2012/12/13

A Informática por uma Perspectiva Feminina

No âmbito da expansão das nossas rubricas, hoje estreamos uma que há muito tinha curiosidade de iniciar, mas que estava pendente de arranjar colaboradoras "a jeito". Dizem-me as estatísticas (e o consenso geral) de que este mundo da tecnologia e da informática é predominantemente frequentado por membros do sexo masculino. Por isso mesmo, torna-se ainda mais interessante ficar a conhecer de que forma é que as nossas caras companheiras femininas encaram tudo isto. A estrear esta rubrica temos o relato da Alexandra Pedro (que até já nos prometeu escrever mais algumas coisas no futuro.)


Desde pequenina que me fascino por tecnologia. Não há volta a dar. Quando tinha 5 anos, fui para a escola primária e já os meus pais tinham um computador, um Compaq que, se não me falha a memória tinha uns belos 512 MB de RAM e 1 GB de disco. Pois é.

Nessa altura, o PC era só para brincar no Paint e, mais tarde, para jogar uns joguinhos simples e até didáticos. Tive o prazer de ter horas informáticas na escola primária e tudo.

No entanto, eu sempre fui uma menina um tanto ao quanto “estranha”. Enquanto as outras meninas queriam fadas e princesas, eu andava a trocar Pokémon com os rapazes. Sempre fui assim, não me envergonho nadinha disso. A tecnologia - e óbviamente a ciência - sempre foi o meu fascínio, embora tudo o quanto seja notas da escola diga que o meu jeito é para as humanidades. Digo-vos isto pois como já devem ter reparado, embora haja bastantes mulheres na área da informática e companhia, ainda somos poucas e “escondidas” naquele que se pensa ser um “clube de rapazes”. E isso nota-se, meus caros, nota-se bem.




Na universidade - a qual ainda estou em processo de concluir - escolhi Engenharia Informática como curso. É que aliada à minha paixão pela tecnologia está a minha paixão pelos video-jogos. Eu tinha ilusões de que algum dia iria participar na criação destes, e para isso é preciso saber programar... e para além de ser um curso aliado aos meus gostos também tem bastante saída.
Mas depressa descobri que o que eu gosto mesmo é do processo criativo, da parte do utilizador, e que não tenho grande jeito para programar. :) Pelo menos admito!

Mas, voltando ao assunto, foi bastante caricato ser a única rapariga do meu ano. Havia outras, de anos diferentes, mas no meu ano fui a única, ao ponto de durante a praxe ir na fila de caloiros e alguém apontar “Olha, uma rapariga!”, algo que continua a ser das situações mais engraçadas do meu percurso escolar.
Posso dizer que por acaso não me tenho deparado com grandes problemas no que toca à parte técnica do curso. Fiz amigos que me ajudaram e não menosprezaram (ou sobrevalorizaram) a minha capacidade de trabalho. O problema está no resto, na interação social fora da sala de aula.

Assumo que todos vós já tenham reparado que agem de maneira diferente na presença do sexo oposto. As piadas não são tão arriscadas, tem-se um maior cuidado com os modos, etc, algo que muda completamente quando estão com amigos. Bem. Digo-vos que estar em Informática foi um bocado como ser a única estranha no meio de um grupo de amigos. Piadas sexistas (se bem que só uma vez é que foram diretas para mim) não faltaram. “Não sejas gaja” era uma frase que se ouvia bastante quando alguém estava a reagir de maneira mais sensível. No entanto, não posso dizer que isto seja um problema direto dos informáticos, mas sim uma situação mais geral.

Quanto a outras raparigas, a competição não existe, mas também não havia grandes amizades. Generalizando, as mulheres que se metem neste curso estão habituadas a serem independentes, e não vêm necessidade de se tornarem amigas de alguém só porque essa pessoa partilha o mesmo sexo. No global, tem sido uma experiência positiva.


Já nos circulos de gaming, eu adoro jogos de video mas multiplayer não é a minha praia até porque nunca tive um computador decente para isso. Jogo World of Warcraft aqui e ali quando as finanças permitem e também posso dizer que o meu sexo nunca foi problema, ao ponto de só uma vez na vida ter tido um gajo a fazer-se a mim por mensagem privada. Infelizmente não posso dar opiniões sobre jogos mais "potentes", pois não tenho sequer condições de os jogar, por muita pena minha.

