O mini-drone Zano foi o projecto europeu mais bem sucedido de sempre no Kickstarter, angariando mais de 2 milhões de libras; mas um ano depois tornou-se num dos seus mais mediáticos falhanços - ao ponto de levar o Kickstarter a contratar um repórter independente para investigar o que se passou.
Projectos de crowdfunding falhados não são novidade nenhuma, mas o mediatismo e os valores envolvidos neste Zano levantaram preocupações adicionais. Afinal... o Kickstarter não se poderia dar ao luxo de deixar que um projecto como este pusesse em causa a sua credibilidade enquanto plataforma de crowdfunding, afugentando potenciais investidores para projectos futuros.
O relato de Mark Harris, o repórter contratado pelo Kickstarter (mas com a condição de manter total independência) é longo mas pinta o retrato do que se terá passado nos bastidores, e onde se fica a saber que este projecto nem deveria ter passado no crivo inicial do Kickstarter: o vídeo promocional do Zano foi claramente editado e mostrava coisas que o Zano nunca fez nem viria a fazer (as regras do Kickstarter dizem que nos vídeos só se podem mostrar produtos reais, a fazer coisas que possam realmente fazer no momento actual).
Ficamos também a saber que embora cheios de boa vontade, os responsáveis pelo projecto já tinham tradição na área de prometerem coisas que não conseguiam cumprir, nomeadamente um projecto para os militares, onde também prometiam um sistema de voo autónomo para um drone... no qual foram desperdiçados três anos sem nunca conseguirem algo funcional. Ainda assim, aventuraram-se no lançamento do projecto Zano orientado para os consumidores, e o sucesso no Kickstarter e os milhões angariados, fê-los entrar em fase de autêntica euforia... automóveis novos, computadores topo-de-gama, contratações de dezenas de pessoas... Mas tudo isto sem "má vontade", diz-nos Mark Harris. Afinal, quem poderá dizer que em circunstâncias idênticas não se sentiria tentado a fazer o mesmo, estando convicto de que conseguiria cumprir com o prometido?
[carros novos, iMacs, televisores gigantes - era assim na fase "eufórica" do Zano]
Só que o prometido depressa começou a revelar-se complicado de concretizar, com problemas atrás de problemas. Ainda assim, o Zano abria pré-vendas para angariar ainda mais dinheiro (que no entanto ficava retido pelo PayPal até que o produto fosse enviado - e que levou à polémica decisão de despacharem algumas unidades para os compradores em vez dos investidores iniciais do Kickstarter). Quem conseguiu receber um destes Zanos descobria que afinal aquilo nem conseguia voar, que a qualidade do vídeo nada tinha a ver com o do vídeo da apresentação do projecto - e não ajudará que estes mini-drones estejam continuamente dependentes de um servidor central para a calibração inicial(!?!), o que faz com que mesmo que até estivessem em estado funcional, deixariam de o estar com o fim da empresa!
[bem que podia estar a passar a mensagem "FAIL"]
Enfim, fica a sugestão de maior educação por parte do público, de que qualquer campanha de crowdfunding não equivale a uma compra mas sim a um investimento com riscos associados; e de que as plataformas responsáveis também deverão ter maior atenção na análise dos candidatos (neste caso, o vídeo de apresentação era - para todos os efeitos - falso, e não deveria ter sido aceite.)
Penso que cabe acima de tudo à Kickstarter, para projectos que evoluem para valores significativos, recolher provas "físicas" e confiáveis para benefício e reconhecimento do seu serviço.
ResponderEliminarOs "investidores" devem acautelar as suas economias sabendo que até os mais impolutos e insuspeitos "serviços" podem resultar no maior e mais doloroso fiasco (vejam o caso dos bancos de nível internacional que ruiram nesta última década)