2023/10/09

Walmart levanta preocupações com cruzamento de dados de saúde e comida

Nos EUA, um pequeno deslize da Walmart fez reacender os receios com o poder quase inimaginável do cruzamento de dados, quando se combinam dados médicos com dados das compras de comida.

Com a questão do uso de medicamentos habitualmente usados por diabéticos como forma de perder peso, o CEO da Walmart disse numa entrevista que as pessoas que compram esses medicamentos de facto revelam uma ligeira tendência para compraram menos comida. Declarações que revelam que a Walmart estará a fazer análise de dados e a comparar os hábitos de compras de pessoas que compram / não compram esses medicamentos; ou os seus hábitos antes / depois de os compararem. E se isso é algo inescapável nos dias de hoje (não se pensava que os cartões de fidelização tinham sido feitos para beneficiar os clientes, pois não?), aqui a situação torna-se mais complicada porque os dados de saúde são abrangidos por um conjunto completamente diferente de regras.

Ao integrar uma rede de farmácias e uma rede de lojas, a Walmart tem acesso a um manancial de dados, e enquanto alguns irão exigir saber exactamente como esses dados estão a ser usados, a Walmart continua a ter um trunfo fácil para escapar a qualquer acusação, pois basta-lhe dizer que estão a usar dados anonimizados. Mesmo sabendo-se que os dados anonimizados quase nunca são anónimos (e no caso de dados de saúde, coisas como as dosagens, combinação de diferentes medicamentes, etc. podem facilmente individualizar um paciente no meio de milhares), esse simples argumento serve como saída de emergência para escapar a praticamente todas as restrições no uso desses dados.

No passado já falamos de histórias de como a Amazon conseguia saber coisas sobre os clientes que nem os seus familiares sabiam; como o célebre caso de ter começado a sugerir coisas de bebés a um determinado cliente, ainda antes dele saber que a sua filha estava grávida. Combinando informação de alimentos com medicamentos, as possibilidades são tão imensas que é quase impossível imaginar o que se pode fazer com isso. E o mais assustador é saber que, o que quer que se possa imaginar, é quase certo que já estará a ser feito.

Note-se que este cruzamento de dados e a informação que dali se pode extrair não é implicitamente má, muito pelo contrário! Estes dados podem permitir descobrir coisas como correlação entre efeitos secundários de medicamentos com determinados alimentos, e muito mais. O problema, como sempre, é quando o uso dado a esta informação passa do uso legítimo e bem intencionado para o uso mal-intencionado e abusivo: por exemplo, relacionar pessoas que tomam remédio para a hipertensão mas que continuam a comprar comidas pouco saudáveis, e "denunciá-las" a empresas de seguros de saúde para que o seguro seja cancelado ou sofra um aumento substancial.

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