Já sabemos que as empresas de telecomunicações vivem num mundo à parte, onde se sentem à vontade para tentar vender coisas como tarifários "ilimitados" com limites, mas desta vez parecem superar-se a si mesmas, ao admitirem publicamente que não querem permitir um serviço que assegura a privacidade dos clientes, pois impediria que recolhessem informação sobre os seus clientes.
O serviço em questão é o iCloud Private Relay da Apple, um serviço que funciona como uma VPN dupla:
O sistema é idêntico a uma VPN, mas com protecções adicionais. Com o iCloud Private Relay activado todas as comunicações são feitas com encriptação (até aqui nada de novo, é o que o HTTPS já faz, há muito), mas estas comunicações são redireccionadas por dois pontos intermédios distintos: um atribui a essa comunicação um endereço IP anónimo associado à região do utilizador; o outro é responsável por descodificar o endereço da página a visitar. Com esta separação, não há um único serviço que saiba quem o utilizador é, onde está e o que visita. Já que um dos serviços só sabe onde estão mas não sabe o que visita, e outro serviço sabe que páginas são visitadas, mas não por quem.Um sistema tão bem pensado que está a gerar o pânico entre os operadores de telecomunicações, que assim também deixariam de poder monitorizar que coisas os seus clientes andam a visitar: os tão preciosos metadados que tantas empresas adoram, para venderem a outras empresas que criam perfis individualizados de cada utilizador, e que depois possibilitam aquela "magia" de nos aparecer publicidade que parece adivinhar aquilo em que estamos a pensar.
Ter os operadores de telecomunicações tão indignados com este serviço da Apple é o melhor argumento que se poderia ter para demonstrar a sua necessidade, e além da Apple, que outras empresas de VPN disponibilizem serviços idênticos, ou até a criação de um sistema standard descentralizado de "Private Relays" (se bem que isso poderia começar a aproximar-se da rede Tor) que permita que Androids e iOS possam, desde logo, proteger os sites que visitam do olhar atento dos seus próprios operadores de telecomunicações que utilizam.
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