2017/02/05

FCC deixa de combater "zero-rating"


Tal como se temia, a política da FCC quanto à neutralidade da net está a dar uma volta de 180º sob o Governo de Donald Trump, e a demonstrá-lo está o fim do combate aos tarifários zero rating.

O zero-rating consiste em tarifários em que o tráfego para determinados serviços não é contabilizado, e tem sido usado pelos maiores operadores como forma de promover os seus próprios serviços face ao dos concorrentes. Por exemplo, um operador que ofereça um serviço de vídeo que não conte dados, terá automaticamente vantagem sobre o YouTube ou Netflix, onde o mesmo consumo contabilizará centenas ou gigabytes de dados. Era uma tema que a FCC andava a investigar para prevenir abusos, mas que deixará de fazer, deixando as portas abertas para que as operadoras façam o que bem entenderem.

Ter em conta que por cá o zero-rating tem sido usado e abusado com fartura pelos operadores, de forma cada vez mais alargada, e que até já se chegou ao ponto de começar a cobrar para se ter acesso a esse zero-rating para serviços específicos, que originalmente era "oferecido" como sendo uma vantagem para os clientes.

Estamos muito mal encaminhados... mas acho que só quando as pessoas virem surgir tarifários de internet ao estilo dos "120 canais" + "canais Premium" + "canais de desporto" + "canais para crianças", com acesso a diversos sites ou serviços a serem considerados "extras", é que depois darão valor aos tempos em que o acesso à internet era só um, e os dados eram iguais para tudo e todos...

8 comentários:

  1. Está demonização do zero é que não concordo.

    O acesso à Internet tem de ser pago, se não é do nosso bolso, as operadoras sabem que se fizerem ZR a um serviço, que esse serviço vai ter uma vantagem competitiva, não fazem isso sem serem devidamente recompensadas, da mesma maneira que o os prestadores do serviço vão buscar clientes.

    Por exemplo, eu prefiro muito mais o Apple Music, por causa da Siri, de ter App para Apple Watch, de ter uma interface melhor, playlists imensamente melhores, etc. mas assino Spotify premium porque a yorn tem contrato com eles, e deve-lhes pagar bem, e a Apple não se mexe. Porque é tudo vencido pelo facto de poder usar o serviço em qualquer lado sem me preocupar, e é o que faço.

    Podiam dizer "ah, mas isso era melhor ter tráfego ilimitado e etc..." pois era, alguma operadora oferece? Algum tarifário mais barato? Não... temos 3 operadores para 10 milhões sendo que sendo o país que temos, nem metade deve ter smartphone e usá-lo para mais que chamadas e SMS, há concorrência que chegue.

    Alguém tem de pagar pelas coisas, e pelo menos as empresas destes serviços têm uma coisa de bom, têm mais poder negociar que os clientes das operadoras.

    Para ser contra isto, por princípio, também os seguros não deviam fazer mais barato a quem tivesse menos acidentes ou os bancos não deviam fazer taxas mais baratas a quem tivesse melhores condições de pagamento. Ninguém se levanta contra, pois! Não vale a pena falar aqui do porquê...

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    1. Concordo. Se as empresas conseguem vantagens competitivas que favorecem seus clientes por que não utiliza-las? No mundo ideal tudo deveria ser igual, mas na vida real isso não ocorre. O Barcelona deveria utilizar um uniforme de cada empresa de roupa desportiva diferente em cada jogo? Ou aceitar os 20 milhões de euros anuais que a Nike paga pela exclusividade?
      Em férias recente no Brasil optei por adquirir um cartão SIM de uma operadora local, a TIM. Por €12/mês tive 2 GB de internet, 400 minutos para qualquer operadora brasileira, assinatura do Deezer Premium (com tráfego incluído) e tráfego de WhatsApp gratuito (com excepção de chamadas). É óbvio que a operadora tem acordos com a Deezer e com o WhatsApp para oferecer tais vantagens, mas no final o cliente é o beneficiado.
      Alega-se que no futuro tais vantagens serão cortadas e teremos que pagar mais pelo mesmo. Na prática o que vemos é o preço das comunicações baixarem a cada ano e a qualidade dos serviços melhorarem. Ou alguém achava que teríamos internet de 100 Mbps + 33 canais a €20/mês como tem a Nowo, ou um dia teríamos dois canais Sportv a €10/mês no pacote Futebol Internacional? Não acredito nessas profecias apocalípticas de que as grandes empresas más vão comer-nos vivos no jantar. Agradeço muito poder viver no futuro e ter a possibilidade de aceder a conteúdos, trabalho e serviços em qualquer sítio a qualquer hora. O mundo só anda para frente.

