2012/08/21

O fim das Estantes carregadas de Livros


As pessoas da minha geração ainda terão certamente muitas e boas memórias (espero eu!) de números livros enchendo estantes nas casas onde cresceram. Autênticas mini-bibliotecas de conhecimento, cuidadosamente compiladas pelos nossos pais, numa altura em que a visita regular do "senhor do Círculo de Leitores" era o que de mais próximo tinhamos das "compras online".

Era uma visita sempre muito aguardada, e onde por norma os meus pais lá me davam a possibilidade de escolher um livrito qualquer para acrescentar à colecção - e pelo qual depois ansiosamente esperávamos a sua chegada na visita seguinte.

Embora pelas estantes lá estivessem os grandes clássicos da literatura, eu perdia todo o meu tempo a folhear enciclopédias, Atlas, livros sobre as civilizações desaparecidas, os oceanos, os grandes mistérios do nosso planeta, etc. etc. A nível de livros "só de texto", aí as coisas eram mais restritas, sendo que só me atraiam (já naquela altura) as histórias de ficção, como as 20 mil léguas submarinas, a Máquina do Tempo, e outros que tais.

Mas, penso que essa era chegou ao fim: a era das estantes carregadas de livros (ou de divisões inteiras dedicadas a estas bibliotecas caseiras), como aqui é contado por alguém que teve que mudar de casa e descobriu que teria que pagar $3,000 dólares só para levar os seus livros.

Sem dúvida que a conveniência dos eBooks se torna bem mais atractiva, e podemos carregar connosco (ou ter sempre disponível "na cloud") milhares e milhares de livros, sem que com isso tenhamos que lhes dedicar o sempre curto espaço físico em nossas casas - e também evitar que tenhamos que lidar com as condições adequadas à sua boa manutenção. Evita também que tenham que ser recorrentemente organizados, ou que se tenham que criar habilidosas manobras artísticas, quando numa colecção de 20 livros, há 1 ou 2 que "não cabem" e têm que ser arrumados noutro lado; evitando também ceder à tentação de começar a empilhá-los em qualquer lado, e inevitavelmente - passados uns meses, talvez - termos que passar uns dias a arrumá-los todos novamente.

Os eBooks são mais convenientes é certo... Mas... serei só eu a ficar com uma estranha sensação de perda nostálgica? De não mais ver as estantes pintadas com as lombadas de livros de diferentes cores e tamanhos? De não mais sentir a textura e o cheiro das suas páginas, ou até de ver algumas das páginas rabiscadas com notas e apontamentos, feitos pelos nossos pais ou por nós próprios, décadas antes?

... e então aquele pesadelo constante de um qualquer dia haver um qualquer colapso que faça da "cloud" uma miragem, e que os leitores de Ebooks não mais electricidade tenham para funcionar, e que todo esse conhecimento digital fique perdido para sempre - e que nos faça pensar: ah, como seria bom se ainda tivessemos livros em papel...


Qual é a vossa relação com os livros e essas estantes carregadas que agora se vão tornando cada vez mais raras?

9 comentários:

  1. Circulo de Leitores smp Presente!!! As minhas estantes tão cheias. Basicamente tenho todas as enciclopédias e livros de ciência k o círculo consegue fornecer. =D

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  2. Faltam 2 coisas para o mundo dos ebooks ficar completo:
    - Preços melhores nos ebooks em comparação com papel, entre um e outro, se pago o mesmo preço, prefiro ficar com algo material, nem que seja para embelezar a estante.
    - Possibilidade de emprestar todos os ebooks como se emprestam livros (já existe, mas super limitado e desconhecido).

