A Asus tem explorado produtos com formatos menos convencionais ao longo dos anos (lembram-se do Eee Keyboard?) e é também esse o caso do ZenBook Duo, que aplica um generoso ecrã secundário a toda a largura do portátil na secção habitualmente ocupada pelo ecrã.
A Asus é uma das marcas que mais tem apostado em termos de inovação, não tendo receio em apostar em soluções que à partida podem parecer demasiado arriscadas. Este ZenBook Duo é um bom exemplo disso mesmo, com a marca de Taiwan a não ter qual quer problema em apostar num portátil com dois ecrãs, tendo que para isso assumir alguns compromissos em termos de design e usabilidade.
O Asus ZenBook Duo - unboxing
Desde a chegada do Asus Transformer que temos assistido ao lançamento de propostas que fogem ao habitual conceito de computador portátil. Numa altura em que algumas marcas vão arriscando a sua sorte no mercado dos dobráveis, a Asus preferiu optar por uma solução mais conservadora, apresentando um produto com dois ecrãs separados, com o segundo ecrã na base do portátil, onde normalmente só temos o teclado e o touchpad.
Dentro da caixa, à direita, encontramos o portátil envolto na protecção de plástico transparente, que apresenta na zona inferior um autocolante que dá destaque aos principais argumentos deste equipamento.
Do lado esquerdo da caixa, o carregador e respectivo cabo.
Este é desde logo um dos elementos menos conseguidos deste ZenBook Duo, com a Asus a apostar numa ficha já de todo antiquada, quando poderia muito bem ter optado por um carregador com ficha USB-C. Os 65W de potência não serão por certo o motivo que justifica esta opção, até porque já há carregadores com ficha USB-C que suportam até 100W.
O ZenBook Duo
O corpo deste ZenBook Duo da Asus apresenta diversas particularidades, desde logo a começar pela forma da base, com um formato em cunha, a crescer para a traseira do portátil. A parte frontal das laterais é utilizada para a instalação das colunas, havendo ainda mais duas saídas de som na parte de baixo do equipamento, juntos às grelhas laterais. A norma militar MIL-STD-810G é garante de robustez, permitindo a operação do portátil em ambientes com condições adversas de temperatura e humidade.
Do lado esquerdo, além da ficha para a alimentação, temos ainda uma saída HDMI, uma porta USB 3.1 Gen 2 e uma porta USB 3.1 Gen 2 (10Gbps).
Do lado oposto, uma porta USB 3.1 Gen (5Gbps), saída de som para jack de 3,5mm, leitor de cartões microSD e dois LEDs de estado.
O sistema de dobradiça ErgoLift é mais uma das particularidades do ZenBook Duo, com a rotação do ecrã a trazer a sua zona inferior para um plano mais baixo que o corpo do portátil, tornando o ecrã num ponto de apoio. Este sistema tem a vantagem de permitir uma melhor ventilação, não obstruindo a grelha de ventilação na zona inferior da base.
Confesso que quando vi este sistema pela primeira vez torci o nariz, lembrando-me de como era desconfortável o apoio traseiro do Surface Pro quando utilizado sobre as pernas. Sendo certo que não estamos numa época de calções com joelhos à mostra, o apoio do ecrã nas pernas não se revelou problemático durante as viagens de comboio. Numa mesa, naturalmente que não apresentará qualquer problema, mesmo em termos de contacto com a superfície, pois temos duas pequenas borrachas a protegerem o ecrã.
Levantando o ecrã do portátil, deparamos-nos com uma mensagem que dá destaque ao ScreenPad+, o ecrã secundário do ZenBook Duo, mas antes de passarmos ao este último, vamos falar do ecrã principal, que apresenta uma resolução 1920x1080 numa relação 16:9.
A moldura "NanoEdge" do ecrã, com apenas 3,5mm (segundo a marca) possibilita uma área de visualização de 90%. Um olhar mais atento revela dimensões um pouco superiores ao valor apresentado nas especificações do produto. Lateralmente, tem efectivamente 3,5mm, mas temos de lhes somar a capa exterior do ecrã, o que faz com que a margem lateral efectiva passe para cerca de 5,5mm.
Na margem superior temos uma situação semelhante, com a moldura a ter 5,5mm, perfazendo 9mm no total. A margem inferior é a maior das três, mas acaba por ter pouco impacto na visualização devido ao desnível que o sistema de dobradiça providencia.
O ScreenPad+, o grande destaque ZenBook Duo, tem 12,6" e apresenta um resolução de 1920 por 515 pixels. Apresenta um tom bastante mais esbatido que o ecrã principal, havendo por vezes que puxar mais um pouco pela luminosidade deste ecrã, especialmente nas zonas com muita iluminação. Distingue-se igualmente pelo facto de possuir detecção do toque, algo que não acontece com o ecrã principal e que por vezes dá origem a toques inúteis no ecrã principal. Sendo eu um confesso adepto desta tecnologia, gostaria de ver a detecção de toque nos dois ecrãs, algo que no entanto está apenas reservado para o ZenBook Duo Pro.
