2019/11/11

Falha do Galileo revela labirinto burocrático de problemas


A falha do sistema Europeu de localização por satélites Galileo em Julho ainda está por explicar devidamente, mas as coisas que se vão descobrindo revelam um cenário de terror, dominado pela burocracia e falta de comunicação.

Contrariando a esperada política de transparência Europeia, os resultados do inquérito feito à falha do sistema Galileo durante vários dias em Julho, permanecem classificados como segredo. No entanto, através da monitorização externa feita por pessoas interessadas, conversas não oficiais, e um "desabafo" de um dos responsáveis máximos do projecto, vai-se ficando com uma boa ideia (ou má, dependendo da perspectiva) daquilo que se passa com o Galileo.

Os responsáveis têm simplificado a explicação, sempre sem entrar em detalhes, dizendo que a culpa foi de uma única pessoa, que "fez um erro e não o conseguiu corrigiu".  Uma explicação que, desde logo seria estranha, pois não tem qualquer cabimento que numa infraestrutura desta magnitude e importância, se pudesse dar a uma única pessoa, em qualquer tarefa que fosse, tal poder.

Só que o problema é bem mais abrangente, e consiste numa série de erros e falhas, que culminaram no tal falhanço por vários dias. Aparentemente, a falha terá sido causada durante um processo de actualização (as famigeradas actualizações não apoquentam apenas o Windows, Android e iOS), sendo que o sistema que deveria funcionar como backup não estava funcional. As tentativas de recuperar o sistema acabaram por se revelar de tal forma complexas, que a opção final por literalmente o velho "desligar e voltar a ligar", com um reboot completo do sistema, que devido à sua complexidade, demorou mais alguns dias.

Mas, se por agora os resultados do inquérito permanecem secretos, há factos que são indisputáveis e que não têm desculpa: dos 26 satélites Galileo em órbita apenas 21 estão funcionais. Isso faz desde logo com que o prometido serviço de alta-qualidade com precisão superior ao GPS seja impossível, pois seria necessário um mínimo de 24 satélites para o garantir. Com 21 satélites, haverá zonas que ficarão sem cobertura ou com precisão reduzida.


Mas, como se as complexidades técnicas de manter um sistema como o Galileo a funcionar não fossem suficientes, temos ainda que lidar com uma teia burocrática com diferentes entidades, departamentos, empresas e países, que nesta fase parece promover a atitude de "atirar as culpas" de um lado para o outro. Uma teia burocrática que tem ficado cada vez mais complicada graças ao Brexit, havendo a possibilidade da ESA dar lugar a uma nova entidade, a EUSA, com um grande reboliço e potencial "dança de cadeiras" que estará a preocupar muitas pessoas nos postos mais elevados.

... E com tudo isto, e pelo menos durante mais um ano (ou mais!), o sistema Galileo arrisca a tornar-se numa mera ilusão daquilo que poderia / deveria ter sido. Os próximos dois satélites Galileo poderão ser lançados apenas 2021, e mesmo assim seriam insuficientes para atingir os 24 necessários - e isto sem considerar a forte possibilidade de, até lá, mais algum satélite poder ficar inoperacional.

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