Placemeter paga-te para espiares o que se vê da tua janela

Já sabemos que há um interesse enorme em trazer o tracking que se faz no mundo online, por via dos cookies dos browsers e outros métodos, para o mundo real. E o Placemeter parece estar a ter sucesso à custa de uma técnica que poderia ser equiparada à tradicional "vizinha coscuvilheira que passa o tempo a espreitar à janela", mas agora em versão digital.

Imaginem o imenso valor que há em saber o mais possível sobre os potenciais clientes, que nas lojas online já permitem apresentar preços diferenciados em função do tipo de cliente que aparece. No mundo real as coisas são mais complicadas, mas há cada vez mais empresas que o vão fazendo, através da análise dos nossos smartphones, e também de câmaras, como este Placemeter faz.

O Placemeter é um serviço que te paga para colocares um smartphone à janela, e cuja câmara será utilizada para contabilizar o tráfego de pessoas e veículos. Para os utilizadores que tiverem uma visão privilegiada sobre ruas e lojas de interesse, o valor pode chegar aos 50 dólares por mês - nada mau para colocar apenas um smartphone velho à janela.

Graças aos seus algoritmos de análise de imagem, o Placemeter consegue recolher dados sobre o fluxo de trânsito, e também contabilizar quantas pessoas entram em cada loja e com que frequência. São dados que muitos poderão considerar irrelevante, mas que aqui se começa a descobrir o seu valor: se o serviço está a pagar 50 dólares por mês por esta informação, terá certamente que ganhar bem mais que isso - chamando ainda mais a atenção para a tal questão dos "serviços gratuitos" que tanto gostamos na internet.

Embora aqui se tratem de dados que não colocam em causa a privacidade de cada um - para não falar na questão de que se trata de captura de imagens de locais públicos - não é difícil imaginar que com a evolução tecnológica, seja apenas uma questão de tempo até que este tipo de serviços passe a ser capaz de identificar matrículas e até pessoas individuais. De igual modo não será difícil extrapolar que isso se possa vir a aplicar às câmaras que são instaladas em cada vez mais veículos; e até aos sistemas tipo Google Glass, permitindo criar uma quase inconcebível quantidade de informação sobre tudo e todos, a todo e qualquer momento. É certamente o fim da "privacidade" como a conhecemos... mas a grande questão é: será que vale a pena termos a ilusão de que isto poderá ser evitado?