Artigo originalmente publicado na revista Connect de Fevereiro de 2010.
A Realidade Aumentada
A Realidade Aumentada é uma tecnologia cada vez mais falada. Todos, desde fabricantes de hardware a produtores de software, passando por livros e revistas, se apressam a incluí-la de uma forma ou de outra nos seus produtos; umas vezes como meros métodos de atracção de novos clientes, outras vezes como ferramentas bem úteis que fazem antever o que o futuro nos reserva.Mas afinal, que é esta "coisa" chamada Realidade Aumentada?
Muito simplesmente, a realidade aumentada consiste em sobrepor informações digitais às imagens do mundo real. Certamente já terão visto algo do género num qualquer filme de ficção científica estilo "Exterminador Implacável", onde a visão do robot mostra inúmeras informações sobre tudo à sua volta e sobre os seus alvos; ou nos sistemas "HUD" (Head-Up Display) usados na aviação militar que mostram a mira a seguir um avião inimigo.No entanto a Realidade Aumentada leva isto ainda mais além, ao introduzir elementos 3D animados sobrepostos no mundo real.
Desta forma, as páginas de uma revista podem subitamente ganhar vida, com elementos que saem das suas páginas e que - nalguns casos - podem até interagir com os utilizadores.
Esse "aumento" da realidade pode ser feito de várias formas, mas consiste sempre numa câmara que captura as imagens do mundo real, um computador que processa a informação e adiciona os elementos virtuais, e um método de visualizar o resultado: quer seja um ecrã de televisão, um projector, ou um simples telemóvel.
Não confundir esta realidade aumentada com a sua parente próxima: a "realidade virtual"; são coisas distintas. A Realidade Virtual permite-nos "entrar" num mundo digital que não existe; na realidade aumentada, usamos informação digital sobreposta no mundo real. Se bem que, há projectos que tornam difícil esta separação, usando e misturando elementos de ambos os "universos" de formas que tornam difícil a sua categorização.
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Para que serve a Realidade Aumentada?
As aplicações deste tipo de tecnologia são praticamente ilimitadas. Podemos rapidamente imaginar este realidade aumentada como auxiliar educativo nas escolas, como ferramenta artística e profissional para arquitectos e engenheiros, ou até como simples entretenimento. Várias revistas começam a lançar algumas edições usando esta tecnologia, e o mesmo já foi feito também no mercado dos video jogos, com o jogo Eye of Judgement para a Sony PS3. Neste jogo de tabuleiro, as cartas estáticas ganham vida no televisor, transformando-se em criaturas tridimensionais que podem "segurar" nas vossas próprias mãos.
[Eye of Judgement na Sony PS3]
Mais recente, e um pouco mais avançado, o Eye Pet (também para a PS3) permite-nos ter uma mascote virtual que passeia pela nossa sala e com a qual podemos brincar e interagir.
[EyePet para a PS3]
Este tipo de realidade aumentada funciona usando "marcadores" que são reconhecidos pelo computador. Utilizando uma câmara - que pode ser uma vulgar webcam - o programa de realidade aumentada identifica os símbolos especiais presentes nas páginas e determina a sua posição e orientação. Isso permite que o computador possa assim sobrepôr elementos 3D virtuais (estáticos ou animados) de forma correcta, mesmo quando o objecto se move em relação à câmara.
[Marcador para realidade aumentada]
No entanto, não se pense que basta apontar uma webcam a um destes marcadores para ver alguma coisa saltar do ecrã em 3D - é sempre necessário um programa de realidade aumentada que reconheça a marca em questão, sendo normalmente fornecido em conjunto com o elemento ou marcadores que lhe servem de base.
Cada programa reconhece apenas e só os elementos para que foi concebido, pelo que não adiante passarem cartas do tal Eye of Judgment à frente de um outro programa de Realidade Aumentada esperando ver os tais monstros em 3D.
