2008/01/31

Mythbuster põe o Dedo na Ferida

O Jamie dos Mythbusters desabafou no Popular Mechanics quanto a algumas questões que considera serem uma autêntica dor de cabeça nos dias de hoje.

E... que posso dizer? Concordo plenamente com ele!
E vai tudo um pouco no sentido do post que escrevi há uns tempos "Tecnologia subvertida: anda tudo mal habituado", onde os consumidores estão tão iludidos com as produtos actuais, que nem páram para pensar um pouco na real lógica das coisas.

(E aproveito para relembrar que o episódio de ontem testou o mito de: Será um avião capaz de levantar vôo se estiver numa passadeira rolante a rodar em sentido contrário?
Eu já sabia a resposta, mas... para quem não souber - ou pensar que sabe, mas não tem a certeza - não deixem de ver! ;)


Usabilidade vs Complexidade

Ele dá o exemplo dos telemóveis actuais, que acumulam cada vez mais funções. Se por um lado, essa complexidade extra até pode ser desejável (todos queremos ter GPS, máquina fotográfica digital, etc. integrada no telemóvel) é importante que os interfaces evoluam de igual forma, para que a usabilidade se mantenha ao nível dos modelos "antigos".
Veja-se por exemplo o caso de um smartphone windows, onde fazer uma chamada obriga a inúmeros toques de botões (e por vezes até a usar a "stylus") quando isso deveria ser a acção mais fácil de usar.


Ferramentas e aparelhos "sem fios" - todos com baterias e carregadores diferentes

Esta é de bradar aos ceús. Admite-se que cada aparelho venha com uma bateria proprietária, e com um carregador único (provavelmente com uma ficha que mais ninguém usa no mundo)?
Porque não usar módulos standard, com um carregador também standard, para que não tivessemos que manter um exército de carregadores em nossas casas?

Ora imagine-se se não pudessemos usar uma bateria "sem marca" no nosso automóvel, e fossemos obrigado a comprá-la na marca oficial?


Lanternas e aparelhos eléctricos que usam baterias exóticas.

O Jamie diz: Tenho uma pequena lanterna LED chamada Fenix que dá 1 watt de luz, usa uma única pilha AA, e que dura meses. No entanto, a maioria das lanternas semelhantes a esta que vemos por aí usa baterias de lítio ou demais baterias proprietárias. Na maioria dos casos, é absolutamente desnecessário - apenas servindo para que as pessoas paguem uma fortuna por baterias novas. Seria bom se as pessoas nunca tivessem permitido que isto acontecesse.


Telemóveis com carregadores diferentes.

Quantas vezes ficaste sem bateria no telemóvel longe de casa e do escritório, e nenhuma loja nas redondezas tem o modelo certo de carregador para o teu modelo de telemóvel?
Milagrosamente, há quem esteja a trabalhar numa solução para isto. O Open Mobile Terminal Platform (omtp.org) tem o apoio de vários fabricantes que estão a tentar fazer com que a ficha micro USB se torne no método standard de carregamento. Ainda é demasiado cedo para saber se vão ser bem sucedidos - mas esperemos que sim!


Equipamento AV com cablagens e protocolos de comandos remotos diferentes.

Estas coisas apenas servem para confundir (e consumir) os consumidores. Cada marca introduz o seu "bus" proprietário para ligar os seus equipamentos. Depois anuncia-se o HDMI como sendo o "standard", mas depois atiram-nos com os DVI, componentes, etc. etc.

Quanto aos telecomandos, há comandos standard, no entanto nenhum fabricante parece muito interessado em implementá-los de forma simples, causando uma enorme confusão e frustração em todos os que tentam colocar um conjunto de aparelhos AV a funcionar em conjunto.


Sistemas operativos de computadores carregados com tralha desnecessária e que nunca se utiliza.

