Estamos numa era em que as empresas tecnológicas parecem estar, cada vez mais, a vender a "promessa" de coisas futuras em vez de coisas que se podem fazer no momento da compra dos produtos. Nem vamos falar do caso da Tesla, que há anos vende um modo FSD que, até à data, continua por disponibilizar aos clientes. Nos smartphones, tem-se tornado cada vez mais frequente as empresas demonstrarem coisas que, depois, só chegam em actualizações futuras, e este ano a Apple reforça isso - em grande - com a promessa das suas funcionalidades Apple Intelligence e nova Siri mais inteligente. Mas, a única garantia real é a de que nenhuma funcionalidade Apple Intelligence estará disponível para quem comprar um iPhone 16 no dia do lançamento.
As funcionalidades Apple Intelligence só começarão a chegar aos clientes Apple em Outubro, com o iOS 18.1, e mesmo assim de forma bastante limitada, sem a nova Siri e outras funcionalidades AI avançada - que só irão chegando ao longo dos meses seguintes e esticando-se por 2025. Na realidade, há coisas que a Apple está a demonstrar e promover como sendo possíveis nos novos iPhones, que só se tornarão realidade seis meses(!) após o lançamento dos iPhone 16. E isto assumindo que não irá haver atrasos adicionais, nem considerando que poderão demorar ainda mais a ficar disponíveis em todas as regiões, e idiomas. Apesar disso, a Apple lança vídeos a promover essas capacidades.
This feature isn’t available for 6 months after the iPhone 16 goes on sale. https://t.co/8fa4EhixRj
— Mark Gurman (@markgurman) September 13, 2024
Até que ponto é que se deverá aceitar estar a promover produtos usando demonstrações de coisas que estão a meio ano (ou anos) de distância? A Tesla já levou com processos em cima devido à promessa do FSD - com a empresa a adoptar uma postura de que não pode ser culpabilizada por estar a fazer promessas "de boa fá", mesmo que isso já leve meia década de atraso e faça com que alguns dos clientes que pagaram pelo FSD já tenham vendido o seu Tesla, após anos de uso, sem que tenham podido usufruir de uma opção pela qual pagaram. Mais recentemente, e mais apropriado para este caso das capacidades AI dos smartphones, a Google também foi forçada a parar de promover um vídeo enganador das capacidades do Gemini AI.
Se hoje temos a Apple a promover capacidades que só chegarão aos iPhones daqui por seis meses (assumindo que sim), o que impede que no próximo ano a Apple (ou outros) comecem a "vender" o sonho de funcionalidades que chegarão apenas no ano seguinte, e depois a vários anos de distância? Seria de pensar que, depois do fiasco do carregador wireless AirPower, demonstrado num evento, adiado por anos, e finalmente apagado pela Apple como se nunca tivesse existido, a Apple tivesse aprendido a só promover coisas que estivessem efectivamente prontas. Veremos se estas promessas AI para o "futuro" não acabarão por resultar num lembrete desse episódio, quer por pressão dos consumidores, quer pelas autoridades encarregues de regular a publicidade enganosa.
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