Os teclados físicos tornaram-se numa raridade entre os smartphones equipados com touchscreens, mas a TCL continua a apostar nesse aspecto marcante que continua a estar associado à marca BlackBerry. Veremos que tal isso resulta neste KEYOne.
O mercado mobile é extremamente volátil. Uma marca pode demorar anos até chegar ao topo, mas basta um conjunto de más decisões, ou ignorar o óbvio, para que caia vertiginosamente e ponha em risco a sua própria existência. A História recente mostrou-nos diversos exemplos (como a Nokia), mas também marcas como a HTC e a LG estão bastante distantes dos seus tempos áureos. No entanto, isso não significa que não haja hipóteses de recuperação. Assistimos nesta altura ao renascimento da Nokia pela mão da HMD, e a BlackBerry tenta um processo idêntico pelas mãos da TCL.
A BlackBerry, que muitas vezes criticou a falta de segurança do Android, acaba por ver neste SO mobile a sua tábua de salvação, ao licenciar a marca e o seu software à chinesa TCL, agora responsável por desenvolver, fabricar e comercializar os novos smartphones BlackBerry.
O BlackBerry KEYOne é resultado desta parceria e apresenta aquele que foi um dos pontos em destaque nos equipamentos da BlackBerry: um teclado físico. Numa altura em que o mercado mobile apresenta uma evolução notável a todos os níveis, poderá um teclado físico, em conjunto com um pacote de apps e actualizações de segurança mensais, ser argumentos suficientes para garantir o sucesso de um smartphone?& É precisamente isso que pretendemos levar à discussão, quando se espera pela chegada ao nosso mercado do sucessor deste KEYOne.
O BlackBerry KEYOne
O corpo é constituído por um bloco em alumínio anodizado, com uma espessura que já não é habitual hoje em dia (9.4mm). Ainda assim, o KEYOne acaba por ser um equipamento confortável em utilização graças à curvatura lateral do corpo, que se ajusta à mão do utilizador. A traseira em borracha é muito agradável ao toque e garante uma boa aderência, o que também começa a ser uma raridade entre os smarphones modernos (a não ser que se recorra a uma capa).
Estamos na presença de um smartphone robusto, com 149.1 x 72.4mm, algo que é norma nos equipamentos com um ecrã FullView. Neste caso do KEYOne, o teclado físico "rouba" muito espaço, levando a que o ecrã seja apenas de 4.5", embora mantenha uma resolução bastante aceitável de 1080x1620 pixels, em formato 3:2 e 434ppi.
O processador é um Snapdragon Snapdragon 625 octa-core a 2.0 GHz com núcleos Cortex-A53 e uma GPU Adreno 506. Tem 3GB de RAM e 32GB para armazenamento e uma simpática bateria de 3500mAh. A câmara traseira tem 12MP, abertura f/2.0, sensor de 1/2.3" e pixeis com 1.55µm.Na frente, temos uma câmara de 8 MP, abertura f/2.2, 1.12µm.
Tendo em conta que este smartphone tem ano e meio de mercado, o hardware está em linha com o que seria de esperar para um gama média.
Do lado direito temos o botão para ligar/desligar o smartphone, do lado oposto, o slot para os cartões, botões de volume e o botão de conveniência, a que voltaremos mais à frente. Em cima temos uma ficha de 3.5mm para os headphones, e em baixo a porta USB-C e a saída de som. De referir que o som também sai pela área do teclado, pelo que se taparem a saída inferior vão continuar a ouvir o som da coluna, o que poderá ser positivo ou negativo, dependendo das situações.
Na frente, em cima, a câmara frontal, coluna de som para chamadas, led de notificações e os sensores de proximidade e luz ambiente. Na traseira, o logótipo em posição central e na zona superior, a câmara de 12MP e o respectivo flash.
Em utilização
Este KEYOne fez-me recuar uns bons anos no tempo, altura em que o Windows Mobile dominava o sector mobile e a HTC (QTEK) era uma marca que ditava tendências.Um bom teclado era sinónimo de produtividade, será que hoje em dia ainda assim é?
