Análise ao Nexus 7 do Google

Depois de já ter demonstrado o que vale no segmento dos smartphones, a plataforma Android continuava a ter dificuldade em obter expressão significativa no campo dos tablets - dando-se mesmo o caso de um dos tablets mais bem sucedidos ser um seu derivado: o Kindle Fire da Amazon (que é baseado em Android, mas alterado ao gosto da Amazon).

O Google achou que era tempo de marcar a sua posição neste segmento e, tal como anteriormente o fez nos smartphones, apresenta-nos agora o seu primeiro Tablet Nexus.

O Nexus 7 promete ter tudo (ou quase tudo) aquilo que se deseja, a um preço que parece ser demasiado bom para ser verdade. Será que o Google conseguiu fazer o impossível, ou será que este Nexus 7 se revela um presente envenenado?

É o que vamos ficar a saber já de seguida.

[Se procuras algo maior, também já temos a análise ao Nexus 10]


O Nexus 7

Para concretizar o Nexus 7 o Google recorreu a uma das empresas que melhores resultados tem tido nos tablets Android, a Asus (será que em breve teremos um Google Transformer?). E o caso não era para menos: para conseguir cativar as pessoas, o Google sabia que precisava de criar um tablet irresistível; e isso só poderia ser feito oferecendo hardware de topo... a preço de saldo.

E contrariamente ao que se poderia pensar, conseguiram fazê-lo!

O Nexus 7 tem características de luxo, nas quais se incluem: um LCD de 7" de alta-qualidade (IPS) com resolução de 1280x800, um CPU quad-core Tegra 3, 1GB de RAM, NFC, microUSB, GPS, câmara frontal de 1.2MP (sem câmara traseira), etc.

A nível do espaço para conteúdos e Apps, podemos optar por modelos com 8 ou 16GB de memória Flash - e uma vez que não existe slot SD para expandir a memória, esta será uma opção a fazer com algum cuidado.

Quanto aos preços - o factor crítico que seria responsável pelo potencial sucesso ou insucesso - o Google conseguiu oferecer o modelo base abaixo da barreira psicológica dos $200. Um preço arrebatador e que até aqui era sinónimo dos tablets feitos por fabricantes "desconhecidos" e com hardware de qualidade duvidosa.

Cá por Portugal ainda não se sabe qual será o preço oficial - ou a data a que ficará disponível - mas espera-se que seja idêntico aos 199€/249€ praticados noutros países europeus. (Aliás, o Nexus 7 chega hoje às lojas em Espanha... para quem não estiver disposto a esperar mais.)

Num modelo em que tudo foi pensado ao pormenor para que fosse possível atingir o preço alvo inferior aos $200, não se podem esperar grandes luxos em coisas supérfluas. Mesmo assim o Nexus 7 vem embalado numa caixa que já faz antever que não estamos perante um modelo tão "low-cost" quanto o seu preço poderia fazer imaginar.

E quanto às críticas de que a caixa era de abertura difícil... é algo que me faz pensar até que ponto há pessoas que acham ser mais fácil fazer um vídeo e queixarem-se no YouTube, do que perderem 2 segundos a olhar para a embalagem e verem os autcolantes que mantêm a caixa fechada.

Quanto ao Nexus 7 propriamente dito, estamos perante um tablet que respira qualidade. Enquanto a frente é dominada pelo ecrã de 7" (protegido por vidro anti-riscos da Corning - os fabricantes do Gorilla Glass), a parte traseira tem uma superfície texturada em material bastante agradável ao toque - embora talvez um pouco mais escorregadio do que as imagens podem fazer imaginar.

A nível de botões, não há excessos: o botão de power, volume mais/menos, e é só. A ficha microUSB fica na parte inferior do tablet (quando na posição vertical). Uma vez que não temos câmara traseira, a única coisa que existe a "quebrar" a tampa traseira é uma pequena ranhura que serve para a saída de som. (Não esperem grande qualidade ou volume - é suficiente mas... não impressionou.)


Ainda a respeito dos botões, para tirarem um screenshot podem pressionar simultaneamente o botão de power e o volume down... mas é coisa que continua a requerer algum treino.


A Câmara

Deixem-me já arrumar o assunto da câmara, para ficar despachado. Se forem comprar este Nexus 7 com a esperança de o poderem usar para tirar fotos ou gravar vídeos... esqueçam. Tendo apenas uma única câmara frontal (e de apenas 1.2MP), está mais que visto que o Nexus 7 não está habilitado a servir esta função. Para além de auto-retratos, todas as outras fotos terão que ser tiradas "às cegas", pois o ecrã ficará virado para o objecto a fotografar.

Mais caricato será reparar que o Nexus 7 nem nos chega com uma App de "Camera" para que possam tirar uma fotografia.

Mas isso vai de encontro à utilização que se espera dar a esta câmara, que é precisamente as video-chamadas, via Hangout no Google+, por exemplo. Para isso é mais que suficiente.

[Uma foto panorâmica com muitas "mutações" pelo meio...]

Em Funcionamento

Mas o hardware do Nexus 7 é apenas metade da história. Afinal, o Tegra 3 quad-core é bastrante jeitoso, mas não é propriamente novidade, já estando no mercado há "bastante" tempo, em tablets e smartphones.

No entanto, o Nexus 7 consegue diferenciar-se de todos eles ao chegar-nos com o mais recente Android existente: o 4.1 Jelly Bean, que conta com vários melhoramentos, sendo que um deles salta à vista a quem for "esquisito" quanto à fluidez dos movimentos do interface.