Este post vem a pedido do Carlos, que queria uma perspectiva feminina desta área, portanto, aqui está, a minha experiência pessoal, de forma resumida porque, acreditem, poderia estar aqui a falar até às festas!

[por Alexandra Pedro]

9 comentários:

  1. Não faz sentido um computador que mete metade do disco em memória.

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    1. A memória deve-me estar a falhar, de certeza, mas era qualquer coisa do género. Tinha 5-6 anos.

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    2. Provavelmente seriam uns 32 ou 64MB de Ram.
      512MB era o que os PCs tinham há 8/10 anos.

      PS. Já imaginaste o Win95/win3.11 com 512MB de Ram!

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    3. Julgo que seriam 512Kb (Sim. Existiram computadores com 512Kb de memoria) e teria então 1Gb de disco(que era enorme), os primeiros computadores com que trabalhei nem disco tinham, mas já eram a cores (Ambar e preto) :).

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  2. Na informática e companhia, até pode ser que as mulheres ainda sejam poucas e “escondidas”.

    Em outras áreas técnicas as mulheres estão a dar cartas. Levava um bocado de tempo a explicar mas resumo numa frase, que não é minha: "As gajas são mais organizadas. Os gajos são uns desorganizados do caraças ... pede-se-lhes qualquer coisa, nunca sabem encontrar nada".

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    1. As mulheres como em tantas outras areas começam a dar mais "nas vistas" por assim dizer.

      Como todos nós sabemos a mulher entrou no mundo do trabalho bem mais tarde do que o homem, ora sendo a informatica um campo relativamente recente é também normal que exista ainda menos mulheres neste mesmo campo.
      Também dizem estudos sociológicos que as mulheres têm tendência a ter mais jeito para as áreas das letras e humanidades,estando nós mais viradas para esse tipo de conhecimento por vezes passa-nos ao lado outras coisas a rea de informática é uma delas. Além de ainda haver por parte da sociedade o estigma que computadores -> jogos -> programação e coisas afins são para rapazes proporcionando um maior desinteresse por parte do sexo feminino que é mais direcionado para outras coisas.
      No entanto todos nós cada vez mais queremos desempenhar um papel mais ativo, importante, inovador e diferente na sociedade e isso faz despertar a curiosidade e o interesse por áreas que antes nõ se via nenhum, a publicidade cada vez maior que se faz na area de informatica e a constante evolução deste ramo trás o gosto curiosos e agora mais ainda a curiosas e cada vez mais se vê neste mundo raparigas a ingressar nesta área que mesmo podendo não parecer daqui a uns tempos irá trazer uma evolução diferente neste ramo devido a uma maior diversidade de perspectivas.
      Em Portugal ainda é pouco visível a manifestação feminina nesta área no entanto noutros pontos do globo começa a ser já mais "normal" especialmente na área dos jogos e até em alguns casos na área da programação.

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    2. Ainda há poucos dias falamos aqui do quase 200º aniversário da Ada Lovelace... que foi, para todos os efeitos a primeira "programadora". :)

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    3. Relembrei-me da conversa e da frase que referi acima. Tem a importância que se lhe queira dar, mas foi:

      "As gajas sabem mais o querem, são mais determinadas. E são mais organizadas. Os gajos (...)". Na verdade não se referia só a trabalhos de técnico. Referia-se também a tarefas de supervisão e direcção.

      Os "gajos" têm que pedalar porque a concorrência é séria. O tempo em que elas iam quase todas para humanidades já passou.

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  3. Caríssimos, já alguém assistiu a um juramento de Hipócrates em Portugal? Eu assisti ao da minha namorada e é aflitivo a "abada" que elas nos estão a dar. A chamada para o juramento é por ordem alfabética e o primeiro António deve ter surgido depois de cerca de umas 50 Anas já terem passado pela mesa do Bastonário da Ordem dos médicos. Foi ali naquele momento que pensei, caramba, o mundo já é delas. Nós é que ainda não sabemos.

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