O teclado físico, retroiluminado, é necessariamente o elemento em destaque, pois todo o smartphone funciona em função do mesmo, seja para escrever ou até mesmo navegar.
O sensor de impressões digitais, integrado na barra de espaços, funciona de forma exemplar. Poderia pensar-se que a sua reduzida área teria influência no processo de detecção da impressão, mas não é o caso. Muitas vezes fui levado a pensar que a barra de espaços seria um botão home, algo que efectivamente não acontece (seria no entanto uma opção que poderia ser explorada em determinados cenários, onde o teclado não está a ser utilizado para escrita).
A velocidade de escrita vai depender do tempo de utilização do equipamento. Inicialmente poderá ser inferior ao que conseguem num teclado virtual, mas com o tempo a eficiência irá aumentar. O facto de poderem contar com sugestões contribui decisivamente para uma escrita mais rápida. As três sugestões podem ser escolhidas através do toque na opção pretendida. Em alternativa, podemos simplesmente fazer um gesto de deslizar, de baixo para cima, na zona da palavra que desejamos escrever.
Este teclado está efectivamente cheio de truques, pois além da escrita por pressão das teclas, podemos utilizar o método de swipe, passando o dedo por cima das letras que constituem a palavra a escrever. É um método interessante, mas penso que menos eficiente que as teclas, ou um teclado virtual.
Quando no ecrã principal, podem utilizar as teclas para chamar aplicações, com cada um destas a dar a opção para dois atalhos: um com toque curto, outro com um toque mais longo. Os atalhos podem servir para chamar aplicações, enviar mensagens/emails, efectuar chamadas ou activar funcionalidades (entre muitas outras opções). Basicamente, podem ficar com atalhos para quase tudo o que se possa deseja... O mais difícil será lembrarem-se para que serve cada tecla.
Além do swipe, podem ainda utilizar o teclado para fazer scroll no browser ou em outras aplicações em que tal se proporcione. Ao segurar o smartphone só com uma mão, esta torna-se uma funcionalidade muito prática e por isso mesmo, interessante.
Os símbolos são a parte menos prática da escrita, com o utilizador a ter de recorrer à tecla ALT para depois poder escolher o símbolo pretendido. Para emojis, o melhor mesmo é activarem o teclado virtual, carregando na tecla SYM.
A juntar aos 52 atalhos das teclas temos ainda a tecla de conveniência, sendo que esta, ao contrário dos atalhos do teclado, funciona em qualquer ecrã. É possível definir mais três atalhos para apps ou funções, e ainda podem juntar mais três perfis de utilização - carro, reunião e casa - com atalhos apropriados para cada um destes cenários. Muita versatilidade de utilização, portanto.
Os testes de desempenho estão dentro do que se espera de um modelo de gama média, com excepção da velocidade de escrita, manifestamente baixa e totalmente inadequada para um equipamento que custa várias centenas de euros. Os atrasos nas animações do KEYOne são algo que também deixa muito a desejar num equipamento com este tipo de hardware. O problema é minimizado Utilizando outro launcher, e podemos sempre activar as opções de programador para configurar a velocidade das animações (ou desactivá-las).
Software
Em termos de software, a BlackBerry fez um excelente trabalho, disponibilizando um conjunto de aplicações que melhoram a experiência de utilização do equipamento. São tantas opções que, por si só davam direito a um artigo, algo que poderá vir a ser feito na review ao KEY2. Temos o HUB para gestão de notificações, o password Keeper para guardarem as vossas palavras passe num local protegido de olhares indiscretos, a tab de produtividade que concentra o calendário, email, tarefas, contactos e até widgets e o Notable para criarem notas com texto ou grafismos.Destaco apenas 3 aplicações, o DTEK para controlo da segurança do smartphone, o power center onde podem definir o perfil de utilização de cada aplicação (resolução, brilho do ecrã e fps) e o Privacy Shade que permite mostrar apenas uma reduzida faixa do ecrã, mantendo oculta a restante informação que esteja a ser consultada.
