2009/05/14

Ministro da Cultura vs MAPiNET - Fight!

Antes que me esqueça, tenho que escrever algumas palavras de apreço pelas palavras proferidas pelo nosso Ministro da Cultura, que (surpreendentemente) não foi nas "cantigas" habituais de que quem faz um download da internet é um criminoso que deva ir para a cadeia por mais tempo que um pedófilo.

Segundo ele, fazer um download equivale a "encontrar uma nota no chão", a qual apanhamos sem pensarmos que estamos a roubar quem a deixou cair.
Ok, admito que a expressão terá sido usada no decurso de uma conversa informal, e agora usada completamente fora do contexto... mas demonstra a sinceridade que o nosso Ministro teve, e reflecte a sociedade *real*.

Claro... do campo oposto, as reacções não se fizeram esperar: a MAPiNET veio logo apontar armas a este novo alvo, pedindo até a sua demissão.

E foi exactamente por este ataque que achei por bem escrever estas palavras.

Para começar, irrita-me que o MAPiNET se entitule "Movimento Cívico Anti Pirataria na Internet" - com ênfase no "Cívico". Qual movimento cívico qual carapuça! Ora espreitem a página dos membros MAPiNET: Acapor, SPA, Agecop, GDA, e até o Sindicato dos Videoclubes Franceses!
(Talvez seja a tal influência francesa que agora se tenta infiltrar por cá, para desligar a internet a quem ousar descarregar uma música ou filme da internet.)
Ou seja, em vez de um grupo de cidadãos preocupados verdadeiramente em arranjar solução que se adaptem a este novo mundo e às novas tecnologias, temos apenas empresas dinossauro que, sentindo a sua extinção iminente, preferem atacar desesperadamente todos os que se lhes oponham - fechando os olhos ao mundo actual em que vivemos.
Aliás, este MAPiNET tem tanto de movimento cívico que nem sequer permite comentários no seu site (acho que isso elucida a censura que tanto promovem.)

Aliás, interrogo-me quantos destes próprios senhores (ou pelo menos os seus filhos) não terão já - eles próprios - "sacado" músicas ou filmes da Internet? O que seria apenas mais uma prova da sua hipocrisia.

Hipocrisia essa que se estende à forma como dizem agir sempre em defesa dos autores, criadores e artistas.
No entanto, como se sabe, o que lhes interessa mesmo é receber o seu dinheiro - mesmo que isso implique cobrar direitos sobre obras livres e gratuitas, e de outros autores que não representam.

Aliás, não sei porque não referem o facto de o próprio partido do nosso querido Sarkozy ter usado indevidamente música sem os devidos direitos - mas disse ter sido "sem intenção". Ah pois... Só quando é para desligar a internet aos restantes internautas é que é com intenção.

E os artistas... esses... continuam a receber uns cêntimos (ou mesmo nada) enquanto estas empresas continuam a viver e a pagar ordenados chorudos aos seus gestores.

Não tenho nada contra recompensar quem cria. E acho que o futuro da Internet vai nesse sentido - de tornar obsoletos os sistemas de distribuição tradicionais, e de permitir um contacto mais directo entre um artista e o seu público, e de ver o seu trabalho ser recompensado de forma justa.

Se hoje em dia um artista tem que vender 100 mil cópias, para ganhar uns cêntimos em cada uma; talvez não seja difícil perceber que ganhará muito mais se vender apenas 10 mil e ganhar uns euros em cada uma.

E por isso mesmo, a partilha na internet não é um "inimigo" a abater!
A maioria dos artistas tem dito que prefer ver o seu trabalho conhecido por milhares de pessoas por todo o mundo, do que ficar restringido a apenas uma dúzia delas. Nem todos os que fazem downloads iriam comprar tudo o que descarregaram. Mas certamente que, fazendo-o, ficam a conhecer novos artistas que eventualmente poderão passar a seguir mais atentamente, e até comprar a sua música, filmes, etc.

Já pago taxas de TV e rádio, taxas no papel, CDs e DVDs virgens... uma autêntica "mama" que todas estas associações recebem sem nada fazer e que nunca chegam aos artistas. Que mais querem agora?
Em vez de berrarem que isto é o fim do mundo (coisa que já deviam ter aprendido - pois já o fizeram aquando do aparecimento da rádio, das cassetes, e dos vídeogravadores) actualizem-se e adaptem-se aos novos tempos. Já Darwin disse há muito tempo, umas espécies adaptam-se e evoluem para sobreviver... as outras... extinguem-se.


