2018/01/13

Campanha contra o Nónio alerta para violações de privacidade

Quem visitar alguns dos mais populares sites noticiosos nacionais pode ser convidado a registar-se na plataforma Nónio que reivindica um sistema de login único que facilita a vida aos utilizadores - mas há quem alerte para os riscos desta plataforma e a violação da privacidade dos utilizadores.

Alguns dos maiores grupos de comunicação social nacionais aliaram-se para criar o Nónio, dizendo que com isso os utilizadores só precisarão registar-se uma vez para aceder a todos os sites abrangidos pela plataforma, e que com isso poderão oferecer conteúdos personalizados para cada utilizador.

A questão é a mesma de sempre; quando um site está a "oferecer" algo gratuitamente, é porque os visitantes são o produto. E a aqui a plataforma Nónio encarrega-se de recolher o maior número possível de dados sobre cada utilizador. Quem lá for parar e optar pelo registo com base numa rede social, estará a ceder o seu email, nome, data de nascimento, foto de perfil e localidade.

Como referido na página da campanha contra o Nónio, os leitores não deverão registar-se no Nónio, por dois grandes motivos: 1) violação de privacidade e 2) o efeito "filtros-bolha".

Violação de privacidade

Uma leitura da política de privacidade do Nónio, esta plataforma viola a sua privacidade porque recolhe através de cookies ou outras técnicas de fingerprinting os seguintes dados: o endereço IP de cada sessão, data e hora de acesso ao artigo, versão do navegador web e sistema operativo utilizado, resolução de ecrã, dados referentes à localização, pontos de acesso Wifi, assinatura canvas (que o website Nónio utiliza), entre outros. Atualmente é possível unificar essas assinaturas/fingerprints, mesmo utilizando navegadores web diferentes em diferentes plataformas.

A plataforma irá coletar e armazenar todo o histórico dos artigos que leu dos websites aderentes. Segundo declarado na página oficial: "Usar a internet e os seus serviços, implica, necessariamente, a transmissão de informação a nível internacional. Assim, ao relacionar-se connosco e ao consentir a comunicação de dados a terceiros, está a reconhecer que sabe e a consentir no tratamento de dados nesta escala"

Ou seja, todos estes dados podem ser acedidos por terceiros. Mesmo que o leitor deseje eliminar os seus dados, estes apenas serão apagados ou anonimizados um ano após a desativação do registo pelo utilizador. No mundo do Big Data, não existem dados anonomizados, ler artigo onde são dados exemplos de de-anomomização de base de dados. A partir da análise desses dados é possível inferir por exemplo: afiliação política, religião, poder de compra, estado emocional, padrões de sono.

Efeito "filtros-bolha"/echo chamber

Quanto mais o leitor interagir com esta plataforma, mais dados esta recebe sobre si, e por conseguinte, terá um perfil de gostos de leitura cada vez mais detalhado. Como o objetivo/modelo de negócio da plataforma é que esteja o maior tempo possível na plataforma, mais tempo de exposição há publicidade, serão recomendardos cada vez mais e mais direcionados apenas artigos de um certo ponto de vista. O leitor com o desenrolar do tempo ficará dentro de uma "echo chamber". Não é exposto a informação contrária às suas preferências que poderia desafiar ou ampliar a sua visão do mundo. Este fenómeno é designado por Eli Pariser de "filtros-bolha". É recomendado a visualização da sua Ted Talk Eli Pariser: Tenha cuidado com os "filtros-bolha" online.

Efeitos secundários

Além dos dois problemas referidos, outros problemas não menos importantes devem ser explicados. A partir da análise desses dados, é possível inferir os gostos da população portuguesa, e com fim a maximizar os lucros, mais artigos de baixo teor jornalísticos (artigos clickbait geram mais tráfego/receita) serão escritos, levando à decadência desta nobre profissão. Por consequência, uma população com menos acesso à informação de qualidade, não toma decisões corretas, levando à decadência gradual de regimes democráticos.

Em resumo e como refere Zeynep Tufekci na seu recente Ted Tak, Estamos a criar uma distopia só para fazer com que as pessoas cliquem em anúncios.

5 comentários:

  1. Tudo malta da direita, tao bons que eles são esses empresários de sucexxo!

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  2. Porque não solicitam também o telefone móvel, número de contribuinte, morada completa e foto real?

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    1. E já agora o acesso à conta bancária para verificarem onde se fazem compras, saldo e possibilidade de autorizar compras imediatamente só com um "sim" em autorizado, ou até directo sem precisar de perguntar nada para não ser complicado comprar nos sites parceiros... e assim ser mais fácil sugar o dinheiro sem que as pessoas se apercebam.

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  3. estamos bem entregues aos sanguessugas

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  4. bugmenot.. tudo reslvido.. instalem o plugin ublock-origin (chrome ou firefox) fudeu.vos google que deu 900k€ para este projeto

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