Como referência extra, a aplicação Locker que permite proteger áreas do armazenamento, ficando acessíveis apenas através desta app e utilizando o código definido para o efeito ou impressão digital. Com o gestor de ficheiros que acompanha o smartphone, ou com o velhinho Total Commander, a pasta protegida permanece oculta.
Câmara
O hardware deste KEYOne é claramente orientado para um gama média e as câmaras são exemplo disso mesmo, com uma câmara traseira de 12MP e abertura f/2.0, e frontal de 8MP com abertura f/2.2.
A interface é constituída por três zonas principais. Em cima, flash, temporizador, formato da imagem, HDR e definições. À esquerda, as definições do modo Pro, quando activado. Em baixo, acesso às imagens, mudança de câmara, botão de disparo, modo de captura (foto, panorâmica, vídeo, câmara lenta e scanner) e filtros de imagem. Há ainda uma outra zona, acima da inferior, onde aparece a informação relativa à função que se estiver a utilizar/configurar. No caso da imagem em cima, é a distância de focagem.
Confesso que não esperava grandes resultados deste conjunto, mas as imagens obtidas acabaram por surpreender, como poderão verificar no álbum em baixo.
Em zonas bem iluminadas, a definição é bastante boa e não há distorção na reprodução das cores. Em zonas com pouca luz, há que ajustar o brilho, por forma a conseguir um bom resultado.
Apreciação final
Este Blackberry KEYOne é aquilo a que se pode chamar um bom recomeço, com a dupla BlackBerry/TCL a conseguirem colocar no mercado um smartphone interessante, bem pensado e com um público alvo muito bem definido.
O elevado preço pedido por este smartphone (acima dos 600€ no nosso mercado, mas podendo ser encontrado a preço substancialmente reduzido mesmo aqui ao lado) não deixa margem para dúvidas, a TCL quer focar-se num nicho de mercado. Quem optar por um smartphone como este KEYOne vai fazê-lo essencialmente por disponibilizar o teclado físico que se tornou numa raridade nesta era dos touchscreens.
Não está em causa se um teclado virtual poderá oferecer a mesma eficiência de escrita, ou até melhor, que a do teclado do KEYOne permite. O que se pretende efectivamente é o contacto com a tecla e todo o manancial de funcionalidades associadas ao teclado, ao que se junta um conjunto muitíssimo interessante de aplicações, pensadas para melhorar a produtividade do utilizador.
O KEYOne é por isso um smartphone muito interessante, mas que não está isento de alguns problemas, como a lentidão das animações a prejudicar a experiência de utilização. A gestão dos processos também não é a mais eficiente, com o smartphone a ficar por vezes lento, algo que se revolve facilmente forçando o encerramento das aplicações em segundo plano.
As actualizações de segurança mensais têm chegada ao KEYOne, mas a actualização do Android só recentemente começou a ser distribuída no Canadá, com a Europa a ter de esperar mais algumas semanas. Convém lembrar que a Google já apresentou o Android 9 Pie e a Essential já actualizou o seu Essential Phone, enquanto no KEYOne temos que nos contentar com o Android 8.
Ainda assim, pelas razões acima apresentadas, este BlackBerry KEYOne fica-se por um honroso QUENTE, havendo por isso a expectativa de verificar se o KEY2 consegue melhorar os pontos menos positivos deste primeiro modelo. Há no entanto que ter em conta que esta avaliação tem em conta a utilidade do teclado e das aplicações. Quem não valorizar estes dois aspectos deverá naturalmente optar por outros smartphones.
BlackBerry KEYOne
Quente
Prós
- Teclado físico
- Aplicações BlackBerry
- Qualidade de construção
Contras
- Lentidão nas animações
- Velocidade de escrita do armazenamento
- Gestão de apps em segundo plano
- Ainda à espera do Android 8 na Europa
BlackBerry KEYOne
Aberto até de Madrugada
Quente (4/5)
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