2014/05/12

Sony reconhece queda acelerada dos Blu-Ray

Menos de uma década após o seu lançamento, o formato Blu-ray parece estar já a enfrentar sérias dificuldades para cativar os consumidores... e é um daqueles casos em que posso dizer "eu bem vos avisei".

Os primeiros leitores e filmes Blu-Ray chegaram ao mercado em Junho de 2006, mas vez de chegarem como um formato único que atraísse os interessados em tirar partido dos filmes em alta-definição, chegou depois de inúmeros atrasos - atribuídos aos complexos sistemas anti-cópia que foram desenvolvidos especificamente para este formato e que eram anunciados como sendo "incrackáveis - de forma apressada e incompleta, para não deixar que o formato rival HD-DVD, que tinha chegado mercado alguns meses antes, assumisse uma maior liderança.

Esses primeiros tempos foram terríveis para quem apostasse num ou noutro formato. Assistimos até a casos de alguns dos primeiros leitores Blu-Ray não poderem ler os discos Blu-Ray que vinham com novas e actualizadas especificações... o que não deixa de ser um caso caricato (excepto para que tivesse investido nesses leitores). E que dizer do tempo de arranque até que se conseguisse ver um filme? Esperar 30 a 50 segundos até se poder fazer "play" não eram incomuns!


O resultado foi que, durante dois agoniantes anos, não era seguro para ninguém comprar fosse o que fosse, nem HD-DVDs nem Blu-Rays. Tanto pela ameaça de qualquer um deles se tornar obsoleto, como pelos constantes updates que o Blu-Ray ia sofrendo para tentar remendar as falhas do seu lançamento antes do tempo. Mas no final o peso da Sony acabou por prevalecer, e em Fevereiro de 2008 o grupo HD-DVD acabou por anunciar que deixaria de fabricar discos. Uma vez mais, não deixa de ser curioso que alguns dos estúdios que decidiram apoiar o formato Blu-Ray, o fizeram com a justificação de que tinha um sistema anti-cópia mais avançado... (E veja-se a facilidade com que hoje em dia se encontram os blu-ray ripados na internet...)



O que nos traz até ao presente... Com aqueles dois anos perdidos e o "amargo" que essa guerra inicial deixou (a MS recusou lançar um drive Blu-ray para a Xbox 360, e muitos outros fabricantes não o adoptaram para os seus computadores - sendo um dos mais proeminentes a Apple), o Blu-ray nunca atingiu o estatuto de standard como os DVDs. Ainda hoje isso acontece: se comprarem um portátil com drive óptico (algo também cada vez mais raro), não é garantido que seja Blu-Ray.

Mas é precisamente por existirem cada vez menos computadores com drive óptico que chegamos ao ponto crítico: o streaming e os downloads estão a estragar as previsões da Sony, que esperava que o Blu-ray pudesse ter uma vida descansada durante muitos mais e longos anos. Afinal não é o caso, e as quedas abruptas que o formato tem tido são o sinal claro de que grande parte do mercado já não tem grande paciência para andar com discos de plástico, quando pode ter o que quer ao toque de um botão nos seus comandos ou computadores.


Claro que ainda não é para todos. Nem todos temos acesso ao Netflix, que no próximo mês já começará a fazer streamings em Ultra HD 4K (enquanto o consórcio Blu-Ray ainda anda a tentar adicionar esse novo formato às suas especificações - algo que novamente irá deixar muitos dos leitores actuais "para trás"), ou a capacidade para fazer o download de jogos com 10, 20, ou 40GB. Mas isso é algo que vai mudando a grande velocidade. Há 10 anos atrás se calhar teria uma ligação de 10Mbps, hoje tenho uma de 100Mbps; e de não ter sequer uma ligação internet mobile (que seria feita às sofríveis velocidades 2G) passamos a ter velocidades 4G que rivalizam ou superam as velocidades da internet por cabo e fibra.

Portanto, para o bem e para o mal - e embora o Blu-Ray não vá desaparecer de um dia para o outro - vai certamente ser um formato que irá sendo cada vez menos usado... até ficar esquecido na nostalgia do tempo. A ideia era boa... a sua implementação é que não.

6 comentários:

  1. Gostos destas análises a rasgar ao FAIL do milénio!

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    1. Partilho da opinião e acrescento... Também adoro "pegar" na indústria da música que (muitas vezes) insiste arcaicamente em querer impingir 15€ por um CD! CD!!! Em que ano é que o CD chegou ao público?

      Já agora, não menos ridículo, é que o custo de um albúm digital (ou livro...) raramente tenha uma redução de preço razoável face à poupança nos custos de produção e distribuição.

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    2. Essa aí era dava pano para mangas... os CDs eram caros, a culpa era do fabrico do CD, e capas, etc. Chegamos ao digital, as desculpas passam a ser de que o custo não é do formato físico mas sim da produção e distribuição; enfim... tudo para tentar esconder que o real custo elevado é mesmo das editoras.

      As músicas e filmes deviam ter o preço discriminado, sobre que percentagem reverte realmente a favor dos criadores originais... e aí talvez se ficasse com uma melhor noção de como esta indústria se vai mantendo.

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  2. Comprei um home cinema blu-ray, não pela parte do leitor de disco, mas porque era um media center. Uso frequentemente a entrada USB, uso esporadicamente para ver DVDs... E nunca pus um blu-ray lá dentro. Os filmes que compro são sempre em DVD, acho que o preço acrescido dos blu-ray não se justifica.

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  3. Penso que a Sony já sabia há muito que o Blu-ray era um suporte de transição que provavelmente nunca iria ter grande sucesso. E nem sequer deve estar muito preocupada com o assunto porque já tem uma presença muito forte onde está o valor acrescentado, que é nos conteúdos (Sony Music e Sony Pictures).
    De facto, o valor acrescentado (e, portanto, a justificação para os preços pedidos) não está no suporte, e já nem sequer na distribuição. Está sobretudo na promoção. A maioria as bandas de média dimensão, bem como as produtoras de cinema, já são muito capazes de produzir filmes e discos, e distribuí-los pelo mundo todo sem a máquina das grandes editoras por trás. Mas falta derrubar uma barreira, que é a da promoção. É muito fácil colocar um filme ou um disco disponível em todo o mundo através de uma iTunes, ou Amazon, etc. O problema é dar-lhe notoriedade no meio de milhares ou milhões de outras obras. É aí que as Editoras ainda têm muita força, e é por isso que ainda não assistimos a um achatamento visível do diferencial de preço entre o autor/artista e o consumidor. Lá chegará o tempo.

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  4. Eu pessoalmente tenho tarifa plana de videoclube e todas as semanas vou buscar 1 ou 2 Blu-Ray, ainda que tenha acesso a Amazon Video. Os videoclubes têm muito mais selecção (de filmes, séries nem pensar) e Blu-Ray ainda é superior.

    Via streaming não conseguimos DTS - HD nem 3D, nem bitrate de até 50 mbps... Quando acabará a vantagem é outra coisa. Quanto ao mercado doméstico, acima de 10 euros poucos pagam por música ou filmes, seja DVD, Blu-Ray ou lá o que for. A Sony não está boa da cabeça ...

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