rapidamente superado... ;P

(Há quem diga que esta oferta no iTunes servirá também como forma de garantir que os utilizadores têm as suas informações de pagamento válidas - embora não tenha a certeza se será necessário ter informação de pagamento para fazer compras gratuitas...)



A Apple revelou as suas novidades para os próximos tempos - a bola passa agora para o lado do Google, que tem o seu Android L e novo(s) Nexus para nos revelar. Revelações que irão novamente relembrar a velha questão: por muito que alguns prefiram o iOS, justificar-se-á pagar os valores que são pedidos pelos novos iPhones?