[Artigo dedicado aos Dinossauros, que não têm nenhuma culpa de serem agora associados a esta MafiaNet]


Actualização: há mais alguns desenvolvimentos de última hora, com o Ministro a clarificar o que pretendia dizer.


Nomeadamente, aquilo que qualquer criatura com mais de um neurónio na cabeça consegue perceber:

(...) tem alguma parecença com o que aconteceu com as fotocópias e depois com os videogravadores e depois com os gravadores dos CD. Quando queríamos gravar um filme que estava a dar na televisão púnhamos o videogravador a funcionar e gravávamos o filme. Passávamos a ter uma cassete com a gravação. No fundo estávamos a fazer um download de um conjunto de imagens guardávamos ali. É evidente que podíamos ter proibido no mundo todos os videogravadores, todas as fotocopiadoras que permitiam copiar livros e violar direitos de autor.

Segundo ele, o ideal seria:
Por exemplo, colocar as coisas na Internet de uma forma que não seja susceptível fazer download delas. Em que seria possível ver as vezes que se quisessem mas não se poderia descarregar.

Isso é o que muitos procuram conseguir, com os DRM que infelizmente têm sido implementados de forma abusiva. O "problema" é apenas este... se for possível vê-las, é possível copiá-las - ponto final!
Não vale a pena andar a arranjar artimanhas e esquemas, gastando milhões de euros e anos de trabalho, em medidas que apenas servem para complicar a vida aos milhões consumidores que pagam pelos conteúdos - com a agravante que que na maioria das vezes servem apenas para os forçar à pirataria. (Como no caso de eu querer passar o filme de um DVD ou Bluray que tenha comprado, para o media center, ou fazer uma cópia para que os meus sobrinhos não destruam de forma irreparável o disco original. Embora por cá, isso ainda seja um direito que temos, ao contrário do que acontece noutros países.)

Diz ainda, e bem:
Esta noção de que sem uma decisão judicial se pode cortar o acesso da Internet às pessoas é complicada. Sobretudo quando as pessoas já sentem a Internet como se fosse a praça pública. Há pessoas para quem a Internet é o acesso à vida, fazem teletrabalho, etc.

E terminando com um explícito e claro:
Aquilo que é ilegal é que não devia lá estar.

Nova actualização: como é habitual, lá tiveram que atirar um "osso" à SPA. Relembro que por muito que queiram perseguir quem faz downloads, é praticamente impossível conseguir-se provar que um "IP" foi efectivamente responsável por esse download - eu que o diga, tenho 3 ou 4 vizinhos com as redes WiFi abertas e/ou com protecções facilmente crackáveis.
Portanto, espero que se concentrem é em melhorar as relações que têm com o público (que é quem lhes paga o seu ordenado!) e nos oferecerem produtos a preços justos - em vez de nos impingirem conteúdos com DRM, a preços estupidmente inflaccionados quando comparados com outros países. Países esses com salários médios bastante acima dos que temos no nosso país.

10 comentários:

  1. Tudo dito e pouco a acrescentar. Basta olhar mesmo para a hipocrisia da MAPiNET para o assunto ficar arrumado.

    Estou a ver quando começarem a surgir os primeiros casos de corte da internet e multas, os servidores governamentais vão sofrer poucos ataques vão... e até digo mais, são bem capazes de fazer ameaças para acabar com essa lei estúpida, e era bem feito que o fizessem!

    Ridículo é o adjectivo p'ra isto tudo, e bem este o Ministro - nem todos que trabalham no circo são palhaços.

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  2. "nem todos que trabalham no circo são palhaços"... uma frase das melhores que li nos últimos tempos! Parabéns por esta criação João Rovira, será que ela (a frase) tem direitos de autor??? ;)

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  3. "Relembro que por muito que queiram perseguir quem faz downloads, é praticamente impossível conseguir-se provar que um "IP" foi efectivamente responsável por esse download - eu que o diga, tenho 3 ou 4 vizinhos com as redes WiFi abertas e/ou com protecções facilmente crackáveis.", olha que eu acho que se houver acção criminosa a PJ vai pedir responsabilidades a TI!