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    2. Isto é uma questão do copo "meio-cheio/meio-vazio". Infelizmente, sou uma pessoa que já gramou com tráfego pago dependendo se era "internacional ou nacional", que já levou com traffic shaping demonstrado tecnicamente que a operadora se recusava a admitir (durante meses), com limites secretos de dados que inutilizavam a ligação (também com a operadora a dizer que não sabia de nada), com aumentos acima da inflação para contratos, com "ofertas" feitas em manifesta má fé com o único intuito de prender o cliente por mais 12/24 meses, etc. etc. etc.
      Dêem-me por isso a latitude suficiente para não estar optimista em relação a esta jogadas.

      Nada tenho contra pagar os dados que se usam; só quero é que um gigabyte seja um gigabyte, independentemente de onde ou como o quiser utilizar. E não um futuro onde o MEO só ofereça internet para o MEO Music e MEO video e MEO xpto, com tudo o resto a pagar a dobrar; a NOS nos mande para o NOS TV, o NOS backups, e o NOS notícias, com o resto a pagar por fora; e a Vodafone nos impinja packs para acesso às redes sociais, outro para serviços de backup, outro para podermos aceder a sites de jogos, etc. etc.

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    3. Carlos Martins, não acho que tenhas razão alguma de queixa no fixo.

      É verdade que é constrangedor essas histórias que já experimentamos de tráfego nacional e internacional, traffic shaping, etc. e tal... mas, sempre houveram pacotes de internet sem esses asteriscos. Tens muitas opções nesse ramo, opções essas que são mais baratas devido à existência de uma rede de fibra suportada por uma grande massa de utilizadores residenciais.

      Tu bem sabes que existem, agora... é claro que os ISPs não podem oferecer isso por 22€ por mês e ainda mais X canais! LOL! Simplesmente tens aquilo que pagas. Queres pagar centenas de euros por uma ligação de 25 megas? Ou pagar 22€ por mês por uma ligação de 100/100 com asteriscos? Temos aquilo para que pagamos, já cheguei a pagar 30€/mês por uma hora de internet a 56Kbps por dia, e tinha de ser em horário económico, isto há 17 anos, hoje por esse preço, tenho Fibra, TVCabo (canais de porcaria, mas pronto), Internet e chamadas gratuitas no telemóvel, e se contar com a inflação, ainda chega e sobra para Spotify Premium!

      Quanto aos contratos, pois, faz parte da redução de preço, faz parte da estratégia de obtenção de financiamento das operadoras que permitem oferecer uma rede melhor ao utilizador, eles precisam de gastar dinheiro ANTES de receberem dinheiro dos utilizadores pelo serviço, como é que queres que eles arranjem o credito sem milhões de "fiadores"? Mas, mais uma vez, tens operadores como a CaboVisão que têm um pacote sem período de fidelização, agora é mais caro, claro, e aí já toda a gente se cala, porque ninguém quer pagar mais!

