2008/09/11

Alta Definição via Internet

Ai... às vezes não percebo como algumas pessoas que supostamente deveriam ter alguns conhecimentos "empancam" na questão de "maior" ser sempre "melhor."

Refiro-me a este artigo do Gizmodo que tenta explicar que o conteúdo de Alta-Definição actualmente fornecido via Internet não ser - nem de longe - representativo da verdadeira qualidade que pode/deve ter.

Embora muito do que lá dizem seja efectivamente verdade, com as companhias a cortarem no bitrate, para pouparem tráfego e poderem disponibilizar mais conteúdos -- e isso acontece em praticamente todos os meios de transmissão e não só na TV via internet -- apenas achei um pouco sensacionalista insistirem na questão do bitrate como garantia de uma qualidade melhor.


Ora, a questão que se coloca não é tanto o bitrate em si, mas a forma como ele é usado!

Se eu pegar numa cassete VHS e a converter para Bluray, com o tal bitrate de 40Mbits, acham que vão ter melhor qualidade do que o filme VHS original? É óbvio que não (não vou falar aqui das questões de upscaling e processamento de imagem.)

De igual modo, num filme bastante parado ou com a maioria das cenas bastante escuras (algo que praticamente todos os codecs conseguem comprimir de forma eficiente) acham que é necessário 40Mbits?

Numa analogia automobilística é como dizer que um carro que tenha um consumo de 40lt aos 100Km seja melhor que outro com as mesmas dimensões e prestações mas que gasta apenas 10lt.

O que é necessário (e seria o ideal num mundo "perfeito") é que esses números fossem usados de forma inteligente e não apenas no "mais é melhor."

Há uma enorme comunidade que se dedica a converter e comprimir filmes para colocar nos seus media centers, comunidade essa que inclui inúmeros profissionais e técnicos mais que habilitados para a tarefa em questão. Quantas vezes se assistem a "disputas" do género: "Desculpem lá, mas não vou comprimir este filme para ocupar 8GB (para 'bater certo' com um DVD DL) quando ele fica exactamente igual com apenas 6GB."

E é mesmo disso que se trata, de atingir a tão almejada transparência.

Imaginem uma imagem apenas a preto e branco e que ocupa 2 bits - consistindo num "1" para um bit branco, e um "0" para um bit preto: ou seja, será representada por "10."
O que acontece se a converterem para uma imagem com 32 bits de cor?
Passam a ter uma exactamente a mesma imagem, mas em vez de 2 bits, passam a ter 64 bits - um aumento substancial no espaço ocupado, sem que exista qualquer diferença de qualidade.

A "transparência" refere-se ao ponto em que, usando um método de compressão e codificação lossy (com perda de dados,) o resultado comprimido seja indistinguível do original.
Pegando no exemplo que dei mas no sentido inverso; teríamos que para a tal imagem com 2 pontos ocupando 64 bits, poderíamos comprimí-la para uns meros 2 bits mantendo a "transparência" - sendo impossível distinguir entre elas.

Provavelmente já sentiram isto na pele - ou melhor dizendo, nos ouvidos - quando ouvem música em formato MP3.
Como sabem, podem comprimir a música com diferentes qualidades, umas ocupando menos espaço, outras ocupando mais espaço. Se um MP3 com um bitrate de 64Kbit/s soa manifestamente abafado e sem brilho, já um de 384Kbit/s soa praticamente igual ao CD original - se o codificassem a 500Kb/s dificilmente conseguiriam notar uma melhoria relativamente ao de 384Kbits. Neste caso dir-se-ia que bastam os 384Kbits para atingir a tal transparência.
(Claro que isto é uma medida subjectiva - para muitas pessoas, um MP3 de 256Kbits poderá já ser indistinguível; enquanto para outras nem os de 384 serão suficientes... dependerá da pessoa, da música, do equipamento utilizado, etc.)

Nos filmes e na alta-definição a situação é a mesma: um vídeo de alta-definição não comprimido é uma coisa absolutamente assustadora: 1920x1080 x 24bits de cor x 30 fps. Equivale a quase 178Mbytes por segundo - 10GBytes por minuto - 625Gbytes por hora.

Com os codecs MPEG, no caso do Bluray reduz-se isto para 40Mbits (5Mbytes/seg) uma redução de 97% face ao bitrate original.
Mas depois temos que considerar a eficiência dos codecs, com o formato H.264 a ser considerado cerca de 4x mais eficiente que o mais antigo MPEG2. Isto faz com que um filme a 40Mbits em MPEG2 possa ser codificado de forma indistinguível num ficheiro H.264 a apenas 10Mbits.

É isto que permite que filmes com 30-40GB possam na maior parte das vezes ser codificados em 8-10GB sem que se vejam grandes diferenças.
Estou a falar em casos gerais, claro que haverá situações onde nem sequer esses 40Mbits serão suficientes para condificar um cena, causando artefactos na imagem e perda de detalhes - mas daí a dizer que um filme é melhor por ter apenas mais bitrate... vai uma grande distância.

Isso é uma artimanha a que a Sony (e não só) recorre habitualmente. Já no meu velhinho leitor de DVD tinha a opção de ver um gráfico com o bitrate do filme a que estivesse a assistir. Mas depressa cheguei à mesma conclusão que aqui partilhei convosco... fazer com que as editoras "gastem" bitrate só para dizer que o filme tem mais qualidade não é a melhor solução nem é o caminho que devem seguir.

O melhor é que se esforcem por fazer com que o filme seja fiel ao original, sem ter medo de dizer que bastaram 3 ou 5 ou 10 ou  se foram realmente necessários os 40 Mbits para o fazer.

5 comentários:

  1. Muito boa explicação. Concordo plenamente com a tua opinião.

    Cumprimentos, David Carreira

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  2. Bom artigo e com uma boa explicação daquelas que... se percebem!

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  3. Pois... agora falta saber quais os valores mínimos que se entendem. Netcabo, Meo, Clix e outros tem perspectivas diferentes (apesar de a codificação para uso de internet), sendo que a minha diverge de todos eles :)

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  4. tu realmente gostas e sabes escrever (ou copiar... :) )

    Ja nos meus tempos iniciais de DivX usava o gspot para ver n so o bit rate do audio e video, mas tambem uma unidade q para mim sempre foi MUITO mais importante: o Qt (quarter pixel)

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  5. Copiar? Mando-te já pesquisar no Copyscape durante 1 semana como castigo! :P

    Se nas notícias não posso "inventar" muito, porque basicamente é falar tudo do mesmo; nestes artigos é tudo original.

    Se fosse blogger profissional a tempo inteiro, aí sim... seria uma maior percentagem de artigos destes. :)

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