2019/05/12

Android Q poderá contar com navegação por gestos diferenciada entre fabricantes


A Google já lançou a terceira developer preview do Android Q e, entre as novidades desta versão, inclui-se um novo sistema de navegação por gestos que troca o botão de "back" também por um gesto.

A Apple deu o mote e marcas como a Xiaomi e a Huawei não demoraram muito tempo a implementar um sistema de navegação por gestos, algo que foi uma novidade no Android 9 Pie, se bem que de uma forma bastante tímida.


Configuração da barra de navegação no Galaxy S10

A Samsung demorou mais algum tempo a entrar neste barco, tendo com a nova interface OneUI apresentado a sua proposta para navegação por gestos. É uma variante diferente das restantes, com a Samsung a optar por manter os gestos na zona inferior do ecrã, algo que acaba por ser pouco prático, quando se utiliza o smartphone com apenas uma mão.



Barra de navegação no Huawei Mate 20 Pro com EMUI 9 vs Nokia 7 Plus com Android 9 Pie

A Google mostrou-se muito conservadora nesta sua primeira abordagem, mantendo uma barra de navegação com um ícone para a acção de "voltar atrás". Desta forma, a zona inferior do ecrã continua a não ser utilizada para a apresentação de conteúdos, situação que acaba por reduzir as vantagens ao substituir a barra de navegação (com os três ícones).

Curiosamente, tanto a Xiaomi e a Huawei não tiveram dúvidas em disponibilizar desde logo um sistema de navegação para substituir os três ícones da barra na zona inferior no ecrã, conseguindo dessa forma oferecer uma proposta bem mais interessante que a da Google, que ficou a meio caminho. Sendo uma funcionalidade opcional, teria feito muito mais sentido a eliminação da totalidade dos ícones e não apenas de um deles.


Configuração de gestos no Pixel 3a - Imagem via Engadget

Com o Android Q, a Google parece finalmente perder a vergonha, apostando num sistema de gestos claramente inspirado na proposta disponibilizada pela Apple no iPhone X. O ícone para a acção de voltar atrás deixa de ser necessário, passando esta acção a ser efectuada através de um gesto. Esta alteração acaba por ser uma melhoria face ao que a Apple disponibiliza, dado que no iOS a função "voltar atrás" não existe em termos de navegação, ficando a cargo de cada app implementar o interface da forma que achar mais adequado.

Mediante este novo posicionamento da Google levanta-se desde logo uma questão: em que situação ficam os sistemas de navegação por gestos que os restantes fabricantes e parceiros entretanto desenvolveram? Aquilo que é uma das vantagens do Android acaba também por ser a fonte de alguns problemas, sendo esta questão da navegação por gestos um exemplo disso mesmo. Irá a Google impor a sua proposta, ou poderão as diferentes marcas continuar a apostar em propostas alternativas, desenvolvidas internamente?

Fabricantes podem continuar a apresentar os seus sistemas de navegação personalizados

Segundo Allen Huang, Project Manager para o Android System UI, a Google está a encorajar os OEMs a utilizarem o novo sistema de navegação por gestos do Android Q, mas não irá forçar nenhuma marca a abandonar as suas propostas neste campo. “Os gestos personalizados pelos OEM são vistos como uma melhoria” referiu o Sr Huang ao Android Authority. “A navegação por gestos é um desafio para os developers" tendo estes que decidir qual a forma executar o "voltar atrás"

"Os utilizadores utilizam a função voltar atrás mais de 120 vezes por dia... nós queremos que esta acção seja mais simples de aprender."

Esta observação é no mínimo curiosa, pois se esta acção é efectivamente importante, porque razão é que a Google não começou logo por utilizar um gesto para a substituir? A opção foi exactamente em sentido contrário, disponibilizando uma solução a 50% que acabou por ficar aquém do desejado. Tratando-se de uma opção facultativa, a sua utilização ficaria sempre a cargo do utilizador, não havendo por isso o risco de dar um passo maior que a perna, algo que como já foi referido, vários parceiros não tiveram receio de dar, tirando daí vantagens em termos de adopção da funcionalidade.

A abertura da Google é bem vinda mas algo limitada, pois o Project Manager para o Android System UI considera que a experiência de utilização do Android tem de ser o mais transversal possível. Ao oferecer uma variedade de possibilidades ao utilizador, os fabricantes acabam por lhes dificultar a vida, dificultando a percepção de como funciona o novo sistema de navegação, referiu o Sr Huang. Resumindo, dão uma no cravo, outra na ferradura.


Barra de navegação no ZenFone Max Pro (M2) - Android 9 Pie

Navegação por gestos continuará a ser opcional

Para facilitar o processo de transição para o novo sistema de navegação por gestos no Android Q, os utilizadores terão uma opção na configuração inicial, que lhes permitirá optar por esta funcionalidade, ou pelo sistema antigo, com os ícones na barra de navegação. A Google não pretende (pelo menos para já) dispensar a barra de navegação, a qual considera que pode ser mais simples de utilizar, para quem não se adapte à execução dos gestos.

Esta é mais uma situação curiosa, pois a Apple não teve qualquer problema em eliminar o seu icónico botão frontal, forçando todos os utilizadores a embarcar no novo sistema de navegação por gestos, quer quisessem quer não. Sendo uma solução radical com um forte impacto inicial, acaba sempre por ser mais proveitosa a longo prazo, justificando-se por isso esta abordagem.


Gestos no Android 9 Pie - ZenFone Max Pro (M2)

A Google não usufruiu contudo de uma facilidade que a Apple continua a granjear, podendo tirar partido da exclusividade que tem em oferecer um produto que domina completamente em termos de hardware e software. Uma enorme vantagem que faz com que os utilizadores acabem por aceitar determinadas alterações, algo que no Android simplesmente nunca irá acontecer, até porque os múltiplos fabricantes têm sempre uma palavra a dizer a nível do grau de personalização que fazem do sistema.

Por isso, vai ser interessante ver que tal os utilizadores lidam com os (múltiplos) gestos de back no Android Q, dependendo da marca do smartphone que tiverem; e se, precisamente devido a isso, não estarão a contribuir para "matá-lo".

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