2014/03/05

Privacidade passou a ser um bem de consumo?


Antigamente, a privacidade era um "direito adquirido": toda e qualquer pessoas tinha a a sua vida implicitamente privada a não ser que estivesse num local público. Hoje em dia, não só isso não acontece... como começamos a pensar e aceitar que seja normal que assim não seja - e que se tenha que pagar para recuperar parte dessa privacidade.



Nem vamos falar daquelas pessoas que querem privacidade mas são as primeiras a partilhar com o mundo, no Foursquare, Facebook e demais redes sociais, tudo o que fazem e por onde andam. Vamos olhar para casos menos extremos... o simples acto de carregar um smartphone no bolso faz com que o operador (e eventualmente as autoridades) tenham acesso aos locais por onde andamos e que chamadas fizemos. Em casa, o tradicional porto de abrigo da nossa privacidade, temos os operadores de cabo e internet que sabem tudo aquilo que vemos através das suas "boxes" e por onde navegamos e o que fazemos na internet. E mesmo os próprios serviços gratuitos na internet, dos Facebook aos Gmails... usam e dissecam todos os dados que conseguem obter sobre nós para conseguirem fazer dinheiro à nossa custa... afinal... não se tratam de serviços que funcionam por caridade, e o seu objectivo continua a ser... dar lucro!

Claro que para tudo há soluções, para todos os níveis de preocupação e/ou paranóia. Desde capas de telemóveis que bloqueiam os sinais de rádio para que se fique indetectável quando se deseja, escapando até aos RFID e outros sistemas que poderiam funcionar mesmo sem a bateria colocada; até aos serviços de anonimização da navegação na internet, da rede Tor gratuita aos serviços VPN a pagar. Mas em muitos casos, essa privacidade supostamente acrescida representa apenas uma transferência da entidade em quem confiamos: em vez de ser o nosso ISP a saber por onde navegamos, passará a ser a empresa a quem contratamos a VPN, etc. etc.

Este sentimento de paranóia colectiva crescente (que tem razões de existir - e cada vez mais, a cada novo descobrimento do tipo de abusos que são cometidos por determinas agências/governos/entidades) terá como efeito um crescimento do número de serviços que disponibilizem uma garantia de segurança acrescida. Basta olhar para o interesse em produtos de encriptação e de comunicações "seguras", e arrisco-me a dizer que no futuro se irá tornar algo cada vez mais comum. A questão será saber quanto é que isso nos irá custar a mais por mês...

Será que alguém ficaria surpreendido se um operador começasse a disponibilizar um serviço de: "por apenas 5€ garantimos que o registo da sua localização não será guardado"; ou um serviço de email que anunciasse "por apenas 5€/mês deixará de ver publicidade e de ter os seus emails analisados para efeitos de marketing"? Pois...

1 comentário:

  1. Carlos ; Porque raio não existe um Juíz ou a Procuradoria-Geral da República que já acompanhou por diversas vezes problemas relativamente à privacidade impor limites no uso destes dados. Se um cliente não quiser esses dados disponíveis, não temos que pagar nada!

    Se tiveres um acidente, retiram-te os orgãos! "Consentimento presumido" ( http://www.asst.min-saude.pt/recortes/Paginas/doacaoorgaoslutavida.aspx )

    Mas se indicássemos o contrário estavam proibidos! Falta-nos Juízes com tomates!

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