    Tenho quase a certeza de que tu é que és responsável pela tua ligação :o/

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  4. @Luis
    Isso depois é o que caberá ao Tribunal decidir.
    Se um gatuno te roubar o carro para cometer um assalto, acho que a polícia não te vai prender a ti... mas já nem digo nada.

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  5. Bom trabalho de investigação Carlos. Parabéns!
    Assino por baixo.

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  6. @FG não faço a mínima ideia, mas saiu-me mesmo, se alguém já o disse nunca ouvi, e se ouvi não me lembro :P

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  7. Vamos lá ver o q sai desse "grupo de trabalho" agora criado, onde geralmente ninguém representa os consumidores e internautas. Se meterem apenas as rapozas a discutir o q fazer com o galinheiro, vai dar o mesmo resultado q em França: medidas repressivas, retrogadas, inconstitucionais, ineficazes e inúteis.

    O ministro fez muito bem em falar do caso dos videogravadores, q eu também não me canso de relembrar. Também a sua introdução no mercado foi tudo menos pacifica. Os estúdios de Hollywood tentaram proíbi-los por permitirem gravar filmes da TV sem permissão. Acabaram por fazer milhões é custa deles quando se lembraram q podiam vender ou alugar filmes em cassetes VHS. E hoje temos esta organização MAPiNET a queixar-se da nova tecnologia chamada internet, quando tem por trás organizações ligadas aos videoclubes. Ou seja, são pessoas que vivem à custa de uma tecnologia q os interesses da altura também quiseram proíbir! Será que não percebem q estão a cair no mesmo erro? Só pensam no que essa tecnologia tem de disruptivo e não fazem qq esforço para pensar nas suas potencialidades.

    Eles usam a cultura, os artitas e criadores como bandeiras, mas esses não estão aqui de facto em causa. Sempre vão existir (tal como já exisitam mt antes de haver quaisquer "direitos de autor"). O que está em causa é COMO os artistas e criadores vão ganhar a vida no futuro, através de que meios serão distribuidas as suas obras, e quem irá controlar esses meios. Há toda uma indústria construida à volta dos artistas e criadores (e que fica com grande parte dos lucros) que está a ver as suas fundações a ruirem. São essas empresas q estão aqui em causa, e que se não se adaptarem vão mesmo ruir e ser substituidas por outras. Quaisquer iniciativas governamentais para as proteger, apenas servirão para adiar o futuro.

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  8. Olá Carlos, como criador e acompanhante assíduo deste blog, tenho que deixar o meu comentário em relação a este assunto, como criador e trabalhador voluntário numa editora independente, a meu ver, pelo menos a mim o que me faz confusão não é o facto de as pessoas gravarem cd´s, partilharem com amigos mp3, etc., mas sim os serviços p2p que disponibilizam arte alheia e outros que mais e fazem depois dinheiro em publicidade e doutras formas, se pesquisarem no google video, podem ver alguns documentários dos respectivos sites e defensores dessa partilha de cultura gratuita, e se verificarem na maioria dos documentários, aparecem mensagens subliminares, como "steal", etc.,etc., isso para mim não é educação é manipulação, o que se passa é que esses indíviduos fazem muito dinheiro com essa suposta partilha gratuita, , aquando da acção judicial contra o napster feita pelo baterista dos Metallica, o criador do Napster andava de ferrari com o dinheiro que fez com o Napster, quer dizer, há algo de errado aqui pensou eu, os artistas podem querer que a partilha seja feita, mas que façam dinheiro á pala da sua criação e investimento é que acho que já não devem querer, pelo menos quem investe dinheiro em instrumentos, aulas, estúdios, pretende ter um retorno e não dar esse retorno a alguém que não fez nada para o merecer. Como voluntário numa editora independente vejo todos os dias o que temos que trabalhar para a edição de mil cópias, para depois acusarem as editoras de ficarem com o dinheiro todo e não ser distribuído pelos artistas, pois, mas o investimento inicial é das editoras, como qq negócio se aquele produto não vender quem arde é quem investiu, o artista ainda antes de sair o disco já está a ganhar em direitos de autor pagos pela editora, respectivamente ao número de discos editados. Em relação ás sociedades de autores, neste caso a GDA, foi a melhor coisa que aconteceu aos artistas Portugueses, em termos de apoios, sociais, culturais, etc., etc., vieram corrigir uma lacuna que existia, por isso eles só defendem que da maneira como as coisas estão é muito complicado fazer parte da classe criativa neste momento, como sempre foi :), atrás de um actor, realizador, músico, produtor, editor, há muita gente que depende dos respectivos ganhos da obra criada. Se eu agora utiliza-se a informação que é disponibilizada neste blog e me fizesse cobrar por estas informações não era correcto, nem que ganhasse só 1 euro não seria correcto. Deixo desde já os meus parabéns por este blog, grande abraço, fica bem. Miguel.