Em termos de especificações, este portátil conta com um processador Intel Core i7-10510U de 10ª geração (alternativa Core i5-10210U) 16GB RAM LPDDR3 a 2133MHz (opção 8GB), SSD 1TB PCIe Gen3 x4 (opção de 256 ou 512GB Gen3 x2), alimentados por uma bateria de 71W que, segundo a Asus, garante 15,7 horas de autonomia com o ScreenPad ligado ou 22,4 horas com este último desligado. De referir ainda a placa gráfica dedicada, com a Asus a optar por uma NVIDIA GeForce MX250. Esta gráfica está longe de ser um garante de alto desempenho, sendo apenas capaz de permitir jogar alguns jogos, sem abusar da resolução e qualidade gráfica. É uma opção questionável, mas que curiosamente é transversal a todos os OEM, que apostam em gráficas de baixo nível de desempenho, sem que se perceba a razão para tal opção.
No mercado nacional, apenas está disponível a versão testada, com Intel Core i7, Gráfica GeForce MX250, 16GB de RAM e 1TB SSD, por 1699,99€ (PVPR).
Em utilização
No que diz respeito à experiência de utilização, o processador Intel de décima geração (i5 ou i7), 8 ou 16GB de RAM e um disco SSD NVMe PCie de alto desempenho, são garante de qualidade, não havendo lugar a qualquer atraso no tempo de resposta. A grande questão está na avaliação do impacto do ScreenPad+ na forma como realizamos as tarefas mais simples e corriqueiras, como seja a escrita de um texto, ou a consulta das redes sociais. Comecemos pelo impacto do ecrã secundário, nas dimensões do teclado e touchpad.
Ao passar o touchpad da zona inferior da base para a lateral, não aumentando a largura do corpo, a Asus teve obrigatoriamente que reduzir a dimensão do teclado e do touchpad, ambos bastante mais pequenos que o habitual. O teclado aparece também descentrado, encostado à esquerda, o que acaba por ter impacto na forma como teclamos. A mão esquerda fica na posição habitual, mas a direita tem obrigatoriamente que se deslocar mais para o meio de forma a ficar enquadrada com as teclas.
As teclas de cursor (com dupla função home/end/page up/page down) estão localizadas na zona inferior direita do teclado. Do lado direito destas, a Asus apresenta uma tecla shift de reduzida dimensão. A proximidade das teclas de cursor faz com que a tecla cima possa ser erradamente pressionada. Se o utilizador não se aperceber, rapidamente está a escrever na zona errada, havendo mais texto para corrigir. A acentuação é outra área que é afectada pelo posicionamento da tecla shift, saltando-se de linha, ao invés de se obter o pretendido acento.
Apesar de mais pequenas do que o desejável, as teclas oferecem uma experiência muito agradável ao teclar. Há no entanto que enfrentar uma curva de aprendizagem e adaptação a este teclado que irá levar algum tempo.
O touchpad tem metade do tamanho que desejavelmente deveria apresentar, o que acaba por dificultar a movimentação do cursor. Se no caso do ScreenPad+ temos a detecção do toque para amenizar esta situação, a navegação no ecrã principal fica comprometida, com o cursor a fazer apenas metade do ecrã de cada vez. A detecção do toque nem sempre acontece de forma eficaz. Na vertical, funciona sempre na perfeição, mas nos movimentos laterais há muitas vezes em que o touchpad não detecta o movimento do dedo
Teclado e touchpad com dimensões mais pequenas que o desejável e as implicações que este facto tem na experiência de utilização, são o preço a pagar pela presença do ScreenPad+, um segundo ecrã que obrigatoriamente altera a forma como utilizamos o portátil.
Um ecrã deverá ser sempre o maior possível, independentemente do equipamento, havendo apenas que garantir que a experiência de utilização não é comprometido. Por esta razão, a presença de um segundo ecrã que permite expandir a área de visualização para a apresentação de conteúdos é bem vinda.
Sendo certo que é possível expandir uma janela aos dois ecrãs, esta tipologia de utilização não será por certo a mais comum, até porque a imagem fica em dois planos diferentes, não muito agradável em termos de visualização ou conforto de utililzação. Esta tipologia de utilização será interessante para os programas de edição de imagem e vídeo, com os controlos a ficaram disponíveis no segundo ecrã, onde poderão ser controlados com recurso ao toque.
O mais comum, será a utilização do ScreenPad Plus para apresentação de conteúdos de uma segunda aplicação, ou até mesmo três ou quatro aplicações em simultâneo. Para facilitar a vida ao utilizador, a Asus disponibiliza um alargado conjunto de ferramentas que permitem gerir as aplicações nos dois ecrãs.