Embora não se possa dizer que o Android 4.0 seja lento (veja-se por exemplo Galaxy S3), o que é certo é que o Android 4.1 parece resolver por completo as questões da fluidez que tanto (me) irritavam. Era certo e sabido que os Android tinham hardware com potência mais que suficiente para o fazer, e com este último Android, fica provado que era mesmo uma questão do Google optimizar o software para que tal acontecesse.

Com o Nexus 7 dificilmente terão razões de queixa da sua velocidade, mesmo se actualmente já existem no mercado equipamentos com hardware superior.

Também as notificação foram retrabalhadas, e permitem agora que nalguns casos até se possam fazer acções imeditamente a partir do ecrã das notificações. (No meu caso, também fazia com que rapidamente houvesse overdose de notificações, quando chegava a casa ao final do dia, e encontrava a barra sobre-lotada com mais de uma dezenas de coisas para ver...)

Neste Nexus 7, o Chrome para Android é o browser que vem de origem, e comporta-se bastante bem na grande maioria das situações. A notável e recorrente excepção é tentar utilizar coisas como, por exemplo, o próprio Google Docs em versão "desktop"... Convido-vos a tentarem usar uma folha de cálculo neste Chrome... sem que enlouqueçam em poucos minutos (a página começa a saltar a cada toque que façam, e outras coisas sem sentido).




Reconhecimento de voz

Agora passa a ser possível dar uso ao reconhecimento de voz mesmo quando se está desligado da internet. Claro que a fiabilidade é mais reduzida, já que não pode dar uso à "potência" do Google na internet para decifrar o que vamos falando - mas sempre é melhor que nada. Na altura em que fiz as gravações, apenas existia o suporte para Português do Brasil, mas entretanto o Google já adiciou o suporte para Português Europeu.

Um detalhe estranho, e que me aconteceu por várias vezes nalgumas Apps... o processo de selecção do texto não permitia mudar de linha (no caso de texto multi-linha). Uma vez que nas caixas de entrada de texto do próprio Jelly Bean isso funcionava bem, penso que será algum problema das "apps"... mas não deixa de ser estranho.

Quanto à qualidade do reconhecimento de voz... é mesmo fenomenal. Falar naturalmente e ver o texto a ser transcrito em tempo real é sempre algo que parece "ficção científica" (mesmo se há muito que é possível...)


Google Now

Falando de ficção científica, o Google Now é mais uma das novidades que por vezes nos deixa de boca aberta. Ou, de que outra forma pensariam reagir a um sistema onde, sem lhe terem dito ou pedido nada, vos alerte a dizer que está na hora de sairem para o trabalho, pois vão demorar "x" tempo a lá chegar?
(Claro que isto foi conseguido à custa da análise de padrões guardados via o Google Latitude, que uso há anos... mas, não deixa de ser simultaneamente espectacular... e assustador. :)

Quanto às capacidades "à Siri", já vimos que o Voice Search do Google está cada vez mais potente, e mesmo quando colocado lado a lado com a Siri, se saia bastante bem. Mas... há ainda muito por fazer. Por exemplo, é possível definir um alarme para as 9:00... mas não é possível dizer que apenas deverá ser para amanhã.


Apreciação Final

Não há que enganar... o Google acertou em cheio com este Nexus 7. Embora não seja um equipamento perfeito (qual o é?), consegue atingir perfeitamente aquilo a que se propunha: criar um tablet de referência para a plataforma Android que prova, de uma vez por todas, que o Android tem futuro neste formato. Para isso aliou um hardware bastante interessante, a uma qualidade de construção sem grandes reparos, e... a um preço imbatível.

Claro que ficam coisas de fora, e que poderão torná-lo menos apetecível para algumas pessoas: a ausência de 3G/4G (que poderá ser minorada usando um smartphone como hotspot); a ausência de slot microSD; ou ainda a ausência de uma câmara traseira que o tornaria mais versátil. Mas já abordamos algumas das possíveis causas que terão levado a estas opções... como o deixar espaço suficiente para que os parceiros ofereçam os seus próprios produtos sem serem obliterados por um modelo do Google.


Outro ponto a criticar é que rapidamente nos deparamos com outro "grande" problema: a ainda limitada existência de Apps que tirem partido deste formato mini-tablet. A grande maioria trata o ecrã de 1280x800 como se de um smartphone se tratasse, apresentado as coisas em tamanho aumentado (o Flipboard é um desses exemplos).

Mas, isto será coisa que certamente será corrigida (e rapidamente) pelos developers, pois com milhões de Nexus 7 a chegarem ao mercado... não haverá desculpa para não o fazer: como se pode ver pelas Apps que já dão uso ao espaço extra (desde as oficiais do Google, como o Gmail, Currents, Google+, etc. a outras de outros developers)...

Quanto à autonomia, em uso normal poderão esperar vários dias sem terem que se preocupar com a bateria - excepção feita caso comecem a abusar demasiado dos jogos 3D (com os jogos optimizados para o Tegra, por vezes as horas passam a voar. :)  Mas mesmo assim dificilmente terão que ir a correr para o recarregar.


Por tudo isto, não há dúvida: a decisão não é sobre se o Nexus 7 vale a pena... mas sim, qual o modelo que melhor se adequa às vossas necessidades: o de 8 ou o de 16GB. :)

Google Nexus 7

Escaldante

Prós

• Hardware 
• Android 4.1 (e garantia das actualizações "Nexus")
• Preço

Contras

• Ausência de microSD (modelo de 8GB fica "curto")
• Ausência da câmara traseira
• Não estar ainda disponível em Portugal

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