      Quanto à internet móvel, reforço o que disse, temos aquilo que merecemos. Eu não vejo razão de queixa, reforço a minha posição de tendo em consideração a:

      - vontade dos portugueses de assinarem um contrato
      - vontade dos portugueses de pagarem por internet no telemóvel (smartphone só para mostrar) que é muito baixa, por aquilo que vejo
      - densidade populacional
      - poder de compra
      - qualidade da rede (abrangência, velocidade real, e latencia) que é muito boa em Portugal
      - o facto do orgão regulador (estado) tem monopólio e cobra valores altíssimos pela licença de utilização do espectro eletromagnético, e ainda vir com exigências na prestação do serviço

      Não estamos nada mal servidos. Quando falas de “um megabyte é um megabyte”, então olha para os estragos que a Internet móvel já fez às operadoras:

      - Chamadas e mensagens eram uma fonte de receita perdida
      - Chamadas internacionais? Esquece, toda a gente usa agora Skype e similares, que é de borla
      - Videochamadas? Esquece, depois de tanto investimento, veio a Apple, e etc a fazerem telemóveis sem video-chamadas para depois as “re-inventar” com o FaceTime e afins… quem diz Apple, diz outros telemóveis que também já não fazem chamadas 3G.
      - Ter um grande número de utilizadores, era um “asset” para as operadoras, em grande parte perdido, agora “um grande número de utilizadores” é um asset de Facebooks e Googles…
      - Antes, retinham parte da receita das empresas que vendiam toques e joguinhos J2ME, agora com a AppStore e similares, não ganham é nenhum com isso, enquanto a Apple e Google ganham 30%

      Ou seja, para as operadoras, a Internet só lhes veio para delapidar.

      Tem de ser assim, ainda bem que não é um serviço público.

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    4. Pois, precisamente, eu só quero ter aquilo pelo qual pago. O problema é quando:

      - temos PUAs/PURs secretas onde o operador pode fazer o que quer sem dar satisfações a ninguém
      - temos um operador a mentir descaradamente que aplicou um limite/traffic-shaping/etc quando o cliente tem provas disso

      Todos sabemos que os operadores estão cá para ganhar dinheiro, e ninguém quer que sejam obras de caridade. Mas há também que ter seriedade e respeito pelos clientes. (Não fossemos nós, e ainda por cá se estariam a fazer campanhas publicitárias a anunciar "tráfego ilimitado" em que o "ilimitado" eram 10 ou 15 ou 20GB.)

      O zero-rating, que parece tão inocente e até "dá jeito" a alguns utilizadores, é algo que já começa a discriminar os dados... e se a táctica não for travada nesta fase, podem ter a certeza que os passos que se seguem começarão a revelar cada vez mais que os "benefícios" para os clientes afinal poderão não ser assim tão benéficos...

      Mas, espero ainda por cá andar, quando for altura de dizer "eu bem avisei" (ou reconhecer que os meus receios eram infundados, e que afinal os operadores são nossos grandes amigos e só querem o que é melhor para nós! - acreditem que muito gostaria eu de o fazer)

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    5. Concordo contigo.

      Carlos Martins, vamos abrir um ISP/operadora a nível nacional, e oferecer pacotes com tráfego ilimitado na fibra e no 4G, velocidades garantidas de download e upload, HBO completa no pacote base, e ao mesmo tempo da estreia no EUA, sem períodos de fidelização, e assistência top?

      O Rolls Royce das operadoras!

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    6. Por agora contento-me com operadores que tratem os clientes com algum respeito e não apenas como "espremedores" para tentar sacar o máximo de euros. Por exemplo, lembro-me de há uns anos ter falado da Virgin que no UK indicava publicamente quais as regras que seguia para detecção e limitação de ligações abusivas.

      Uma simples mudança de atitude muitas vezes é tudo o que basta para ir de "besta" a "bestial".

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    7. Pois é, depois os clientes vão para o facebook dizer "olhem só para isto, a Virgin está nos a comer por trás, vou mudar para a outra operadora porque como eles não dizem nada, é porque não estão a fazer nada de mal!"

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