2017/10/26
Governo Português promove censura na Internet por conta do copyright
A necessária reforma dos direitos de autor está, infelizmente, a seguir um rumo que nos faz passar de "mal" a "pior", e o mais triste é vermos que o próprio Governo Português tem estado na linha da frente a promover alterações que resultarão numa indescritível censura na Internet.
Documentos sobre a proposta para a reforma dos Direitos de Autor revelam que Portugal, França e Espanha têm tido papel fundamental na promoção do art. 13º que pretende exigir filtros de censura em todos os uploads feitos para a internet.
Basicamente, a ideia é que toda e qualquer plataforma que aceite conteúdos enviados pelos utilizadores (abrangendo serviços e sites como o YouTube, Facebook, Wordpress, Blogger, Wikipedia, Dropbox, Instagram, Flickr, Ebay, Github, comentários em sites, etc.) tenham obrigatoriamente que ser analisados, e rejeitados automaticamente caso sejam considerados em violação de direitos de autor - ficando o site/serviço em questão sujeito a responsabilização pelos conteúdos enviados pelos utilizadores.
Ora... como facilmente se pode imaginar, este pretensão utópica esquece-se de que: 1) não existem sistemas eficazes que possam cumprir este objectivo a 100% (veja-se as plataformas que o tentam fazer, sem sucesso, e tendo recursos praticamente ilimitados); 2) todas as situações em que o envio de conteúdos com copyright se enquadra na definição de fair-use e deveria ser permitido.
O mais assustador é que já hoje nos vamos deparando com o resultado que este tipo de medidas tem, e que se tornarão muito mais frequentes caso este artigo 13 siga em frente:
Alguém que tente criar um anúncio no Google AdWords com algo tão simples quanto "Entrega gratuita no continente" ficará com o anúncio reprovado, por considerar que "continente" é uma marca comercial registada que não pode ser usada em Portugal! (E boa sorte em tentarem dialogar com um sistema automatizado para explicarem que continente é uma palavra comum!)
Agora imaginem isto elevado ao nível pedido pelos visionários do nosso governo e o dos nossos países vizinhos... onde um vídeo de família de férias onde se ouça uma música que passava na rádio ou televisão seja impedido de ser partilhado (já acontece!); ou que a tentativa de fazerem um backup no Dropbox é igualmente impedido por lá conterem conteúdos protegidos (mesmo que tenham o direito de o fazer!)
Não deixará de ser também irónico que o conselheiro português que tem estado a favor destas medidas tenha sido director geral da Motion Picture Association - América Latina; que também se parece esquecer que o próprio Tribunal de Justiça da União Europeia já se pronunciou contra a obrigatoriedade de monitorização generalizada de conteúdos por parte dos prestadores de serviço. Mas por outro lado, há que relembrar que estamos a falar de organismos que também já demonstraram até onde estão dispostos a ir para fazer valer alguns interesses, como suprimir um estudo encomendado por eles próprios e que revela que os "downloads ilegais" afinal não afectam as vendas... e que contraria todas as pseudo-justificações de que é preciso limitar ainda mais os direitos dos cidadãos com base nesse argumento.
Muitos dos nossos políticos têm a obrigação de ter ainda bem presente na memória o passado de censura vivido em Portugal, esperemos que não queiram que os seus filhos voltem a passar pelo mesmo, agora em versão digital!
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coitados... mais tarde ou mais cedo vao cair na realidade quando as vendas continuarem na mesma
ResponderEliminarPresidente Marcelo, puxe lá as orelhas ao Costa mais uma vez.
ResponderEliminarMariana Mortágua, onde estás?
Isto parece sei lá o quê...
Se fosse só isso, também querem proibir que apareçam fotografias, vídeos ou áudio de jovens na web!! É inacreditável, parece que querem que os nossos jovens não possam ter acesso à nova sociedade global e digital! Estes velhos do restelo fazem lembrar as ditaduras de outros tempos!
ResponderEliminarHá muito que acho que mais cedo ou mais tarde vamos ter uma censura tal como a Rússia ou China. Pode demorar, mas a evolução das coisas aponta nesse sentido.
ResponderEliminarJá acontece... as entidades dos direitos de autor podem mandar bloquear sites indesejados sem terem sequer que passar pelos tribunais. É só ir expandindo e alargando a definição do que é "indesejado"...
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