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  9. @humancycle/Miguel

    Obrigado pela participação e por trazeres uma nova perspectiva a este assunto.

    Trazes de facto um ponto interessante a esta discussão: o facto de essas pessoas fazerem dinheiro à custa da partilha.
    Mas... o que é certo é que o mundo é diferente do que o que era há 10 ou 20 anos.
    Ainda me lembro de haver quem duvidasse que a publicidade online desse dinheiro... e hoje em dia é o que se vê.
    Independentemente do tipo de site, *qualquer* site com milhões de visitas pode fazer muito dinheiro à custa da publicidade - isso é indiscutível. Tanto faz ser um site que promova a partilha de conteúdos, como um site que fale de futebol, ou um site que fale de "nada".
    Para além disso, em muitos casos (e não falando dos casos mais mediáticos) esses sites usam os anuncios como forma de suportarem a sua manutenção - e outros casos há, de sites que nem têm publicidade.

    Se os tais sites como Piratebay e Napsters fazem fortunas... ok... são as "estrelas", com milhoes de utilizadores... mas não são representativos do restante universo - tal como um David Beckam ou Cristiano Ronaldo não são representativos dos ordenados médios de um jogador de futebol.

    Mas isso demonstra apenas que estão a explorar um mercado para o qual os consumidores não têm alternativa.
    Qual a editora que me permite fazer o download de um filme com qualidade dealta-definição, num formato aberto, imediatamente após este ter sido disponibilizado?
    Não há.
    E quando um lá promete aparecer, ou acaba por se auto-assassinar com DRM, ou então diz que estou numa zona em que não posso utilizar o serviço.

    Não me sinto culpado por descarregar um filme, que depois meses mais tarde até vou acabar por comprar em DVD... quando finalmente chegar até nós.

    Mas fico triste por sentir que a indústria parece fazer ouvidos moucos às necessidades actuais.

    Editar músicas e filmes em formatos físicos, é certo que tem os seus custos - até aí nada contra... Mas então qual a desculpa para, quando os editam em formato digital, cobrarem tanto ou mais que o custo no formato físico?
    Se vendem um DVD ou CD a 10 ou 20 Euros, e a desculpa é esse custo - então a versão digital poderia ser vendida a uma fracção desse valor, certo?
    E com uma percentagem substancialmente maior a ir para o artista... não?

    Essa é que é a verdadeira questão...

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  10. Bom dia Carlos, mas os consumidores tem alternativa, por exemplo tens o deezer que é um site onde podes ver e ouvir sem pagar nada por isso e é suportado por publicidade, o site da nokia, emusic, tmn(onde eu tenho conta), vodafone, onde podes pagar uma mensalidade e fazeres os download´s que quiseres, há muitas alternativas, claro que é muito mais barato se não se pagar :), acho que é uma questão de educação, os meus primos de 16,17 anos nunca compraram um cd, mas gastam muito dinheiro a fazer download´s de músicas através do telemóvel, acho que vai ser por aí o futuro da distribuição de conteúdos, em relação ao formato digital, concordo contigo, acho os valores por vezes um exagero, fica quase ao mesmo valor que o suporte físico, acho que nesse campo poderiam baixar um pouco os preços, mas o problema é que há muitos intermediários, nós temos as nossas músicas em muitas lojas digitais, recebemos 8cênt de direitos de autor, e de 20 a 30 cênt por música, e o resto fica para a distribuidora(e outros intermediários se os houver) e loja . Há um site muito interessante para venda de discos a preços muito baratos, o play.com, não pagas portes de envio, por vezes compro lá discos, fica muito em conta. Acho que esta situação se irá resolver quando daqui a algum tempo conseguirmos comprar online o que quisermos através do saldo que tivermos no telemóvel, grande abraço, fica bem.

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