2014/03/28

Porque motivo não se modernizam as caixas negras dos aviões?


O recente caso do voo desaparecido MH370 veio relembrar como é que se pode admitir que num mundo repleto de alta tecnologia, onde podemos saber por onde andam os nossos amigos olhando para um smartphone, seja possível "perder-se" um avião durante semanas. E vem também levantar a questão da modernidade (ou melhor dizendo, da falta dela) das caixas negras que seguem a bordo.

Já por aqui abordamos a questão de como funciona uma caixa negra, e do seu gravador circular que mantém o registo das últimas duas horas de conversa no cockpit. Um sistema que poderia ser incapaz de revelar o que se passou a bordo do MH370, que aparentemente terá permanecido em voo durante várias horas - fazendo com que estas gravações não contivessem a totalidade dos acontecimentos.

Há por isso quem defenda que as caixas negras deveriam ser modernizadas. Usando sistemas digitais, não há motívos técnicos para que uma caixa negra não grave o registo de toda a viagem, mesmo que dure dezenas de horas, e onde para além do áudio, poderia gravar também imagens em vídeo do cockpit e demais secções do avião - mostrando o que se teria passado a bordo. Da mesma forma, em vez das volumosas e pesadas caixas negras actuais, uma caixa negra mais moderna poderia ejectar-se do avião em caso de desastre iminente, tendo boias que lhe permitissem flutuar em caso de queda no mar, e facilitando a sua recuperação em vez de se arriscarem a permanecer no fundo do mar sem que sejam encontradas.

Há até quem vá mais longe e diga que estas informações poderiam/deveriam estar a ser transmitidas em tempo real para postos de comando em terra; e embora os custos associados fossem superiores... numa altura em que as linhas aéreas começam a vender o acesso à internet a bordo para os passegeiros... não deixará de fazer sentido. Afinal... que sentido faz que um utilizador possa partilhar com o mundo, num tweet, de que o seu voo está prestes a despenhar-se, mas não ser possível ter acesso aos dados do avião e conversas do piloto sobre o que se passou?

Esperemos que tudo isto possa ser revisto em breve... e se comece a tirar partido da mais recente tecnologia onde ela puder trazer vantagens inegáveis e contribuir para a redução do número de acidentes.

3 comentários:

  1. De facto, o mínimo de gravação do Cockpit Voice Recorder são 2h de gravação, sendo que isso está para ser alterado pelo menos na Europa pela EASA. No entanto a alteração será progressiva, sendo que os aviões que voam actualmente muito provavelmente não serão obrigados a seguir com essa nova norma. Já os Flight Data Recorder, que gravam os dados de voo (posição dos Ailerons, rumo, acelerações... etc) já gravam umas boas 25h.
    Relativamente às informações transmitidas em tempo de real. Já existe um protocolo de comunicação assim, com funções semelhantes - chamado ACARS. Envia mensagens em certo períodos de tempo definidos ou em caso de falhas nos sistemas da aeronave. Foi com este sistema que foi possível saber mais cedo as possíveis causas da queda do AF447, foram enviadas mensagens de reporte para a central de companhia indicando os erros da aeronave. No entanto, este sistema é pago, penso que apenas através de subscrição é que a companhia tem acesso a este "serviço". No caso específico do MH370, ao que parece a companhia apenas tinha subscrição para a monitorização dos motores.

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  2. "Caixas-negras" na "Cloud", porque não?

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  3. Independentemente da qualidade e volume de dados que podem ser armazenados nos sistemas de hoje em dia, depois de baralhados, sinais digitais não valem nada. Quero com isto dizer que é impossível recuperar informação digital fisicamente destruída. Caso não acontece nestes sistemas de gravação, que são totalmente físicos. Mesmo que a destruição seja massiva, desde que o material continue a existir, conseguimos recuperar grande parte da informação. Concordo que se passe a utilizar sistemas mais modernos em paralelo com estes. Caso os modernos fiquem intactos, usam-se, caso contrario, tem-se sempre a velhinha caixa negra.

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