2015/02/10

Os generosos donativos dos jovens milionários tecnológicos


Que vos parece a ideia de, antes sequer de fazerem 40 anos, já estarem a passar um cheque de donativo de mais de 500 milhões de dólares a alguma entidade? Poderá parecer irreal, mas é o que está a acontecer neste momento... e com cada vez maior frequência.

O mundo da tecnologia tem criado centenas de milionários "instantâneos", e muitos deles parecem ser suficientemente generosas para partilhar parte das suas imensas fortunas como forma de retribuir e contribuir para o melhoramento das comunidades e sociedade.

Nos EUA, os 50 doadores mais generosos aumentaram os seus donativos mais de 27% no ano passado, num total de 9.8 mil milhões de dólares, e com quase metade desse valor a ter origem em "bilionários" do mundo da tecnologia.

O nosso bem conhecido Bill Gates e a sua esposa doaram 1.5 mil milhões, mas mais surpreendente é ver um aumento significativos de bilionários mais jovens com menos de 40 anos, e com alguns deles a darem mais de 500 milhões de dólares (cada!)

Jan Koum, fundador do WhatsApp, com 38 anos, doou 556 milhões; Sean Parker (35) doou 550 milhões; e o Nicholas Woodmand (39) e esposa, fundadores da GoPro, também contribuíram com mais de 500 milhões. Em 2013, Mark Zuckerberg e a esposa tornaram-nos primeiros a ficar no topo da lista com menos de 30 anos, quando doaram quase mil milhões de dólares. Para por as coisas em perspectiva, o segundo e terceiro classificados da lista, que doaram mil milhões e 650 milhões, são magnatas com 95 e 83 anos de idade respectivamente (com o primeiro a já ter falecido).

Fico feliz por ver que estas gerações mais recentes parecem ser menos "agarradas" ao dinheiro, em contraste com aquela ideia dos "velhos gananciosos" que pareciam querer acumular todos os cêntimos até à hora da sua morte.

3 comentários:

  1. Os novos milionários continuam agarrados ao dinheiro, uma vez que os donativos que fazem não visam acabar com as desigualdades, mas sim torná-las menos dolorosas.

    Isto que eu estou a dizer pode parecer cínico, mas por exemplo, se o dinheiro doado fosse usado para reformar o sistema de direitos de autor e patentes e promover investigação científica livre e descentralizada, os cuidados de saúde, a educação, e muitos dos produtos que comprarmos ficavam muito mais baratos em todo o mundo. Mas como isto não acontece, vamos continuar a ter metade da riqueza mundial nas mãos de 1% da população, que lá vai doando alguma coisa à caridade.

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    1. Falas dos milionários como se fossem um grupo quando na verdade são pessoas, cada uma com as suas ideias. Quem é que te garante que muitos deles não fazem por acabar com as desigualdades?

      Basta ver que existe uma perspectiva totalmente diferente de milionários mais novos e de milionários mais velhos.
      E para reformar o sistema de direitos de autor e patentes não é só com dinheiro que chegas lá mas com mudanças legislativas.

      Investigação científica livre e descentralizada tens que elaborar (nos EUA têm óptimos institutos com financiamento público).
      O que não falta nos países maioritáriamente protestantes são milionários que deixam o seu dinheiro para I&D.

      Cuidados de saúde e educação são públicos nos países europeus e com custos baixíssimos. Quanto ao ensino superior é que há diferenças entre vários países.

      Quanto aos países subdesenvolvidos muitos deles têm elites obscenamente ricas como Angola ou Nigéria que nada fazem para ajudar no desenvolvimento dos seus países na saúde e educação. Porque raio é que os milionários têm que desembolsar o seu dinheiro para esses sítios para ir parar ao bolso de corruptos e déspotas?

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    2. Sim, falo dos milionários como se fossem um grupo, assim como podia falar da classe média, por exemplo. E volto a dizê-lo, não me parece que queiram acabar com as desigualdades, mas sim torná-las menos dolorosas.

      Infelizmente, o precedente do sistema absurdo de patentes e direitos de autor teve origem nos EUA, graças ao lobbying milionário que financia as iniciativas legislativas. Isso significa que só com lobbying é que se vai conseguir a sua reforma.

      Investigação livre é feita sem copyright e sem patentes (e assim financiada de modo independente) e descentralizada, significa que é feita em colaboração e sem competição. Este tipo de investigação ainda é raro, e financiamento público é essencial, mas não chega: é necessário garantir que ele não financia patentes, mas sim publicação de acesso livre, por exemplo. Também é necessário garantir que a investigação não é controlada indiretamente por empresas: hoje em dia os cientistas têm cada vez menos controlo das suas experiências, uma vez que estão cada vez mais dependentes de equipamento e reagentes proprietários que não têm documentação detalhada devido a segredo empresarial. Na área da Biologia Molecular, que é a que conheço bem, parecemos cada vez mais utilizadores de Bimbis, com a agravante que não sabemos exatamente quais são os ingredientes que estamos a por lá para que funcione (passo a analogia).

      Os cuidados de saúde e educação europeus têm um financiamento pouco eficaz para serem verdadeiramente universais. Na Saúde, basta ver a polémica com medicamento contra a Hepatite C (a farmacêutica vende o tratamento a 2-40000€, mas se fosse genérico custaria apenas 150€, e claro, o que impede isto é uma patente que ninguém quer invalidar independentemente das vidas que possa salvar). E isto é apenas um caso que veio a público, porque existem muitos mais.
      No caso da educação, basta ver como cá em Portugal temos um programa único de ensino público obrigatório, mas cada escola escolhe os seus livros escolar de dezenas de editoras, que custam bastante dinheiro aos pais. Como o programa é único, podia existir uma edição única de livros escolares elaborada por uma Ordem de Professores, e disponibilizada gratuitamente na net em PDF. Assim, as pessoas podiam imprimir os livros a custo muito mais reduzido, mas isto não é feito devido a interesses das editoras.
      No ensino superior é verdadeiramente ridículo os preços cobrados por livros académicos, muitos deles escritos por professores universitários que exigem que os seus alunos o comprem se quiserem passar à cadeira. O caso do Aaron Swartz veio mostrar também como a industria dos artigos académicos não parece ter escrúpulos.
      Em todos estes casos também podemos juntar os milhões de euros anuais gastos em licenças de software, que podiam ser substituídas por software livre com um custo mínimo, diminuição da dependência estrangeira e cuja pirataria não se aplica.

      Eu nisso concordo que as pessoas não deviam despejar dinheiro nos países sub-desenvolvidos de qualquer maneira (em África é particularmente assustador como muitas organizações de caridade dão alimentos “ocidentais”, em vez de estimularem a agricultura de espécies autóctones: não admira que haja fome lá). No entanto, uma das razões de porque é que essas elites obscenamente ricas está relacionado com o consumismo inconsciente que existe nos países desenvolvidos, fomentado pelas grandes empresas multinacionais, que vão buscar muita da matéria prima aos países de 3º mundo. Na área da eletrónica e eletrodomésticos, por exemplo, basta pensar que o único produto que ainda se consegue construir às peças, obedecendo a um standard, são as torres de PC, e estas já entraram em desuso. O resto é de usar e deitar fora, com obsolescência programada, e o consumidor exige cada vez mais e ao mínimo preço, e não quer saber de onde vem nem como, desde que seja a novidade, independentemente das consequências.

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