Por vezes somos levados a acreditar que só o povo português é que é perito em "esquemas", mas isso é uma ilusão. Na China, onde a Uber tinha anunciado já ter atingido um milhão de viagens por dia, há um problema crescente de viagens fraudulentas criadas pelos próprios condutores.
Quando a Uber entra num mercado, opta por oferecer condições promocionais extremamente vantajosas aos condutores e parceiros, por forma a ter uma rápida expansão (cujo mediatismo servirá também como forma de promoção adicional do serviço). Só que alguns condutores chineses gostam de "negócios da China"... e olham para estas condições promocionais como uma forma fácil de multiplicarem os seus rendimentos, criando viagens fraudulentas.
Em fóruns "secretos" proliferam a venda de smartphones alterados para poderem enganar a app da Uber fazendo-se passar por múltiplos telefones independentes, cada um associado a diferentes contas Uber. Depois, a técnica é simples. Quando um condutor sabe que irá ter que apanhar um passageiro (por exemplo no aeroporto) aproveita para ganhar dinheiro também no trajecto até lá, solicitando nesses smartphones um viagem fraudulenta para esse destino com ponto de levantamento perto de onde está actualmente. No final, marca a viagem como feita e dá a si próprio a pontuação de excelente; apanhando um passageiro real para o trajecto de regresso.
Isto torna-se rentável porque, com as condições promocionais de entrada no mercado, o condutor pode receber um bónus de até três vezes o valor da viagem: o que permite pagar a viagem fraudulenta e ainda receber mais do que receberia normalmente por uma viagem sem bónus.
Para os condutores que não queiram carregar um smartphone falsificado, existem já serviços organizados que podem ser requisitados e que se encarregam de criar estas viagens fraudulentas, falsificando a localização GPS dos seus smartphones de modo a que pareçam estar no local pretendido para a recolha, e que acompanham o trajecto da viagem até ao destino. Uma verdadeira "indústria da fraude" criada em tempo recorde para se aproveitar das condições iniciais da Uber - e que a marca faz questão de referir que não são exclusivas do mercado chinês. Aliás, diz até que a taxa de fraudes na China é inferior à de outros países, mas que como se trata de um mercado imenso, os seus números são mais preocupantes.
Por cá, como os condutores têm direito a ordenados fixos (por parte das empresas que prestam o serviço ao Uber) não me parece que haja qualquer necessidade de se recorrer a este sistema. Quando muito temos é que recorrer a proxys e VPNs para podermos aceder ao site da Uber, e certificarmos-nos que o cartão que associarmos ao serviço não é dos que está bloqueado - esquecendo-se que isso prejudica os utilizadores portugueses que se dirigirem ao estrangeiro e quiserem usar o serviço Uber em países onde podem operar sem chatices.
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