2013/10/14

Uma carta premonitória que tentou alertar a Nokia


Lembram-se do tempo em que os telemóveis eram feitos para fazer chamadas? Um jornalista sueco lembra-se perfeitamente, pois em 2008, depois de ter passado por dois telemóveis Nokia que foi capaz de usar imediatamente sem ter que recorrer aos manuais de instruções, deparou-se com um Nokia E51 no qual não descobria como fazer coisas como mudar o som do toque do telemóveis. Até para realizar operações básicas -como enviar mensagens- tinha que clicar e escolher entre diferentes opções, todas as vezes que o desejasse fazer. Por isso resolveu contactar a Nokia e expressar a sua preocupação.

É uma carta altamente recomendável que leiam, e que certamente reflecte a mesma coisa que muitos outros utilizadores pensavam, preocupados por ver uma marca que apreciam a seguir um rumo que não lhes parece o mais correcto - e que neste caso era um rumo que já tinha como termo de comparação o que a Apple estava a fazer com os seus iPhones e iPod Touch.

Acho que posso dizer que estou solidário com ele, não em relação à Nokia (curiosamente nunca tive um telemóvel Nokia), mas à Microsoft. Passei anos a desejar que a Microsoft desse um salto em frente no seu Windows Mobile, e a cada ano que passava sentia que era uma oportunidade que estavam a desperdiçar - e que não duraria para sempre. Seria uma questão de tempo até que alguém lançasse "algo" que fosse de encontro às necessidades daquelas pessoas que se sentiam frustradas por ter que usar teclados reduzidos com um stylus, arrastar barras de scroll e clicar em menus importados directamente de um Windows "desktop" e nada adequados para uma utilização touch...

Mas neste caso, em que se falava da facilidade de utilização e da frustração de um utilizador que compra um equipamento para se sentir "burro" a mexer nele... a coisa não pode ficar melhor explicada do que quando um executivo da Nokia se encontrou com ele, e confidencialmente lhe confessou que concordava com as suas críticas e que a Nokia tinha acompanhado bem de perto o lançamento do iPhone no ano anterior - tendo sido um dos que teve direito a levar um iPhone para casa para o experimentar assim que foi lançado. Quando a sua filha de quatro anos ficou curiosa, decidiu passar-lhe o iPhone para as mãos para ver como ela se comportaria, e ela começou a usá-lo imediatamente sem problemas... Nessa noite, quando se estavam a deitar, a pequenita foi ter com os pais e perguntou se podia levar o "telefone mágico" para a cama com ela.

Diz o executivo que foi nesse momento que percebeu que a Nokia estava realmente em apuros.

(Eu acho que o pior mesmo terá sido, depois de perceberem que estavam em apuros, não terem conseguido definir uma estratégia para enfrentarem esta nova ameaça em tempo útil... e agora, é aquilo que todos sabemos...)

1 comentário:

  1. ".. lhe confessou que concordava com as suas críticas e que a Nokia tinha acompanhado bem de perto o lançamento do iPhone no ano anterior", ou seja, por alturas do lançamento do Android - que se caracterizou (acho que é um aspecto pouco salientado) por não ter custos de desenvolvimento de software para os numerosos fabricantes de equipamentos Android, que proliferaram. Aí é que verdadeiramente se deu a catástrofe para a Nokia.

    Na história dos dispositivos móveis há duas situações que, embora sendo já apenas curiosidades, vale a pena reparar:
    - o que tinha acontecido se a Intel tem aceite fabricar os processadores para o iPhone ?
    - o que tinha acontecido se a Nokia tivesse adoptado o Android ?
    Não há dúvida que foram duas situações que aproveitaram à Samsung, por erro dos concorrentes.

    http://www.visionmobile.com/blog/2013/08/evolution-of-the-handset-business-from-source-of-profits-to-distribution-channel/

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