2013/02/16
O quilograma está a engordar
Penso que não será necessário relembrar todas as vantagens do sistema de dimensões e unidades métricas face às unidades imperiais que, contra toda a lógica, continuam a ser utilizadas por um número bastante reduzido de países:
No entanto, se muitas das medidas métricas têm origens científicas bem precisas - um metro é a distância percorrida pela luz no vácuo em 1/299.792.458 segundos; um segundo corresponde à duração de 9.192.631.770 períodos da radiação correspondente à transição de estados de um átomo de Césio 133; etc. - a definição do nosso adorado (e muitas vezes odiado) quilograma é algo que se pode dizer que é a excepção à regra.
É que no caso do quilograma, não existe definição cientificamente precisa: o quilograma é definido por comparação com o peso de referência do quilograma padrão internacional, conhecido como International Prototype Kilogram, ou IPK. Este pequeno cilindro feito de platina e iridium raramente é manuseado para evitar alterações ao seu peso (como se poderá entender), mas felizmente há diversas cópias espalhadas pelo mundo com as quais são feitas novas verificações e comparações para averiguar se tudo se mantém inalterado.
É que mesmo debaixo das suas cúpulas protectoras e do ambiente cuidadosamente controlado, o quilograma padrão está a ganhar peso! Ao longo de um século o quilograma ganhou cerca de 80 microgramas. Um valor que faria inveja a todos os que tentam seguir uma dieta rigorosa para não aumentar o peso, mas que não é aceitável em termos científicos onde se pretende que tudo "bata certo" ao pormenor.
Para isso, os cientistas vão dar um banho ao quilograma para remover as camadas de hidrocarbonatos que se vão acumulando na sua superfície, mas delicado o suficiente para não afectar a estabilidade da sua superfície ou alterar o seu peso. Um banho que eventualmente terá que ser repetido a cada década... ou, esperarmos que a comunidade científica acorde noutro método de definição do quilograma padrão.
É que há muito que se vem a debater a questão de se estar dependente de um objecto de referência, e já se sugeriu que passasse a ser definido em função da constante de Planck. Mas a tomada de tal decisão foi adiada para 2014, altura em que os organismos responsáveis se voltarão a reunir.
Quem sabe... pode ser que seja o último banho que seja necessário dar a este secular quilograma padrão.
Actualização: em 2019 adoptou-se finalmente a nova definição do quilograma.
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Ora aí está algo que não fazia a mínima ideia. Sempre a aprender :)
ResponderEliminarTinha ideia que era igual à massa de um decímetro cúbico de água.
ResponderEliminarSempre pensei que KG era um litro de água a uma gravidade a altitude zero..... não sei de onde tirei essa ideia....
ResponderEliminarPois parece que sim, o primeiro "protótipo internacional do kilograma" (um cilindro com 39 mm de espessura e altura, em crómio e irídio, e que está guardado em Paris) foi "afinado para pesar o mesmo que um litro de água pura à temperatura de 4º C. Acabou por ficar igual a 1,000025 litros.
ResponderEliminarDepois fizeram-se algumas réplicas que são afinadas periodicamente com o PIK e servem para afinar os restantes kilogramas. Parece que cada um limpa a sua réplica de maneira diferente (o mais usado é polir com uma camurça embebida em álcool) e em alturas diferentes e por isso o PIK e as réplicas têm uma certa tendência em não bater certo.
Muito interessante!
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