A Realidade Aumentada no Exterior
Embora aquele tipo de realidade aumentada continue a expandir-se, assistimos agora a uma migração da realidade aumentada para outras áreas, e nomeadamente: o exterior. Se até aqui estávamos presos aos "computadores de secretária" para usufruir da realidade aumentada, a última geração de smartphones veio mudar tudo isso. Finalmente temos a capacidade tecnológica que permite colocar câmaras de vídeo, ecrãs a cores, capacidade elevada de processamento, GPS, bússolas digitais, acelerómetros, e muito mais, num pequeno dispositivo que cabe no nosso bolso. Isso permite que possamos utilizar a realidade aumentada onde quer que estejamos, e as possibilidades são... imensas.Nestes smartphones, como o iPhone, os Android, e similares - cuja definição correcta deveria ser "computadores de bolso que, por acaso, também integram um telefone" - é agora possível apontarmos a câmara para o céu nocturno e vermos o nome das constelações sobrepostos nas estrelas. Ou, num caso mais próximo da nossa superfície terrestre, utilizando o Layar, um browser de realidade aumentada disponível para os dispositivos Android e para o iPhone, é possível vermos informação sobreposta geograficamente nos locais correctos - que incluem informações sobre as cidades, fotografias disponíveis na Internet, e até casas para venda e aluguer que se encontrem nas nossas imediações.
[Imagem do Layar a mostrar terrenos à venda na zona circundante]
Actualmente, é este o tipo de "realidade aumentada" que tem vindo a ganhar mais popularidade, havendo até programas capazes de vos guiar até ao vosso automóvel, como o CarFinder para o iPhone.
[Car Finder para iPhone]
Neste caso, e ao contrário do que algumas pessoas possam pensar, não é a imagem captada pela câmara que é reconhecida pelo dispositivo - sendo utilizado o GPS, a bússola digital e os acelerómetros para determinar a posição e orientação do aparelho. Os resultados serão apresentados quer estejam a apontar para a paisagem ou para uma parede.
No entanto, há projectos que utilizam efectivamente o reconhecimento das imagens captadas da câmara, para permitir a identificação dos elementos sem a necessidade de utilização dos tais "marcadores". Este tipo de aplicações é ainda bastante complexa para a maioria dos dispositivos actuais, e requer que sejam criadas gigantescas bases de dados - mas será algo que certamente se tornará comum no futuro.
Quando isso acontecer, poderemos apontar o nosso telemóvel para qualquer edifício e instantâneamente ver todas as informações disponíveis sobre ele. No caso de um hotel, poderemos ver os quartos livres disponíveis; no caso de um restaurante poderemos ver a sua ementa; no caso de um cinema, poderemos ver os filmes em exibição e os seus horários. Tudo sem ser necessário andar a introduzir texto ou fazer pesquisas.
O que o futuro da Realidade Aumentada nos reserva?
Só recentemente começamos a ter dispositivos móveis que permitem explorar este tipo de tecnologia. Ainda na sua infância, estes primeiro contactos com a realidade aumentada servirão de base para descobrir e desenvolver novos interfaces e novas formas de interagirmos com os computadores.Veja-se o caso de projectos já existentes e prontos a funcionar, como o Sixth Sense (http://www.pranavmistry.com/projects/sixthsense/) de Pranav Mistry, que dá uso a câmaras e microprojectores para dispensar completamente o uso de ecrãs, teclados e touchscreens. As informações são projectadas sobre qualquer superfície, seja ela uma parede, um objecto, ou até mesmo as nossas mãos; e permitindo a interacção através de movimentos e gestos reconhecidos pela câmara. Algo que parece saído de um filme de ficção científica, mas que já é tecnicamente possível nos dias de hoje.
Se actualmente este tipo de ferramenta é ainda de utilização pouco frequente, no futuro a realidade aumentada fará - cada vez mais - parte integrante do dia a dia; quer seja utilizada através dos sucessores mais avançados dos actuais smartphones, projectada no mundo real, ou até transmitida directamente para os nossos olhos através de óculos digitais. Há até quem já esteja a trabalhar na criação de lentes de contacto electrónicas que nos permitirão finalmente esquecer todos os outros tipos de monitor.
Seja qual for o rumo que o futuro decida tomar, é mais que certo que a fronteira entre o real e o virtual se tornará cada vez mais difícil de definir.
muito bom ;)
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