2020/09/28

Óculos de realidade aumentada serão o fim da privacidade?


O Facebook apresentou recentemente os seus novos óculos de realidade virtual e uns óculos com sensores que antecipam a chegada dos óculos de realidade aumentada; mas com isso chega também a preocupação: será isso o fim da privacidade como a conhecemos?

Actualmente, as empresas tecnológicas já sabem imenso sobre cada utilizador, por onde anda, que páginas vê, que amigos têm, que interesses mais aprecia, etc. etc. Mas este desejo de saber mais coisas sobre os utilizadores não tem fim, e tendo em conta os abusos que têm sido feitos com esses dados, não será de surpreender que surjam preocupações válidas com o passo que se segue.

Com a próxima geração de óculos de realidade aumentada, estas empresas terão acesso a muita mais informações sobre cada utilizador, incluindo aquilo para onde está a olhar, e com a capacidade para manipular aquilo que está a ver.

Os óculos que o FB apresentou limitam-se a ser um percursos daquilo que se espera no futuro, integrando toda uma série de sensores mas ainda sem as lentes capazes de projectar informação sobreposta no mundo real. Mas é apenas uma questão de tempo até que a tecnologia o permita fazer; e nessa altura as preocupações com a câmara existente no Google Glass, e que contribuíram para que fosse um fiasco (a par das limitações de hardware, como autonomia reduzia), serão insignificantes.

Sabendo-se tudo o que estas empresa já inferem sobre os utilizadores (que chegam a ser os filmes que vimos tendo em conta a nossa localização e os horários dos cinemas), imagine-se a que ponto as coisas irão chegar quando souberem exactamente para tudo o que olhamos ao longo do dia!

Passaram o tempo na fila de trânsito a olhar mais alguns décimos de segundo para os carros da marca X? Não se admirem por começar a ver publicidade dessa marca apresentada directamente nos vossos olhos; e se detestarem verdadeiramente o clube Y, bastará uma pequena subscrição mensal para que os óculos se encarreguem de cobrir virtualmente todos os emblemas ou alusões ao dito, por conteúdos que considerem mais atractivos.

A Amazon já imagina um futuro onde a Alexa nos possa ouvir a tossir ou fungar, e automaticamente recomendar remédios (nesta época de Covid-19, já nem surpreenderia que também começasse a medir a temperatura das pessoas em casa).

E isto é algo que nos chega como uma ofensiva por todos os campos: os automóveis semi-autónomos já vêm carregados de câmaras; não será difícil antever um futuro onde todo o mundo esteja continuamente ser vigiados pelos milhões de veículos a circular nas estradas, com a agregação de toda essa informação a resultar numa réplica digital que imita tudo o que é feito no mundo real, e que poderá ser usado para monitorizar cidadãos, não só para efeitos das autoridades, mas também para avaliar as suas intenções e reacções a potenciais métodos de influenciação.

Por muitas vantagens que todas estas tecnologias tenham e possam funcionar em benefício de todos nós, é de importância crítica garantir, antes de mais, que todos esses dados não possam ser usados para fins completamente opostos a esse propósito.

6 comentários:

  1. Respostas
    1. Ehehehe estava a ler o artigo, e pensei, vou colocar 1984 nos comentários... cheguei tarde :)
      (já agora, acabei de encomendar o livro "NOS" de Zamyatin, que segundo os entendidos, influenciou o "Admiravel mundo novo" de Huxley e "1984" de Orwell)

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    2. Bela sugestāo essa obra do Zamyatin, encomendei agora mesmo tambem

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    3. O poder da internet é surpreendente.

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    4. Eh, eh.

      E já agora, mais um a agradecer a sugestão de leitura. Vai para a lista. Obrigado.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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