Este fenómeno é vulgarmente designado por “software bloat” ou “feature bloat.” É um problema bem documentado e conhecido nos sistemas operativos Windows - em particular no Vista. Para além de introduzir mais hipóteses de bugs, as funcionalidades adicionais fazem com que o computador se arraste, ocupando mais recursos (CPU e memória.)
Aos fabricantes: não carreguem os computadores com coisas que apenas nos fazem perder tempo a retirar (e sendo complicado fazê-lo).

A maior parte dessas funções poderiam ser opcionais. Porque não deixar um computador instalado com as funcionalidades básicas essenciais, e deixar o resto ao critério de cada utilizador?
A solução? Mudar para uma distro Linux, como o Ubuntu. Para além de ser gratuito, as instalações bases raramente vêm com coisas desnecessárias.

Para as companhias: deixem de gozar connosco com os ciclos idiotas de upgrades que tornam obsoletas as versões anteriores. Imagine-se se o mundo funcionasse da mesma forma: Ei, perdi uma meia. Agora vou ter que comprar toda a roupa de novo porque a meia que eu precisava era a versão 2.0.1, mas as lojas já só vendem a nova versão 2.0.3. incompatível com as antigas.


Automóveis com sistemas electrónicos chatos.

Dizem-nos que os carros estão cada vez mais inteligentes. E o certo é que todos nós gostamos que os nossos carros sejam mais seguros, com sistemas electrónicos que aumentam a segurança, eficiência, a economia, o conforto, etc. No entanto, quando temos que gramar com avisos por todo o lado apenas porque levo uma caixa no banco de trás - obrigando-me a colocar o sinto de segurança na caixa, começa a ser exagero.
Se eu estiver disposto a levar com esses avisos, deveria haver um botão que activasse esse modo de "chateia-me" à vontade.


Automóveis que complicam a manutenção.

Um automóvel recente em que tive que trabalhar obrigou a retirar uma roda da frente, e uma centena de outras coisas, apenas para substituir a bateria. Na maioria dos casos, até para abrir o capot é necessário perder um tempo infinito.

Baterias, filtros, fusíveis, e outras peças de desgaste que precisem ser regularmente substituidas deveriam estar em locais acessíveis. Se os fabricantes se preocupam tanto com o conforto a bordo, será mesmo necessário obrigarem a contorcionismos sempre que se queira mudar o óleo?


Por fim, diz ele: "Para mim, a engenharia é uma arte, e entristece-me vê-la ser tão desrespeitada pelos departamentos de marketing das corporações. Idealmente, a forma devia ser adequada à função, e o processo de desenvolvimento e fabrico de produtos de consumo devia ter isso em consideração. Companhias, é tempo de abrir os olhos e darem mais valor aos que dizem os vossos engenheiros - e clientes!"

1 comentário:

  1. Normalizar não é nada fácil. Se nem sequer quanto à corrente que se distribui se conseguiu estabelecer um padrão único a nível mundial (e não nos podemos esquecer que a distribuição domiciliar nos EUA só no final do ano passado é que passou a ser toda em corrente alterna) como é que se pode sequer achar possível, a curto prazo, vir a haver módulos que se possam encaixar na generalidade dos dispositivos portáteis quer para serem carregados quer para poderem ser usados fixos. Há demasiado a perder (para algum (ou plural) fabricante e entidades que dependam dele).

    Numa indústria relativamente jovem com uma série de novas tecnologias energética ao virar da esquina (nos próximos anos) haver só um modelo de bateria é impossível.

    Aqui há uns anos nos EUA era por exemplo possível comprar no supermercado um farol sem a pessoa se preocupar demasiado com a marca e modelo, hoje é impossível devido à exclusividade de cada marca (voltaram neste aspecto atrás).

    É evidente que quando a indústria amadurecer haverá consolidação de fabricantes e depois até poderão chegar a acordo através de associações como a que indicas para usarem algo que possa ser usado de forma indestinta em mais do que uma marca.

    O apelo às empresas para ouvirem os seus engenheiros e clientes (quanto a estes a generalidade delas dizem que os ouvem) quanto aos engenheiros se eles não concordarem com as suas hierárquias pode-lhes suceder como aos membros da comissão que avaliou os impactes na região centro de uma obra emblemática...

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