2014/08/31

A tecnologia feita para durar


Penso que hoje em dia a maioria das pessoas já se mentalizou que a evolução tecnológica tem tal ritmo, que (quase) tudo fica obsoleto numa questão de poucos anos. Mas haverá certamente quem ainda se recorde com nostalgia de coisas que em tempo eram compradas com a ideia de que iriam ser uma enorme mais valia para os filhos e netos.

Nada exemplificará isso de forma mais cabal do que esta publicidade da Sony a um deck de fita magnética (TC-377). Para além de ter funcionalidades avançadas como a mistura de dois canais de som, três cabeças de ferrite capaz de durar 200 vezes mais que a concorrência, e a possibilidade de trabalhar tanto pousado na horizontal como na vertical; este deck era anunciado como sendo o tipo de produto que poderia ser deixado aos bisnetos, para que também eles pudessem desfrutar do seu excelente som.


Sim, é literalmente algo do "século passado" (este deck foi comercializado entre 1972 e 1975)... mas não seria necessário esperar por um bisneto, para que esta ideia do "deixar" para os filhos/netos não resultasse muito bem em produtos tecnológicos.

Conheço um caso curioso (e caricato) em que os pais de um amigo meu de infância também decidiram comprar um carro para ele (quando ele nasceu), com a ideia de que ele o apreciaria quando chegasse aos 18 anos (e poupando dinheiro, uma vez que os carros seriam mais caros nessa altura). Também não será necessário dizer que depressa descobriram que a coisa também não iria funcionar... e venderam o carro (curiosamente, aos pais de outro grande amigo meu. :)


São situações curiosas, mas que não deixam de merecer alguma reflexão. Há algumas décadas atrás existia a noção de se comprar algo que fosse "para durar" e que pudesse ser deixada para os descendentes. Hoje em dia temos coisas que se tornam obsoletas numa questão de anos; e nem sequer os conteúdos, cada vez mais dependentes de serviços de streaming que nunca nos deixam ser donos de nada (ou as famosas app stores, que fazem com que os produtos fiquem associados à nossa conta), ajudam a que se possa deixar algo para quem vier a seguir.

Sim, ainda há coisas que merecerão o investimento e que se pode dizer que duram "para sempre", mas para a maioria dos produtos tecnológicos e digitais... não deixará de ser um pouco triste que o seu destino mais provável seja a sua obsolescência e o esquecimento garantido.

4 comentários:

  1. Nada disso aconteceria se toda a tecnologia desenvolvida fosse pensada para ser totalmente modular e para obedecer a standards. Seria um bom equilíbrio entre estar atual, mas deitar o mínimo de peças ao lixo. É claro que em alguns casos é difícil, mas projetos como o Ara mostram que não é impossível.
    Mas, por exemplo, porque é que nós não podemos construir electrodomésticos como construímos torres para PCs?
    Felizmente, há coisas simples que dão alguma (pouca) esperança: graças ao standard dos carregadores de telemóveis, não me meteu confusão nenhuma comprar um Moto G sem carregador, uma vez que já tenho o do meu tablet, que funciona muito bem.

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  2. essa historia do moto g a mim por acasa mete-me espécie...e não percebo a lógica... eu tenho dois smartphones, como como os da maioria precisam de carregar praticamente todos os dias e normalmente isso é de noite, como tal, aquando da compra de um moto g, lá tive que comprar mais um carregador, porque infelizmente só havia um cá por casa.

    Acho absurdo essa cena...

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    1. Sem te tirar razão, acho que hoje em dia é praticamente impossível não teres diversas portas USB em que podes carregar um smartphone espalhadas pela casa. Desde o computador, portátil, monitor, televisor, consolas de jogos, box da TV, aparelhagens HiFi, etc. etc. :)

      Poderão não ter potência para carregar um tablet, mas para carregar um smartphone durante a noite, chegam e sobram.

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    2. Para além do que o Carlos diz, podes pensar que o carregador que compraste vai durar mais que o smartphones nas tuas mãos, ou, pelo menos, dará sempre para outros smartphones ou tablets.
      Por outro lado, acho que hoje em dia justifica-se comprar carregadores com duas portas USB, para se poder carregar o tablet e o smartphone ao mesmo tempo.
      No entanto, saliento que o teu ponto de vista é perfeitamente válido.

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