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  3. Lol como me lembraste do "Circulo de Leitores"! Primeiro deixa-me apontar que esses tempos de nostalgia mostram-me uma época (fundamentalmente dos meus pais) em que as pessoas realmente compravam livros e interessavam-se pela cultura geral, coisa que hoje em dia foi substituída pela "cultura do futebol". Quanto ao tema, concordo com o Tiago e aproveito para acrescentar que a ganância das empresas está a levar aos limites a paciência das pessoas, senão vejam: quando eu compro um livro (ou música, filme, etc) o livro é meu no sentido 100% da palavra. Logo eu posso DAR, EMPRESTAR, VENDER. Quando eu compro a versão digital (ebook, mp3, mp4, jogo iOS ou android) Na esmagadora maioria das vezes eu compro...OS DIREITOS DE USAR mas NAO posso vender, emprestar nem dar! Ora bem, no país onde resido (fora de Portugal) temos imensos ebook iguais à versão "papel" e o curioso é que a versão digital que NAO é minha, custa o mesmo ou, em alguns casos, é mais cara! Ora bem, sendo que ambas as versões vem do mesmo documento digital, em que uma é impressa (papel, tinta, corte, encadernação, logística, etc) e a outra é...gravada em, por exemplo, pdf/ePub, a versão digital teria que ser substancialmente mais acessível E passível de ser oferecida. Como a industria nao está contente apesar de já ganharem mais dinheiro (já que nao tem custos com impressão e distribuição), ainda querem limitar o ficheiro a uma pessoa! Ridículo. Daí que a partilha de documentos nao me faz confusão, já que a ambição destas empresas infelizmente corre contra elas. Lá passa pela cabeça eu comprar um filme ou cd de música e nao poder emprestar aos meus amigos para verem??? Passa pela cabeça de alguém EU PAGAR O MESMO pela versão digital E AINDA PAGAR A MEDIA DE SUPORTE (cartão de memória, HDD, etc) e...nem sequer posso emprestar ou dar? Tipo, compro um cd de música e nao gosto e já enjoei, e dou a um amigo. Pago o mesmo por um AAC e se fico farto nao o posso dar? Surreal...

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  4. Além das condicionantes todas já anteriormente faladas, também acredito que há uma relação com os livros e o seu aspecto físico que vai complicar muito a sua desmaterialização. Tanto que assim é, que até havia pirataria de livros, mas as fotocópias de livros não atingiram sequer números parecidos aos das cassetes piratas.
    Vi nascer e morrer o CD... Não me acredito que vá ver morrer o livro.

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  5. Não consigo!! Já o fiz com os Lp's e com os DVD, e começo a faze-lo com as fotografias. Mas os livros ao contrário da música é algo que se tem na mão. Nada como ter um filho na mão e folheá-lo.

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  6. Desculpa corrigir mas não é assim que se escreve ``Vi nascer e morrer o CD... Não me acredito que vá ver morrer o livro.´´ mas assim ``Vi nascer e morrer o CD... Não acredito que vá ver morrer o livro.´´

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  7. Eu tenho livros e ebooks e não abdico dos dois, ou seja cada um no seu lugar e função.
    Livros Técnicos, enciclopédias ou seja livros de consulta prefiro em papel.
    Os equipamentos portáteis ainda não funcionam bem com ficheiros pdf. Talvez com o novo windows 8 Pro a coisa possa mudar um pouco.

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  8. tal como vários outros voçês,cresci ne época em que começávamos e ler de tudo um pouco desde muito novos (enciclopédias,livros de história,atlas,medicina,biologia,etc etc etc...)conheçi o mundo do círculo bem de perto,já que o meu pai era agente e inúmeras vezes o acompanhei porta a porta,sendo a minha primeira experiência de contacto "profissional" com o publico (era ainda um fedelho de primária).. recordo com nostalgia esses tempos e tento manter esse espírito de autodidacta para que,daqui por uns (poucos) anos, o possa transmitir ao meu filho. abraços a todos voçês, ilustres desconhecidos, meus contemporâneos da saudosa "era croma".
    E.C.

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  9. Ai os tempos do circulo de leitores! :) A maior parte dos livros que o meu pai comprava eram de lá.. Tenho-me rendido a muita coisa, mas os livros digitais ainda não.. Adoro o cheiro de um livro novo e de ter o livro na mão e poder folheá-lo quando me apetece..

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