A procura por vida em Marte sofreu um grande revés, com uma equipa de cientistas a descobrir que as imagens que supostamente revelavam água salgada em estado líquido em Marte, são afinal resultantes de um erro no processamento dos dados, não existindo na realidade.
No final do século XVIII, Giovanni Schiaparelli e Percival Lowell foram responsáveis por lançar a ideia de que existiria uma civilização inteligente em Marte, ao pensarem ver uma complexa rede de "canais" no planeta através dos seus telescópios - canais que posteriormente foram cientificamente demonstrados como não existindo, na sua maioria, e que os restantes eram apenas estruturas geológicas naturais. Refutação que não evitou que a ideia dos "marcianos" ficasse implantada no imaginário público e que os escritores de ficção científica criassem centenas ou milhares de histórias a seu propósito. Agora, temos novamente algo que foi resultante de um erro de observação...
O CRISM (Compact Reconnaissance Imaging Spectrometer for Mars) a bordo do Mars Reconnaissance Orbiter, é um espectrómetro que é utilizado para tentar determinar a composição do solo marciano. Foi através da informação obtida por este sistema que os cientistas pensavam ter validado que umas estranhas manchas escuras que pareciam "escorrer" em Marte, fossem água extremamente salgada, que se conseguisse manter em estado líquido mesmo em temperaturas negativas. Infelizmente... veio agora descobrir-se que não é o caso.
[as estrias escuras não são água salgada como se pensava]
Depois do CRISM ter começado a mostrar a suposta presença destes percloratos em dose excessiva, até em locais onde não faria sentido existirem, uma equipa de cientistas foi analisar os dados mais cuidadosamente, e descobriu que afinal estes percloratos não existiam nos dados "raw", mas que eram resultado de um filtro aplicado às imagens para lidar com transições bruscas nos dados. Um filtro que infelizmente tinha como efeito secundário, em determinadas circunstâncias, criar valores que coincidiam precisamente com o sinal de existência de percloratos.
De forma simplista, imaginem que aplicam um efeito de "esbater" uma imagem com uma grelha em xadrez com preto e branco puro, que resulta numa série de "cinzentos" nas transições das cores, e depois pensarem que o tabuleiro de xadrez tem realmente margens cinzentas em vez de ser unicamente preto e branco.
Isto não deita por terra a esperança de se encontrar organismos microscópios em Marte, já que esses percloratos também foram identificados pelo Curiosity e Mars Lander; a diferença é que não existem nas quantidades volumosas que os dados do CRISM estavam a fazer crer.
... Este episódio não deixa de relembrar a necessidade de ter muito cuidado com as supostas descobertas que se pensam fazer; e por outro lado pode também ser visto como um exemplo de que, por muita tecnologia que se possa enviar para Marte, nada se comparará a ter cientistas no terreno que possam ver as coisas com os seus próprios olhos.
P.S. Entretanto, não se esqueçam de acompanhar a chegada da Mars InSight a Marte, em directo amanhã. :)
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