O menu de acções (app switcher), ao movimentar-se uma janela, permite trocar a janela para o outro ecrã, afixar a aplicação no iniciador (explicação de seguida) e maximizar a janela, expandindo a mesma aos dois ecrãs.
O organizador facilita igualmente a gestão das janelas identificando a área de cada zona, delimitada com uma linha a branco.
Na lateral esquerda do ScreenPad Plus temos um ícone de acesso a um conjunto de aplicações, com um conjunto de ícones na vertical a identificar cada secção. A primeira é a do launcher, que permite chamar aplicações que vão ser apresentadas no ecrã secundário. O lápis permite editar as aplicações, alterando a sua posição ou removendo as mesmas, sendo que as quatro da primeira fila são permanentes. O ícone desta secção permite controlar o brilho do ecrã ScreenPad Plus, através de uma barra horizontal.
A segunda secção permite gerir o layout das janelas, criando grupos que podem ser chamados através de um ícone que identifica cada um dos setups com até cinco janelas. Será bastante útil para definir layouts de trabalho, evitando que o utilizador tenha de estar a chamar e posicionar cada uma das apps individualmente.
O terceiro ícone tem apenas uma função, permitindo trocar as janelas de ecrã. No teclado, à direita ao lado do delete temos uma tecla permite executar a mesma funcionalidade.
O quarto ícone é o gestor de tarefas, apresentando as janelas a correr no ScreenPad Plus. O quinto ícone permite bloquear o teclado, para que se trabalhe mais livremente sobre o ecrã secundário.
O último ícone é o das definições, onde se podem configurar funcionalidades e opções do ecrã secundário.
As quatro aplicações permanentes pretendem ser uma cartão de visita para demonstrar as potencialidades do ScreenPad Plus. A Quick Key permite associar botões a acções, com o utilizador a poder chamar aplicações ou executar comandos, como o copiar e colar. O handwriting possibilita a escrita com o dedo ou uma "caneta" (que não é fornecida com o portátil). O teclado numérico, como o nome indica, permite aceder ao mesmo no ecrã, através do toque. O quarto ícone dá acesso ao My Asus, onde se podem consultar promoções, contactar o suporte, efectuar diagnósticos, actualizar o software e configurar alguns aspectos do hardware, como é o caso da bateria, ventoinha e ecrã.
Com dois ecrãs para alimentar, os 71W da bateria poderiam à partida ser demasiado curtos, mas a utilização prolongada do equipamento veio mostrar uma realidade inesperada.
Com 5h51min de utilização e 47,5 horas em standby, o ZenBook Duo foi uma agradável surpresa, até porque em grande parte do tempo de utilização esteve em modo de desempenho, fruto da realização dos testes de benchmark, não tendo sido seleccionado um perfil de utilização "mais amigo" da bateria.
Uma palavra ainda para o sistema de som, com as colunas Harman Kardon a disponibilizarem um som muito agradável e melodioso, possibilitando a audição de um bom set musical enquanto se trabalha. Curiosamente, esta é uma área onde a Asus tem vindo a melhorar, mostrando-se mais consistente em termos de desempenho áudio - algo que infelizmente nem sempre acontece nos computadores portáteis, onde o som é um elemento que passa para segundo plano.
Apreciação final
Como se costuma dizer, "no arriscar é que está o ganho". Este ZenBook Duo está longe de ser uma máquina perfeita, mas em termos globais é um produto cheio de potencial que se assume como uma excelente ferramenta de trabalho em variados cenários de utilização. As teclas mais pequenas que o normal e a reduzida largura do touchpad vão obrigar a uma aprendizagem algo exigente, mas terminado o período de habituação poderá tirar-se o máximo partido do ScreenPad Plus; e a Asus teve o cuidado de disponibilizar funcionalidades que permitem maximizar a experiência de utilização deste ecrã. Não se pense que serão apenas os programas de edição de vídeo e imagem a poder explorar o ecrã secundário na sua plenitude, pois os cenários serão aqueles que o utilizador bem entender. Tive oportunidade de constatar isso mesmo aquando do backup de um disco do NAS e ao escrever este artigo, consultando ao mesmo tempo os apontamentos, especificações e imagens, sem que para isso tivesse de alternar entre janelas.
O preço será por certo um dos maiores entraves à aquisição deste ZenBook Duo, com os ~1700€ a afastarem-no de muitas carteiras. Se as dimensões das teclas e touchpad não forem um problema e tiverem formas de explorar a área extra que o ScreenPad Plus oferece para exibição de conteúdos, este é um portátil que garantidamente merece a vossa atenção, razão pela qual é merecedor de um distinto "Quente".
Asus ZenBook Duo
Quente
Prós
- Desempenho
- ScreenPad Plus
Contras
- Dimensão do teclado e touchpad
- Resposta do touchpad
- Não permite carregamento através da porta USB-C
Asus ZenBook Duo
Aberto até de Madrugada
Quente (4/5)
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