2017/01/19

O lucrativo negócio das notícias falsas na internet


As eleições presidenciais norte-americanas vieram reacender o debate sobre a facilidade com que se criam e espalham notícias falsas na internet. Só que não será fácil combater algo que, para além de todo o potencial para manipulação das opiniões, pode render milhares de dólares por poucos minutos de trabalho.

Que o diga Cameron Harris, responsável pelo site ChristianTimesNewspaper, e cuja especialidade é precisamente a criação de notícias falsas. Normalmente, já ganharia bastantes milhares de dólares à custa da publicidade conseguida graças a artigos como "Bill Clinton envolvido em sexo com menores", "Hillary Clinton divorcia-se de Bill", "Manifestantes anti-Trump espancam veterano sem-abrigo"; mas a sua obra-prima surgiu quando escreveu uma notícia falsa a dizer que uma pessoa tinha descoberto milhares de boletins de voto pré-preenchidos com votos em Hillary Clinton,

Foi uma notícia que depressa se tornou viral entre os apoiantes de Trump, chegando a cerca de 6 milhões de pessoas... e acabando por render cerca de 5000 dólares em publicidade a Cameron - nada mau para cerca de 15 minutos de trabalho, onde não faltou a criação do personagem que teria feito a descoberta, e a respectiva ilustração: uma imagem procurada no Google, e que na verdade dizia respeito a eleições no Reino Unido.

Mas nada disso interessa numa área onde, segundo o próprio, se pode ganhar cerca de $1000 por hora. No período das eleições Cameron ganhou cerca de 20 mil dólares em publicidade no seu site, um valor simpático para as 20h de trabalho investidas a escrever as notícias falsas, e um domínio usado que comprou por meros 5 dólares. E o negócio poderia ter sido ainda mais rentável pois, no auge da notícia viral o seu site chegou a estar avaliado em mais de 100 mil dólares. Uma oportunidade que infelizmente ele não aproveitou... mal sabendo que em breve a Google lhe cortaria o rendimento, quando anunciou que deixaria de permitir a exibição de publicidade da sua rede em sites de notícias falsas.

Curiosamente, é o próprio Cameron Harris que confessa ficar surpreendido com a facilidade com que as pessoas acreditam em tudo o que lêem na internet, sem se darem ao trabalho de avaliarem a sua credibilidade. É que, tal como existem sites dedicados a notícias falsas, existem sites que se dedicam a desmascará-los, como o snopes.com (que inclusivamente desmascara várias notícias de Cameron Harris). Mas é fácil perceber que, entre grupos de pessoas "fervorosas" (e isto não é algo que se limite a questões políticas) muitos serão aqueles a quem só interessa ler um título que confirme as suas suspeitas ou desejos... pouco se importando se aquilo é falso e só foi escrito para atrair mais uns visitantes e uns cliques.


Com excepção dos casos em que temos notícias falsas com objectivo de manipular a opinião pública, podemos considerar que em grande parte dos casos o único interesse por trás delas é o de amealhar mais uns euros fáceis - podendo ser consideradas como a evolução natural do click-baiting, onde já se utilizavam títulos sensacionalistas para atrair clicks; ou dos screenshots completamente falsos usados como imagens do YouTube que visam atrair espectadores, sendo que o vídeo na realidade nem sequer tem nada a ver com a imagem inicial.

Enquanto este tipo de actividade continuar a dar dinheiro é lógico assumir que não vá parar... muito pelo contrário: com a perspectiva de poderem ganhar milhares de dólares por poucas horas de trabalho a escrever notícias falsas, é de imaginar que muitas mais pessoas se sintam tentadas por este mundo, obrigando a ter cada vez mais cuidado naquilo que se acredita... só porque apareceu na internet (e o mesmo é igualmente válido para os jornais, revistas, livros, rádio e televisão.)

2 comentários:

  1. Este tipo de actividades deviam ser consideradas criminosas e serem devidamente responsabilizados as pessoas envolvidas.. Porque na verdade estao a gerir sites que se baseam em mentira e a lucrar c isso.
    Tambem me supreende e' como muitas pessoas principalmente jovens acreditam em determinadas noticias que claramente se nota que sao falsas...

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  2. Ganhou dinheiro no curto prazo, porque entretanto foi despedido do seu emprego e ganhou uma reputação que lhe pode vir a correr mal.

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